Na Estação
Fim de tarde, a temperatura mais amena, o sol laranja vai escondendo-se levemente no horizonte ao longo da linha férrea. O céu enfeitado de nuvens disformes tingidas pelas cores quentes do crepúsculo, que ampliam o desejo ardente de Laura em receber em seu seio o amado que deixou sua terra a fim de lutar na guerra.
Bela, calma, serena, como a rosa vermelha perfumada espera pelo singelo beijo do orvalho, ela espera nesse fim de tarde estar mais viva, mais cintilante ao ganhar do herói o abraço mais forte e a frase mais doce sussurrada no ouvido.
- EU TE AMO!
Enfim, ele está prestes a chegar, via-se às dezoito horas, bem ao longe, descendo no monte, em espiral deixando o rastro de fumaça, até atingir a planície verde pela a qual vinha serpenteando o trem e a noite também.
Já havia um ano que não se encontravam, nem cartas trocaram, ela sempre a espera sem notícias, sem carícias, sem ele. E recorda-se dos passeios que faziam juntos na praça, dos piqueniques nos bosques e o cheiro da grama que impregnava os cabelos quando se deitavam para ver as estrelas no céu. Laura aguarda na estação, trêmula, ansiosa, de vestido azul claro, parecia uma princesa com seus cabelos dourados esperando pelo par que pegaria sua mão e a levaria ao baile.
Uma brisa leve toca seu corpo e o arrepio inesperado na pele faz com que Laura abrace a si mesma. Morde suavemente o lábio inferior e olha para o grande relógio da estação pendurado na plataforma. Quase dezenove horas, o trem vem chegando. Eufórica, se anima, sorri, desliza as mãos sobre o vestido azul claro reparando o último amarrotado que persistiu em ficar depois da passada do ferro quente. Laura agora é outra, seu rosto delicado e terno ganha um novo brilho e fica mais reluzente, mais lindo. E lá vem o trem apitando, chegando.
O trem para na estação, e Laura com os olhos vivos e atentos procura seu amado entre os passageiros que desembarcaram. Ela caminha pela plataforma rente ao trem observando pelas janelas, procurando, verificando se ele ainda está lá dentro.
Do último vagão desce um rapaz alto usando uniforme militar, de cabeça baixa e algo nas mãos. Laura corre alegre ao seu encontro, mas recua ao ver que se enganou. Era um soldado, mas não o dela. Seu rosto agora já não brilha, se apaga. Ofegante se vira e escuta a voz do rapaz chamar seu nome:
- LAURA!
Aterrorizada ela se vira em prantos e o soldado lhe entrega uma bandeira e uma medalha que trazia nas mãos. Ele embarca novamente no trem.
Laura parada vê o trem partir noite a dentro levando seus sonhos, seu amor, deixando apenas sofrimentos na estação Saudade.