A DANÇA

Era manhã e o dia chegara! Esperava ansiosa por este momento, quando virei para o lado esquerdo da cama e vi meu celular vibrando. Era ele. A cada ensaio fui percebendo sua aproximação comigo. Nossos passos eram perfeitamente encaixados. Tudo era majestoso. E cada dia mais, essa aproximação aumentara, até o dia da nossa apresentação. Estávamos nos formando, e ele era meu par da valsa, iriamos apresentar Morgenblätter de Johann Straussem em um teatro, mas a apresentação seria apenas para convidados dos formandos. Contudo, eu estava muito nervosa, mas sabia que nossos colegas estavam todos muito bem ensaiados.

Naquele dia, sai mais cedo, pois tínhamos que encontrar os colegas para o último ensaio. Levamos muita coisa porque só iríamos sair de lá quando nossa festa acabasse.

Chegando lá, o Rafa (seu nome é Rafael); estava me olhando com aquele olhar sabe, e eu apenas o retribuía.

Fomos ensaiar, par por par; e na nossa vez todos elogiaram dizendo que existia uma harmonia perfeita. Logo sorri, e nos seus braços ainda, percebia que ele estava à procura dos meus olhos, até que eles se encontraram, e imediatamente enrubesci.

E assim foi o dia. Almoçamos, lanchamos, tiramos fotos com os amigos; três horas mais cedo, as meninas começaram a se arrumar. Os rapazes logo após. Eu estava linda, todas as meninas estavam. Meu vestido era azul e cada uma estava com uma cor de vestido. Meus cabelos, a maquiagem, tudo estava perfeito.

Sai do camarim e resolvi sentar entre as cadeiras da plateia, pois o teatro estava fechado ainda.

De repente, sinto um cheiro, um cheiro conhecido e que se sentou ao meu lado.

- Você está linda!

- Obrigada Rafa, nós estamos.

Ficamos nos olhando. Em seguida, fomos para a seção de fotos com toda a turma para a foto oficial. Resolvemos trocar os pares. Ouvi um cochicho entre Rafa e o colega dele. Mas logo me posicionei para a foto deixando para lá o que estava acontecendo.

Pronto, já eram vinte horas, o espetáculo já se iniciara. Estávamos por trás das cortinas, estava um pouco escuro; disse-lhe em voz baixa que eu estava nervosa, e em seguida, ele segurou em minha mão dizendo para confiar nele. Mesmo assim continuei nervosa. Suas mãos seguravam-me firmemente. Seu cheiro impregnava o ar, meu coração acelerava cada vez mais.

Três, dois, um...! A cortina se abriu. As luzes fortes vinham em nossa direção. Éramos o do centro; e enquanto cada par se posicionava nos posicionamos e olhamo-nos fixamente. Desta vez fiquei neutra. Parecia uma estátua.

Logo, a música começou a tocar. Fui-me enlaçando entre o vento e os seus braços, suas mãos seguravam-me enquanto eu saltitava. Movimentos rápidos e lentos, todos bem coreografados. Ritmo que envolvia tudo: troca de cheiros, olhares firmes, convites impróprios, mãos que se tocavam, braços que se roçavam, rostos que se encostavam, tudo num balance só, tudo numa dança só.

Estava perto do fim da apresentação, o que estava me deixando mais tranquila, pois já tínhamos apresentado boa parte.

No último giro, tínhamos que parar um em frente ao outro, com as mãos postas, rosto a rosto, até que a plateia aplaudisse e todos os formandos voltassem para frente e se curvassem educadamente para todos.

E fizemos isso, mas de repente, logo após o giro, ao pararmos, Rafa beijou-me. Fora um beijo rápido. A plateia aplaudiu antes mesmo que todos virassem para frente e se curvassem para agradecer.

A plateia continuava a aplaudir mesmo após.

Então a cortina fechara-se. Eu estava surpresa. Todos me viram, e aquilo não estava programado. Quis sair logo dali, mas não podíamos ainda.

Ele segurou minha mão e disse:

- Desculpe a ousadia, mas achei que foi um bom momento. Sem saber o que dizer, respondi-lhe:

- Bom momento? Em plena apresentação? Você nem sabe se eu...

Ele calou-me agarrando-me ali mesmo e encostando-me no canto; quis tirá-lo de mim, mas acabei permitindo. Seu beijo era quente. Pedi para que parasse e ele soltou-me.

- Bem, agora você acha que foi um bom momento senhorita? - (Risos).

- Ele conseguiu tirar sorrisos de mim. - (Pensei).

- Não sei ainda. Talvez...

- Talvez, possamos ter mais momentos, caso permita-me.

- Acho que sim.

Logo, saímos dali, e as pessoas quando nos viram, começaram a comentar e a elogiar ao mesmo tempo, perguntando se foi programado o beijo. Enfim, encheram-nos de elogios. Eu estava morrendo de vergonha. Até meus pais orgulharam-se. Aquela noite foi incrível. Depois daquele dia, aprendi que programar momentos às vezes não é viável, e só saberemos se tentarmos, nos permitindo a determinados momentos. E foi assim, muito surpresa com a situação, que descobri que aquele momento foi o certo.

Marize Lisboa
Enviado por Marize Lisboa em 02/07/2020
Reeditado em 10/08/2021
Código do texto: T6994037
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