252- Núpcias
Esqueceram-se de mandar ligar a luz. Conduziu-a pela mão até ao quarto que lhes preparam no primeiro andar e ambos se despiram a uma claridade ténue que vinha da rua. – Estavas tão linda de branco! Estás tão linda agora sem o vestido! E ela, sem que ele pudesse ver, corou violentamente. Na verdade o que ele via era uma sombra mal definida, pensou mais tranquila e retribuiu a gentileza. – Tu também ficas bem de fato escuro e cravo branco ao peito. – E nu? Quis saber. A seguir, calados, deitaram-se. Algum tempo depois, ele leu o bordado do lençol, seguiu o desenho com os dedos e chegou ao coração de crivo. Escolheste este jogo de linho bordado mas só amanhã o veremos. Ela não disse nada mas tocou-o. Esperaram tanto por esta intimidade que queriam perpetuar o momento. E ele passeou os dedos pela testa, pela boca, pelo queixo e ia garantindo ser tudo de uma beleza única. Adormeceram muito tarde e acordaram quando o sol, devassando o espaço, mostrou a cama larga, a colcha lisa, a nudez abandonada dos corpos. Olharam-se e ficaram mudos a sentir a imagem um do outro, a viver-se em serena harmonia. Depois, ela de roupão e ele em tronco nu, acenderam o fogão e fizeram café. Comeram a fatia do bolo e riram-se. Pareciam felizes, mas ele quis ter a certeza e perguntou: - E hoje, casar-te-ias comigo? – Sem dúvida, Ana respondeu.