NA CURVA DO RIO
Todo sábado pela manhã, Sofia caminhava até a beira do rio encontrar-se com seu amor. Ao se encontrarem passeavam de mãos dadas feito um casal apaixonado. Olhavam barcos saindo e chegando ao Cais, transeuntes caminhando de um lugar para outro, vez ou outra, percebiam Andorinhas-do-rio a meditar. Permaneciam nas imediações até o por do sol, pois ambos se encantavam com tal beleza, intensificando uma paixão arrebatadora. Ao chegarem em casa, acendiam a lareira e entre taças de vinho e beijos calientes, no grande tapete vermelho se perdiam em luxúrias, seus corpos exauridos descansavam até o amanhecer.
Esta rotina acontecia desde quando Sofia conhecera Sebastian numa noite em que ambos se encontravam naquele local, cada qual, colocando seus pensamentos em dia diante de fatalidades que as vezes acontecem sem mesmo percebermos sua origem. Daquele encontro casual surgira um interesse mútuo de continuarem a se encontrar nos finais de semana, pois Sebastian trabalhava na cidade vizinha, distante 200 quilômetros. A cada encontro a paixão aumentava, os dias ficavam longos e a espera insuportável, mas ao se encontrarem tudo se tornava mágico, cada beijo, cada abraço, cada chamego faziam com que esquecessem todo o tempo de espera. Estavam perdidamente apaixonados projetando num futuro próximo uma vida a dois, onde passariam todos os dias de suas vidas juntos se amando eternamente.
Numa quinta-feira por volta das 21:00hs, Sebastian liga para Sofia avisando que no dia seguinte estaria na sua casa pela manhã, pois recebera um dia de folga, motivo para ficarem mais um dia juntos a fim de vivenciarem momentos especiais. Ela ficara feliz com a notícia prometendo preparar-se especialmente para aquela noite deixando-o eufórico a cada sussurro vindo de sua amada. Finda a conversa ao telefone, Sofia excitadíssima se dirige ao seu closet com o intuito de escolher um vestido como também uma lingerie especial para aquela manhã, pois na hora marcada ela estaria no mesmo local de sempre esperar o seu amado.
Em comum acordo definiram que o lugar do primeiro encontro seria o ponto de partida para os demais encontros, sendo assim na manhã seguinte conforme o combinado, Sofia se dirige ao local para receber Sebastian com muitos beijos e claro com sua roupa sensual escolhida exaustivamente na noite anterior. Passara-se uma hora do tempo determinado e Sebastian não aparecera deixando Sofia cada vez mais apreensiva. Tentara ligar para o seu celular, ouvia a mensagem fora de área, “mas aqui sempre teve sinal de celular, que coisa estranha” matutava ela sem nada entender. Algum tempo depois decide voltar para casa imaginando que Sebastian desta vez, resolvera fazer uma bela surpresa indo direto à sua casa. “Mas como ele faria isto, me deixando apreensiva, sabendo que eu iria para a beira do rio esperá-lo conforme combinado” indagava ela, num misto de alegria e angústia.
No meio do caminho ouvira a notícia de um acidente fatal na curva do rio, onde uma motocicleta em alta velocidade se perdera indo ribanceira abaixo, sendo que seu condutor tivera morte instantânea devido a gravidade do acidente. Sofia diante da inesperada ausência de Sebastian, procura saber a cor da tal motocicleta acidentada afim de comparar alguns dados, pois aquela notícia provocara certa suspeita, porém se recusava aceitar tal prognóstico. Alminda, dona da mercearia onde ela costumava fazer suas compras confirma a cor da motocicleta, idêntica a do Sebastian afirmando ter acontecido o acidente por volta de quatro horas atrás, tempo suficiente para os dois já estarem em sua casa curtindo seu amor. O pânico toma conta de Sofia, quando ela lembra que justamente naquele local, na curva rio, não há sinal de celular por isto faz sentido de suas ligações não se completarem. Nervosa, segue para a Delegacia a fim de colher mais informações onde se confirma tratar-se de Sebastian o acidentado deixando-a arrasada.
O tempo passara, Sofia nunca esquecera seu grande amor que conhecera na beira do rio, onde todos os sábados ela o esperava e torrentes noites de amor se consumiam defronte a lareira entre taças de vinho no grande tapete vermelho da sala. Hoje Sofia não frequenta mais a beira do rio a espera do seu amor, mas visita constantemente a curva do rio na esperança de ouvir a sua voz ou talvez dar seu último adeus àquele que fora seu grande e único amor. Num fatídico dia, aquela curva do rio enciumada lhe roubara Sebastian para sempre, deixando-a viúva de seus carinhos, seus beijos, seus gozos, restando agradáveis lembranças de tempos idos.
Naquela curva do rio...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 28/07/20