Mardin, a cigana das flores

Essa história foi inventada, mas bem que poderia ter acontecido de verdade. As pessoas são de verdade. As coisas de verdade. Porque as histórias não podem ser?

Pelo sim, pelo não, a história da Cigana Mardin eu vou contar, então.

Mardin, Mardin

Era uma cigana que gostava

De cuidar do seu jardim

Mardin, Mardin

Era uma cigana perfumada

Tinha cheiro de jasmim.

Todo mundo sabe e quem não sabe vai saber, que os ciganos não moram num lugar só. Vivem pelo mundo.

E Mardin mesmo sem ter paradeiro plantava um jardim de flores onde quer que ela fosse.

Carregava no bolso da sua saia florida, sementes de todo tipo de flor que havia.

Onde ia, jogava essas sementes. E quando ela via, já estavam todas em botão. Depois recebiam as visitas de abelhas, borboletas e beija-flores. E as flores apareciam. Todas lindas, perfumadas, coloridas. Enfeitando o jardim. O caminho e a vida de Mardin.

Quando tinha de mudar de lugar para morar, Mardin deixava o jardim lá. De presente. Pra quem ali passasse.

Um dia, o pai de Mardin veio conversar com ela:

"- Minha filha, você já cresceu. Está no tempo de ter um marido. Hoje mesmo ele vem aqui pra acertar o casamento de vocês".

Mardin não gostou muito da idéia porque achava que ainda era cedo pra se casar. Mas ela não pode reclamar porque é assim que os ciganos casam. Se arranjando.

Mardin então falou pro seu pai: "- Tudo bem meu pai! Pode trazer ele pra eu conhecer".

"- Não, Mardin. Ele já é seu marido. Vocês vão se conhecendo com o tempo".

Mardin não gostou muito da ideia. Tomou coragem e falou para seu pai:

"- Papai. Vamos fazer assim. O Senhor me apresenta ele e eu vou pedir um favor a ele. Se ele nos fizer esse favor, eu me caso com ele".

O pai de Mardin era um homem sério. Quase bravo. Mas soltou um riso que Mardin riu junto com ele.

"- Está bem, Mardin! Hoje a noite ele virá aqui!".

Quando a noite chegou, apareceu na tenda de Mardin o tal cigano, seu futuro marido.

Se cumprimentaram.

Mardin foi logo começando a falar:

"- Então esse é o meu marido? ".

"- Já está tudo pronto para o nosso casamento", falou o rapaz.

"- Hum! Apressadinho, você.".

E todo mundo riu.

Mardin olhou para o pai e desafiou o marido:

"- Antes de casar comigo, eu preciso que você me faça um favor".

"- Me peça o favor que quiseres".

Mardin colocou a mão no bolso da sua saia florida.

"- Leve essas sementes com você. Plante elas. Cuide bem delas com todo o seu amor. E quando nascerem as flores, volte aqui e casaremos".

O pai de Mardin ficou nervoso.

"- Estás louca, minha filha?".

"- Você disse que eu podia, meu pai. Nossa palavra vale ouro. Não pode voltar atrás. Quem consegue cuidar de um casamento, consegue cuidar dessas simples sementes".

E assim ficou combinado.

O rapaz voltou pra sua tenda. E foram todos dormir.

O tempo passou.

Mardin continuava sua tarefa de cultivar jardins.

Plantava e cuidava das sementes como nenhuma outra cigana e ficava pensando no seu marido e se ele estava fazendo o mesmo.

Alguns meses depois, ouviu-se palmas no lado de fora da tenda.

Era o marido de Mardin. Estava meio chateado.

O pai de Mardin o cumprimentou e conversaram entre eles. Sem ninguém os escutar. Mardin tentava ouvir, afinal eram seu pai e seu marido que conversavam. Vai que falavam mal dela?

O pai então olhou para Mardin, abraçou o rapaz e deixou ele ir embora.

Mardin correu até eles.

"- O que está havendo? ".

"- Você venceu! Ele veio dizer que não conseguiu cuidar das sementes que você deu a ele. Não nasceu nada! E você não merece um marido fracassado".

"- Não! Muito pelo contrário. É com ele que vou me casar. Porque as sementes que eu dei a ele não davam flor nenhuma. Estavam falhadas. E a sinceridade é a flor mais bonita que brotou no coração de meu marido. Ele foi fiel à nós. Deu a prova de que podemos confiar nele e seremos muito felizes".

Mardin então casou com o cigano.

Não sei se foram felizes para sempre.

Mas toda vez que você ver um jardim e não souber quem o plantou, lembre-se sempre dessa história de Mardin, a cigana das flores. Do coração cheio de amores.

Mardin, Mardin

Era uma cigana que acreditava

Que o coração é um jardim

Mardin, Mardin

Sua história foi contada

E chegou ao fim.