Minha história de nós dois

Para mim tudo terminou em Rincón de Romos em 1972 quando fui abandonado no altar por Juana Madero. As festividades ocorreram normalmente para surpresa dos convidados. O jantar já estava pago.

Quatro dias depois, uma terça-feira, virei as costas para essa cidade definitivamente para fugir da humilhação da qual não sei o motivo.

Trabalho e resido na turística e pacata Santa Maria del Oro ocupando a função de delegado regional e, por dever de ofício, coube-me a prisão e instauração de inquérito policial por homicídio praticado por uma mulher contra seu marido em uma pequena localidade a 48 km daqui.

Ela relatou que naquela noite ambos consumiram muita cocaína. Discutiram e ao ouvir que ela era uma prostituta barata, irresponsável e incapaz até de parir, apanhou uma velha e pequena pistola e disparou três, quatro vezes, mas somente um disparo o atingiu.

21 anos a transformaram sem piedade. Obesa e envelhecida. Mas o verde de seu olhar permanece sedutor. E residindo tão perto...

Estranhei, sem fazer nenhum comentário nesse sentido, que durante as horas que ficamos juntos, embora estivesse acompanhado do escrivão, Juana não fez qualquer menção de me reconhecer. E não envelheci na mesma velocidade.

Mostrei a confissão ao seu advogado e revelei o que tinha subtraído do depoimento e acrescentando que o marido havia lhe agredido com tapas no rosto e que Juana havia disparado uma única vez após ter tomado a arma do marido. Versão que ela deveria manter em juízo. Tudo para atenuar sua pena de 25 anos para cinco, quem sabe seis anos o que lhe deixou surpreso, já que isso não é comum nessa profissão.

Um funcionário de meu departamento me avisou que Juana quer falar comigo, agradecer, coisas assim. Não atendi.

Semana que vem tem início minhas férias. Vou pedir transferência. A aposentadoria também está próxima. Quem sabe até volte para minha Rincón. Afinal, mamãe ainda reside lá.

Diego de Avelar Pérez

Santa Maria del Oro - Jalisco (México). Março de 1993.