E, chegou à meia noite

Para a bela Cinderela

O ano era 2017, próximo ao final do verão. Chegando à rodoviária cumprimentei meus recentes colegas - eu tinha acabado de ingressar em um novo colégio, distante da minha cidade, para cursar o ensino médio.

- Tudo bem, pessoal?

- Olá, Arthur. Claro! Como não estaria? Estou extremamente animado com o início das aulas – disse um colega.

Em meio a tanta empolgação para a minha partida, eu não percebi uma menina, parecia bem nova, além de muito bonita, afastada em um canto. Foi a primeira vez que lhe vi, não conversamos naquele momento, mas a sua imagem já estava guardada em minha memória. Por algum motivo desconhecido, chamou a minha atenção. Curiosamente, depois descobri que você era irmã desse colega o qual falou comigo com grande empolgação.

Posteriormente, não tentei fazer nenhum contato contigo. Em 2017 fui calouro e minha rotina era de semi-internato - voltava para casa apenas aos finais de semana. Portanto, não tive tempo e também não me preocupei muito em conhecer qualquer garota para namorar.

O tempo passou rápido, pisquei meus olhos, era 2019. Eu estava no último ano do ensino médio e a minha classe tinha aproximadamente 200 alunos. Um dia, em meio à multidão do pátio do meu antigo colégio, encontrei o seu irmão. E, por alguma razão misteriosa, naquele dia me lembrei daquela linda menina da rodoviária.

Fiquei bastante curioso para saber como você estava. Já passara 2 anos e meio. Ainda assim, esperei alguns dias, tomei coragem, e finalmente mandei a clássica mensagem.

-Oi, tudo bem?

Surpreendentemente, você me respondeu. Depois disso, ficamos íntimos rapidamente, foi algo tão natural e sincero, que mesmo hoje, nunca passei por isso com ninguém.

Conversávamos à noite, você sempre estava animada. Mesmo deitado na minha cama, no alojamento do meu colégio, pela madrugada, o sono não nos separava - ou algum colega que reclamava da luz do meu celular.

Naqueles dias, você vivia em uma torre de marfim. Eu não podia te ver, pois as circunstâncias não eram favoráveis, na verdade nunca foram. Mas, o destino tinha reservado uma data para o nosso encontro. O meu baile de formatura.

Janeiro veio e o nosso tão sonhado dia também. Eu já tinha imaginado esse momento várias vezes. Chegando ao local, fiquei muito nervoso. Na realidade, eu não sabia se você realmente gostava de mim, fiquei com medo de estar iludido. Mesmo assim, comecei a te ver como uma princesa naquela noite, curiosamente você tinha certas semelhanças com algumas, pois, além de ser lindíssima, era também determinada, corajosa, curiosa, persistente e, além do mais, ainda vivia “presa em um castelo”. Sempre desejei ser seu príncipe encantado, mas, verdadeiramente, eu sempre soube que estava muito longe de ser encantado - e ainda mais longe de ser um príncipe. De fato, eu me sentia como um simples plebeu. Mesmo reconhecendo a minha real condição contigo, tentei ao menos buscar um coração nobre. Pois, você foi digna de todas as virtudes de um cavaleiro.

Entrei no salão e sentei-me à minha mesa, aguardando você. A decoração estava perfeita, muito florida, o céu também conspirou ao nosso favor. Ele estava estrelado e a Lua sorria para nós, enviando seu lindo brilho, abençoando o nosso encontro. Além disso, tinha um lago bem grande que dava um ótimo ar romântico. Naquele momento eu percebi que tudo estava perfeito, ou melhor, quase perfeito, pois ainda faltava você.

Instantes depois, seu irmão veio com a sua família. Vi você sentando à mesa, rapidamente senti meu coração apertando e, ao mesmo tempo, ondas quebravam no meu estômago. Estava divina, tão linda, tão perfeita. Por certo, estava deslumbrante. Fitei meus olhos nos seus, fui a sua direção e tirei-lhe da sua mesa.

Caminhamos para um local perto do lago, assim poderíamos conversar melhor. Envolvi meus braços nos seus e sentamos em uma poltrona. Naquele momento, pude admirar melhor a sua perfeição. Verdadeiramente o mundo parou, você brilhou mais que a Lua e as estrelas. Seu vestido era todo detalhado, parecia que era feito de pérolas e cristais muito brilhantes. Sua pele era como seda, seu cabelo era tão escuro, tão liso e tão lindo. Percebi que até o vento o admirava, pois várias vezes ele o acariciava, cuidadosamente, tocando nos seus fios, para que eles ondulassem serenamente como as ondas do mar. Seus olhos resplandeciam como o sol, e o seu sorriso... Ah, o seu sorriso, ele aquecia ainda mais o meu coração.

Naquele momento você se tornou a minha musa e eu não queria que aquela noite acabasse. Confesso que, enquanto conversava contigo, eu não fazia ideia do que dizia, fiquei encantado, apenas queria te beijar e dizer o quanto eu te amava, tudo foi um conto de fadas.

Pouco tempo depois, a pandemia veio. E, como um badalar de sinos de uma igreja, anunciou que à meia-noite havia chegado. Como a Cinderela você teve que se afastar de mim. A magia de toda noite acabou, aos poucos você se distanciou ainda mais. E, naquele momento, percebi que mesmo se não houvesse a pandemia, você não queria realmente ser a minha bela. Eu nunca esqueci aquela lição. Afinal, mesmo que buscasse um coração nobre, eu ainda era um plebeu.

Ainda assim, aprendi que situações que não trazem dor ou sofrimento não ajudam para o crescimento. Além do mais, ninguém pode ganhar nada sem sacrificar alguma coisa. Todavia, quando o sofrimento é superado, ganhamos um coração forte o bastante para que nada o desanime. Um verdadeiro coração nobre.

Por esse fato, faço este bilhete - muito mal escrito e elaborado - como forma de agradecimento. Pois, agora você sabe que teve grande protagonismo na jornada de um plebeu que conseguiu se tornar um nobre cavaleiro. E, finalmente, hoje posso dizer: eu estou pronto para procurar a minha verdadeira princesa.

Com o agradecimento, ternura e nobreza de sempre, Arthur.

Aron Pedro
Enviado por Aron Pedro em 08/07/2020
Código do texto: T6999615
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