separação

SEPARAÇÃO

Bento correu até o riacho e esperou José.

José não costumava demorar-se, sempre vinha no seu cavalo numa corrida desenfreada, com a velocidade do vento, com seus cabelos de fogo extremamente lisos desalinhados. Num salto deixava a sela do cavalo e corria para o abraço de José. Como se fossem café com leite a pele muito branca de José misturava-se a pele quase negra de Bento deixando transparecer a diferença que havia entre os dois rapazes, José o filho do dono da fazenda e Bento o filho do capataz.

Os dois cresceram juntos, pois tinham quase a mesma idade, diferença de meses, tinham um amor imenso pela fazenda e conhecem cada palmo daquelas terras, assim como sabiam de cor todas as nuances do rio que cortava a fazenda.

Bento olha para o rapaz e pergunta qual é a novidade que querias contar-me, José desvencilhando-se das roupas responde : _ não agora, após o banho no rio e nu se atira nas águas. Bento segue o seu exemplo e desvencilhando-se das roupas atira-se nu no rio. Os rapazes nadam por algum tempo e depois deitam-se na relva sob o sol da tarde que teimava em não ir embora.

Bento, chegou a minha hora, amanhã pego o trem para a capital para completar os meu estudos.

E eu ? que será de mim nesse mundaréu sem ti.

É por pouco tempo replica José, no máximo quatro anos.Mas quatro anos é uma vida diz Bento com os olhos marejados de lágrimas .José senta-se na relva e pede a Bento que não o esqueça nunca pois eles são irmãos de alma, almas gêmeas e novamente os corpos entrelaçam-se num abraço onde não há patrão e empregado, somente duas pessoas que se amam.

Bento não vai até a estação despedir-se de José, porém senta - se no alto da colina onde dá para ver a estrada de ferro e onde tinha estado tantas vezes com José vendo a maria fumaça que passava ligeiro levando tantos sonhos de menino.

Com a certeza de que Bento estaria sentado na colina, José coloca meio corpo para fora do trem e quando avista a silhueta na colina, seu coração bate forte. Acena para a silhueta de Bento e vê seu aceno correspondido e com as lágrimas a rolarem pela face grita:

Café com pão, bolacha não!

E como se não houvesse a distância e o barulho da maria fumaça e um pudesse ouvir o outro, Bento responde com os olhos marejados:

Bolacha não, bolacha não,bolacha não !!!

E a maria fumaça segue veloz a cantar café com pão, bolacha não, bolacha não,bolacha não…

sem se importar com a dor dos meninos que enfrentavam a sua primeira separação.

aureliano de queiroz
Enviado por aureliano de queiroz em 15/07/2020
Código do texto: T7006456
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