Paternidade

Nunca havia lhe passado pela cabeça que seu filho não era sangue do seu sangue; e no entanto, isso ficara demonstrado com um simples exame de DNA.

- Elliot é um Símile - haviam lhe dito no laboratório.

Os Símiles não eram humanos, bem o sabia, mas apreciavam a companhia deles. Eram adaptáveis. Podiam crescer e aprender tudo o que um ser humano era capaz; principalmente, as coisas boas. Os Símiles eram inerentemente bons.

- Mas como pode ser isso? Eu tive um relacionamento com a mãe de Elliot, Lisette; ela engravidou, e aí, nasceu o Elliot - tentou argumentar.

- Elliot é filho de Lisette. E apenas de Lisette - assegurou-lhe o técnico do laboratório. - O DNA dele foi alterado para que reproduzisse algumas das suas características físicas. As sardas, o cabelo ruivo, os olhos verdes...

- Lisette fez isso? Como? - Questionou, estupefato.

- Lisette era uma Símile - afirmou categoricamente o técnico. - Embora se pareçam conosco externamente e até mesmo na distribuição interna dos órgãos, não são humanos; tampouco geram híbridos. Como se reproduzem entre eles, e se precisam disso, ainda é uma incógnita.

Abanou a cabeça, ainda processando a informação que recebera.

- Você deve ser alguém especial para que uma Símile tenha decidido lhe conceder um filho - prosseguiu o técnico. - Normalmente, eles se limitam a conviver conosco nos ajudar; raramente criam um novo Símile em retribuição. Sabem como os humanos são sensíveis à ideia de que poderiam ser... substituídos... por algo melhor.

- Elliot é bom - declarou simplesmente.

Não tinha nenhum problema em imaginar a Humanidade sendo substituída por pessoas tão boas quanto Elliot e a mãe, Lisette; a sua amada Lisette que se fora, tão cedo. Ela decerto não queria que ele ficasse sozinho.

Fosse ou não do seu sangue, Elliot era seu filho.

- [01-09-2020]