Flores Tardias - Perfebleu

- É, as vezes é melhor nem se levantar... — Disse Gustavo baixinho enquanto olhava fixamente para uma rosa em sua mão.

Algo nele se perguntava se não poderia oferecer, nada mais do que aquilo para a garota que ele gostava. Ele mantinha uma expressão vazia e séria olhando para a flor, porém, após se lembrar do sorriso de Alessandra segurando o buquê entregue por Felipe, começou a anuviar seu rosto e seus olhos aos poucos derramavam pequenas lágrimas, que desciam em seu rosto frias e com gosto salgado.

Em sua outra mão ele tinha um esqueiro e ateou fogo na rosa, antes dedicada a sua amada. Seus olhos molhados, agora ganhavam tons degradê de laranja e azul. O fogo já havia consumido todas as pétalas, e ele permanecia imóvel e em silêncio. Assim permaneceu, mesmo quando o fogo começava a atingir sua mão e a queimar seus dedos. O ato de se deixar queimar pelo fogo da rosa significava várias coisas, uma delas, era o fato dele se culpar por não ser bom o suficiente para Sam. Não era só porque ele ia dar apenas uma flor de plástico, enquanto Felipe deu um buquê de flores de verdade a ela. Mas também, porque ele nunca conseguiu ser bom o suficiente para alguém que ele gostava. Lhe faltava forças para transformar suas intenções em realidade, logo, a única coisa a se fazer, era se punir por ser tão fraco.

- Agora eu entendo, ela é tudo e eu não sou ninguém... Não sou digno de estar perto dela, porque sou muito fraco. Ela merece alguém melhor que eu, então não vou me meter no caminho dela, nunca mais... - Disse ele, e logo seu coração estava consumado, deixando dentro de si apenas cinzas.

Gustavo não conhecia finais felizes em relacionamentos, talvez só os da televisão, ou dos livros de romance. Mas na vida real, tudo o que amor parecia significar era dor e perda de tempo. Embora ele se esforçasse para dar credibilidade aos sentimentos amorosos, algo ainda insistia em lhe dizer que tudo não passava de sexo e vaidade, e, que seres humanos só conseguem fazer mal uns aos outros.

Ele se levantou, e escondendo nos bolsos sua mão, foi-se ao quarto de sua mãe que estava deitada:

- Você quer jantar mãe? Eu frito um ovo pra você...

Ela tirou o cobertor de cima de si, e respondeu, em um tom abafado e mórbido — Não... muito obrigada. — E em seguida, voltou a cobrir-se. Gustavo se foi para a cozinha, chegou até a torneira e deixou a água molhar sua mão. Ele estava calado olhando para a pia de louça suja enquanto tentava ignorar a dor da queimadura.

- Amor? Isso sequer existe? Se ele não tivesse abandonado minha mãe, talvez ela estivesse feliz agora. Eu nunca a vi tão triste, sinceramente. Mas isso é o que o amor pode fazer por nós: nos machucar, apenas isso. Talvez essa dor que eu estou sentindo, nem se compare a dor que minha mãe sofre dentro de si própria... Mas por que insistimos em ter tais sentimentos? Por que continuamos a desejar mesmo após termos sofrido? Será que é esperança de encontrar alguém? Ou porque somos tolos que nunca aprendem?

Acho que certas pessoas não nasceram para encontrar o amor... Eu acho que eu nunca vou encontrar tal coisa. — Ele abaixou seu rosto, e seu coração que estava em cinzas, logo começou a se esfumaçar como areia. E, em um tom muito baixo porém intenso, talvez para que sua mãe não escutasse seus soluços, ele disse apertando os punhos — EU... EU NUNCA MAIS... VOU ME APAIXONAR DENOVO... MERDAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!

A manhã começou nublada, e talvez esse seja o único motivo plausível para Gustavo ter se levantado da cama. Ele foi para a escola, com passos lentos e observando o céu cinza. Sua mente parecia não querer dizer nada, na verdade ele não havia pensado coisa alguma desde que se levantou, ele apenas estava andando em silêncio, contemplando a paisagem fria ao seu redor e respirando aquele ar frio e chuvoso.

Gustavo chegou 30 minutos atrasado, e a primeira coisa que fez quando entrou na sala, foi olhar para Alessandra. Por mais que ele olhasse para ela, não conseguia sentir nada além de uma forma estranha de tristeza, como se Alessandra fosse alguém que ele nunca alcançaria. Porém a paixão, essa havia sumido. Então por um momento ele ficou em paz, consigo mesmo.

"Ela não é minha. E nunca vai ser."