239 A Promessa
Um dia puxou-a por um braço e ficou a olhá-la intensamente. Coraram muito os dois, afoguearam-se. Depois disso evitavam-se não fosse a avó ter razão. Ela ainda não fizera treze anos e ele rondava os quinze. Nenhum dos dois sabia nada da vida excepto que tinham vontades indefinidas e gostos novos. Voltaram, a ver-se na Romaria dois anos depois. Ele estava mais homem e tinha bigode e a ela cresceram-lhe os seios e usava os primeiros sapatos de meio salto. Dançaram mudos. Tudo o que conversaram foi de pele. Ele apertava-a e ela afastava-se a contragosto. Sentia-lhe a coxa musculada, a mão suada, os passos trocados. Paravam para se acertarem e quando parecia já fluir a harmonia entre os sons da música e os seus corpos a Banda parou. Puxou-a a madrinha para as rifas e a mãe fez parar todos em conversa sem graça com os vizinhos. Depois nunca mais ele apareceu. Vieram outra vez os Santos, o Natal e a Páscoa. Os que trabalhavam em França enchiam as ruas da terra, ruidosos , alegres e já esquecidos de antigas dificuldades. Uns construíram casas enormes de mau gosto e voltavam sempre, ele nunca mais veio. Um dia alguém lhe disse que casara e já tinha filhos, que a mulher era de Viana, que moravam por lá. Desceu-lhe a noite e emudeceu. Abalada ainda com a notícia, trancada no seu quarto, chorou. – Há mais homens disse-lhe a mãe. Depois, nunca vocês se falaram, ele não te prometeu nada nem nunca disse que viria. - Ele não disse, é certo, mas tudo nele me dizia e eu esperei.