Uma história de amor
Rosa Cândida era bonita, culta, rica e fazia parte da aristocracia paulistana. Também tocava piano, falava fluentemente quatro idiomas e como poucas pessoas, teve o grande privilégio de viajar pelo mundo. Conheceu Roma, Paris, Londres, Nova Iorque, Luanda e Buenos Aires.
Estudava em um prestigiada Universidade centenária, frequentada somente pela elite do país. A vida seguia normal, até que apareceu um aluno nos corredores da instituição e que mexeu com o seu coração. Ele chamava Eugênio era moreno, alto, bonito e carismático, e era pobre. Mas, com muito esmero cursava o último ano do curso de Farmácia, pois ganhou um bolsa de estudo de uma Fundação.
Muitos não acreditam em amor à primeira vista, mas foi o que aconteceu entre eles e o amor cresceu em largura, altura, dimensão e profundidade. Mas, veio a oposição da família dela, que dizia que Eugênio, tinha três pês que a família odiava: “Pobre, preto e protestante”. Eis o resumo da ópera, Rosa Cândida foi desprezada pela família, perdeu uma faraônica herança, mas ficou com seu grande amor, para o resto da vida.
Eles foram viver discretamente em uma pequena cidade do interior chamada Resplendor, que fica a 500 quilômetros da capital, isso aconteceu no final dos anos 50.
Ele como excelente farmacêutico, arrumou trabalho na única farmácia da cidade e era um verdadeiro alquimista e criou vários remédios que salvou muita gente naquela cidade. Sua fama correu por muitas cidades circunvizinhas, devido seu amor por todas as pessoas marginalizadas pelo sistema. Eugênio para muitos era um gênio, para outros um anjo em forma de gente.
Rosa Cândida, dedicou sua vida aos pobres, negros, idosos, crianças da comunidade por mais de sessenta anos. Eugênio, investiu todo o seu dinheiro, tempo e herança em pessoas anônimas e em várias obras sociais.
Eles não tiveram filhos, mais foram pais de muitos órfãos naquela cidade esquecida pelo tempo e pelos governantes. Ele incentivou e ajudou muitos meninos pobres da periferia irem para escola. Esses meninos hoje são médicos, engenheiros, professores e empresários. Inclusive um desses meninos que prefere ficar no anonimato, chegou a ser senador, e fez muito pela nação.
“A vida passa como um conto ligeiro”, e a vida passou também para Eugênio e Rosa Cândida, envelheceram juntos, sempre meigos e amorosos. Ela perdeu a visão, mas nunca perdeu o brilho nos olhos e mesmo invisual, ainda enxergava à necessidade daqueles a quem o amou a vida inteira.
Numa bela manhã de setembro, Rosa Cândida adormeceu e certamente acordou nos braços do Pai. Seu velório foi o mais marcante daquelas paragens, a cidade inteira parou para lhe prestar uma última homenagem. Eugênio permaneceu serenamente, o tempo todo ao lado do esquife de sua amada. No final do dia já bem cansado, tomou uma xícara de chá e comeu umas bolachas de nata e voltou a ficar lado da amada, e balbuciava baixinho: “Que não conseguiria viver longe de candura, de sua doçura”. Ele num último gesto, passou sua mão pelo lábio de Cândida, respirou bem fundo e adormeceu serenamente.
Na hora do sepultamento todos choravam copiosamente, até o céu chorou, através daquela mansa chuvinha que caia calidamente sobre todos e os caixões baixaram silenciosamente no meio de mil aplausos, e houve grande comoção entre uma chuva de rosas vermelhas, a predileta dela.
Eugênio e Rosa Cândida, deixaram escrito uma “história de amor”, que foi cunhada com dedicação e ardor. Em Resplendor há uma estátua na praça central, em homenagem aquele casal de anjos, que ajudou a mudar os destinos de muita gente. Dizem, que um escritor da cidade, futuramente vai editar um livro contando em detalhes os feitos deste casal cujo lema era:
Na vida aprendi que a vida, nenhuma beleza tem, se não for vida, vivida. Vivida em prol de alguém”.