Talvez seja isso

Eu disse que a amava e logo em seguida eu dei um sorriso compreensivo e amoroso, eu não tinha problemas em dizer que amava ela, aqui dentro, em meu coração, eu sabia que era verdade. Eu a via como a única no mundo, não deixava de achar outras mulheres lindas, mas ela era diferente, era como se ela tivesse uma magia que me encantava, fiz disso o meu objetivo de vida e então me direcionei para isso, eu fui entrando na vida dela, não de modo invasivo, mas na intenção de me adaptar, fazer parte do círculo dela, eu realmente queria ser parte da vida dela.

Ela foi tão receptiva, desde o começo, fez eu me sentir estar indo pra casa, nunca tinha sentido esse tipo de sensação com ninguém; pra falar a verdade, certo seria dizer que tudo aquilo para mim era novidade, ela parecia tão perfeita, mais perfeita do que eu poderia julgar perfeito, todas as pessoas ao meu redor sabiam sobre ela, talvez as pessoas ao meu redor sabiam muito mais sobre ela, do que as pessoas ao redor dela sabiam sobre mim.

Admito que eu deveria ter percebido isso, por algum motivo é muito mais fácil para mim incluir ela em minha vida do que ela me incluir na vida dela… Alguns amigos me questionavam sobre isso, mas eu a defendia com unhas e dentes, afinal de contas ela era o meu amor, não poderia ser diferente, diziam que eu estava sendo bobo e ingenuo, eu não dei muito ouvidos, afinal, não fazia o menor sentido eu estranhar algo a respeito dela, ela era perfeita.

Então, surgiram os primeiros obstáculos, problemas com tempo, basicamente não tínhamos muito tempo, ou tínhamos tempo demais, até hoje eu não sei dizer exatamente qual seria o certo, apenas se tornou uma grande pedra no caminho, prontamente eu me coloquei de forma compreensiva a fim de ajudar, dar apoio, escutar, afinal, dentro desse tempo, muita areia passaria, muitas coisas poderiam acontecer, coisas que por estar para além das minhas mãos, achei que poderia fez algo mais se eu fosse um apoio para ela, ela poderia precisar.

E precisou…

Eu a fiz se sentir bem com relação as coisas que aconteciam, fiz questão de tentar achar um lado positivo em tudo o que acontecia e isso ajudou ela a encarar e superar algumas coisas, fiquei feliz por ela estar feliz. Mas o tempo e por consequência a vida continuavam atuando, por vezes, eu achava que era contra mim, não tinha outra explicação, afinal, as coisas corriam relativamente bem para ela(com uma parcela de ajuda minha) e para mim a vida parecia atolar em um grande lamaçal. Eu continuei colocando ela como um norte, pois ter ela ao meu lado era o objetivo, apesar da sensação de que precisava plantar uma árvore para depois cortá-la e então cortar tábuas e calços para desatolar a minha vida e então seguir para ela.

De certa forma, eu me desvencilhei do que me prendia, de maneira alternativa, mas consegui, mas não impressionou muito ela e aquilo me incomodou, na verdade, era visível o esforço que ela fazia para aceitar de certa forma o meu esforço, mas também era óbvio o desconforto, infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer além daquilo. Eu estava firme na caminhada, tinha que continuar, ela estava muito na frente. Quando eu acho que já estava conseguindo enxergar a sombra dela, voltei a ter as aspirações vivas em mim, ela era real, real em mim, dormia fazendo planos e os planos pareciam possíveis.

Quando finalmente eu podeira encarar as coisas como verdadeiramente possíveis, ela parecia mais distante, mais e mais distante, não fisicamente, mas a cabeça dela parecia estar voando para outros lugares e eu acredito que eu não estava nesses lugares, eu me senti afastado, deixado para trás, mas desgraças aparte, quando são tirados os antolhos ainda que a força, você consegue reparar no mundo a dua volta, vê outras cores e outras flores, talvez até se interessa por outras flores que ainda não havia visto. Foi o que fiz, senti o perfume de outras flores e até mesmo colhi flores novas para o buquê e numa tentativa quase irracional, segui na caminha em direção a ela, mesmo com o fogo embaçado, com a cabeça confusa com o que a visão mais ampla me oferecia, ainda assim, segui. Quando me aproximei da forma que pude, eu ofereci as flores, ela por sua vez, declinou e ainda desdenhou das flores novas que havia colhido, de como estava o buquê e por fim, desdenhou de mim. Eu fiquei sem chão…

Desde então, tenho detestado flores e relacionamentos afetivos e dizem que assim, nenhuma outra irá me querer, talvez seja isso mesmo.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 10/07/2020
Reeditado em 05/08/2020
Código do texto: T7001840
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