A MULHER DO CAFEZINHO
A MULHER DO CAFEZINHO
Romão, com sua mesa entulhada e papéis e uma frenética atividade telefônica, nem reparou na moça parada à porta de sua sala. Em uma passada de olhos, sentiu aquele vulto, e fixou a vista. Perguntou-se o que aquela mulher maravilhosa, vestindo uma impecável roupa de trabalho, que nunca vira no escritório, desejava alguma coisa.
-Dr. Romão, eu sou Maria. Minha encarregada mandou ficar até mais tarde para lhe atender.
-Como atender? Respondeu Romão.
-Dr. Romão, eu cuido do serviço interno da cozinha da empresa e devido ao intenso trabalho que a equipe está desenvolvendo para recepcionar os indianos, permanecerei em horário extraordinário para servir cafezinhos e lanches.
-Bem, Maria traga-me um café e uns biscoitos salgados. Caso precise de algo mais, ligo no ramal da copa. Ah, e água sem gelo, por favor.
Maria virou as costas, e Romão ficou olhando aquela criatura celestial se afastar com um andar elegante e natural, um corpo maravilhoso. Balançou a cabeça para voltar ao planeta Terra e afastar pensamentos libidinosos. Ficou se perguntando como não havia notado que uma diva como Maria trabalhava na empresa da qual era superintendente.
Maria, voltando à copa, acionou a máquina automática e italiana que só usava café Kona Hawaii, colocou uns biscoitos Kambly em um prato especial, uma garrafa de água Voss, um copo de cristal tcheco. O Kona Hawaii é café um cultivado no solo vulcânico do Havaí, Kambly é suíço e considerado o melhor biscoito do mundo, e Voss é água do sul da Noruega. Embora vinda de família abastada, Maria aceitara aquela atividade como complementação da mesada dos pais enquanto cursava Engenharia Nuclear. Era seu primeiro dia de trabalho em uma vaga temporária. Voltou à sala, colocou a bandeja sobre a mesinha ao lado do Dr. Romão e saiu. Pela segunda vez, Romão ficou ali olhando aquela bela mulher se afastar e constatou que não havia olhado direito para Maria. Ela era muito mais perfeita do que avaliara na primeira vez. Uma verdadeira escultura, de corpo e rosto. Conseguiu afastar os maus pensamentos, se concentrou no trabalho. Dez e trinta da noite concluiu as atividades, entrou em sua Mercedes Benz e voltou para casa. Pensando em Maria.
Dia seguinte, solicitou lanche, biscoitos, suco de laranja. Café, então, várias vezes. Maria, muito atenciosa e elegante, conservava a postura em cada visita à sala do chefe. Uns dias passaram-se e Romão, já explodindo de atração por Maria, puxava conversa com a moça. Até um dia que Maria pediu licença para sair mais cedo, pois devia passar na faculdade antes das onze. Na hora, Romão se prontificou a deixá-la na Faculdade, pois justamente aquela noite também devia sair mais cedo. Coincidências da vida.
-Maria, aguardo você no estacionamento as dez, está bom?
-Combinado. Estarei, lá, Dr. Romão.
Chegado ao estacionamento no horário combinado, nova surpresa. Nem reconheceu Maria de cabelo abaixo dos ombros, soltos, com caimento perfeito. Emoldurando a boca um batom vermelho instigante, e olhos com sombras claras nos cantos e pálpebras pouco mais escuras sob sobrancelhas cuidadosamente esculpidas, vestindo umas calças jeans rasgadinha em locais sugestivos, de bom gosto, e uma blusa preta com um dos ombros de fora. Era a imagem da formosura para Romão. Certo de que se aproximava de mais uma de suas conquistas, o superintendente guiou sua Mercedes devagar e, muito falante, foi se auto-elogiando sem parar. Reclamou do casamento, do trabalho e comentou muito a beleza de Maria. Próximo ao destino, não havia percebido nenhum sinal por parte da moça de aceitação ou rejeito por parte da bela Maria. Estacionou na faculdade, olhou a hora e, quando Maria fez menção de desembarcar para esperá-la. Maria disse que não havia necessidade, mas ante a insistência de Romão concordou, avisando que procuraria não demorar. Como sempre acontece, após quarenta minutos vem Maria com uma colega da faculdade, tão linda ou mais que ela. Maria, muito à vontade foi conversando com seu chefe, sua amiga sentou no banco detrás. As duas moravam fora do trajeto de Romão em um mesmo apartamento. Deixou as duas moças em casa.
Dias seguinte, na empresa, Romão pediu a Maria que lhe trouxesse café. Na sala, Maria serviu o chefe como de costume. Já se sentindo amigo da moça, Romão quis saber mais sobre ela. Após várias perguntas, comentou:
-Aquela moça é muito bonita, como você.
-Muito obrigado Dr. Romão.
- Vocês moram juntas?
-Sim, moramos.
-São parentes?
-Sim, ela é minha esposa.
Romão perdeu o gosto de tomar lanche até a visita dos indianos.
Maria chegou a casa, encontrou Silmara pronta para sair.
-Amiga, como você está linda.
-Maria, se arrume logo que os meninos estão chegando. Hoje, sexta feira, é dia de balada e, como sempre, passar a noite em motel.
Paulo Miorim 30/08/2020