O amor de Dalva e Francisco-6
Dalva andava meio tristonha naqueles dias, Dona Idalina percebendo que a filha andava mais calada do que de costume e mais dentro de casa, quis saber a razão:
- Dalva, minha filha, você está sentindo alguma coisa? Tenho lhe notado diferente ultimamente.
- Nada não, mãe, deve ser o frio. Essa cidade maluca tem dias que esfria, tem dias que esquenta. - Respondeu jogando a culpa no clima.
Dona Idalina fingiu aceitar a desculpa e apenas respondeu:
- Tem certeza? Está bem então, mas não me esconda nada - disse beijando a carinhosamente a face da filha.
Enquanto ia para a cozinha, ainda deu uma olhada de soslaio para Dalva, "Cidade maluca... sei não. Essa menina nasceu aqui e tá reclamando do clima?", estava ela ainda a pensar quando o Seu Heitor, marido dela, chegou, sentou-se e começou a tirar os sapatos, enquanto pedia um café:
- Amor, tem café aí? Lá fora parece que vai cair gelo hoje.
- Tem sim. Vou pegar pra você. Aliás, você e a Dalva estão reclamando do clima hoje. Combinaram, foi?
- Cadê ela?
- Está lá no quarto lendo A Escrava Isaura.
- Melhor assim. Melhor assim. Vou dar um beijo nela e tomar um banho depois.
- E o café?
- Depois do banho eu tomo - disse afastando-se para ver a filha.
Dona Idalina era bem prendada na cozinha, como a maioria das mulheres de sua época, e fazia bolos como ninguém. Após o banho, o Seu Heitor chamou Dalva para tomar café com ele e a mãe dela. Dalva não estava afim, mas levantou-se e foi à cozinha onde um bolo de fubá quentinho estava na mesa esperando por eles, naquela tarde fria em que uma garoa insistia em deixar tudo mais melancólico, pelo menos, para quem estava a sofrer de saudade.
A família sentou-se e falou sobre vários assuntos e o pai de Dalva quis saber sobre o livro que ela estava lendo, ela falou um pouco sobre o que estava achando, mas seus pensamentos lhe sequestravam para os momentos que tivera com Francisco. Foram tão poucos, mas tão importantes para ela. Ela estava a contar os dias que faltavam para abraçá-lo outra vez. Ainda faltavam dois longos dias para ver seu amado novamente.
Na manhã seguinte, como de hábito Dalva foi à padaria, meio a contragosto, comprar os pães.
Enquanto estava pagando os pães, ouviu às suas costas uma voz que já se tornara familiar. Seu coração estremeceu e num impulso virou-se para trás e lá estava Francisco adentrando. Quando a viu, ele marchou direto para o caixa, beijando-lhe o rosto rapidamente. Janete ficou ali parada a olhar para os dois, quase achando graça da cena.
Percebendo isso Dalva, despediu-se da amiga, deixando de propósito a chave sobre o caixa. Francisco esperou que ela chegasse à porta e chamou por ela, mostrando a chave e dizendo que ela tinha esquecido, ao passo que se dirigia para entregar a chave, que na verdade era um pretexto para conversarem rapidamente.
- Então, você veio? Disse Dalva, ruborizada.
- Adiantei os dias, afinal, um homem apaixonado acelera os seus passos na direção da mulher amada. Meu amor, precisamos nos encontrar o quanto antes.
Pedro, como sempre foi se aproximando e Dalva interrompeu a conversa.
- Ah! Obrigada pela chave, teria que voltar aqui, se não fosse você vê-la antes. Tchau!
Pedro ali, parado, fitou o amigo nos olhos, de modo bem sério.
Dessa vez Janete percebeu e se perguntou porque o Pedro não gostava da sua amiga Dalva.