Prolongando-se em ficar - PerfeBleu

"Talvez o amor exista. Mas será que nós como seres humanos falhos, conseguiremos mesmo alcançar o amor em sua plenitude? Ou apenas alcançaremos frações daquilo que chamamos de amor?"

Gustavo havia dito aquilo para Alessandra um certo dia, em sua última conversa juntos. Ela se debateu dizendo que não, e foi totalmente imparcial ao defender a existência de um amor verdadeiro que todo ser vivo pode e deve alcançar. Gustavo virou o rosto porque não podia concordar com o que ela dizia, e ela por sua vez, não conseguia aceitar a ideia de uma vida sem amor.

"O amor é perfeito, ele não falha." Foi o que ela pensou logo após de sair daquela conversa. Gustavo abandonou a escola em circunstâncias misteriosas (ele gostava de Alessandra mas não podia se declarar, então procurou se afastar para esquecer seu sentimento). Alessandra seguiu sua vida sem saber dos sentimentos de seu amigo. Ela arrumou um namorado, o Felipe, que havia se declarado para ela.

Eles engataram um namoro apaixonante e avassalador. Pela primeira vez havia aparecido alguém na vida dela que valia a pena. Felipe se preocupava com tudo por ela, e sempre se fazia presente.

Algo estranho aconteceu, talvez tenha sido palavras mal expressadas, ou palavras não expressadas. Sentimentos, expressões faciais e pequenas atitudes, mas aquele namoro acabou encontrando seu fim.

A própria Alessandra pediu para dar um tempo. Ela disse:

- Cara, não está mais funcionando. Eu gosto muito de você, mas algo entre nós não vai para a frente. Não estou terminando, na verdade peço esse tempo para a gente se afastar, exatamente para salvar nossa relação... Eu não sei onde é que a gente errou. Mas eu sinceramente estou tão confusa...

Não pense mal de Alessandra, ela estava muito mais envolvida naquela relação do que o próprio Felipe. Ela pensava que ele era o mundo dela. E todos os dias ela acordava feliz por saber que poderia ver ele na escola. Mas com o tempo algo se perdeu, e o problema estava com ela. A magia dos primeiros encontros deu lugar a uma sensação de rotina e marasmo. Sensação essa, que estava no íntimo dela. E Alessandra não era sincera o suficiente consigo própria para poder assumir que perdeu um pouco o interesse por ele. Se ela houvesse assumido isso antes, poderiam ter tentado fazer coisas novas para renovar o relacionamento, mas não fez. E tudo aquilo que construíram de repente começou a se desmoronar.

Alessandra não sabia naquela época, mas estava começando a apresentar os primeiros sintomas de sua depressão, doença essa que lhe acometeria em poucas semanas após esses eventos.

Felipe tentou recupera-la algumas vezes, tentou ligar e mandar mensagens mas ela sempre parecia cada vez mais gelada e distante, até que um momento ele mesmo desistiu do relacionamento, e seguiu sua vida em frente.

Sam não percebeu que suas próprias atitudes a arruinavam todos os dias, e afastava um dos meninos que ela mais gostou. Quando Felipe começou a namorar Lívia, Alessandra assistia quase chorando a garota segurando as mãos dele.

"Será que algum dia ele gostou mesmo de mim? Ele não sente nada mais? Ou será que eu era a única envolvida de mais com ele?

Por favor volte, não deixe isso acabar, não deixe que isso termine...

Eu pensava que você era tudo para mim...

Se ele queria apenas ficar, porque me deixou envolver cada vez mais?

Ele tinha que ter mesmo deixado aquilo se prolongar mais???"

Isso era um breve resumo de tudo o que ela pensava. De certo havia uma ferida gigante em seu coração, e logo todas as canções de amor e sofrência começaram a fazer sentido para ela. Uma dor de cotovelo nunca antes vista na história da humanidade.

Depois de um tempo, ela havia conseguido isolar esses sentimentos por ele. E refletindo pensou algo que ficou no vácuo de sua mente, ecoando no vazio mais profundo de seu próprio silêncio:

"O amor é perfeito, mas nós que amamos somos falhos. Logo não há como viver tal perfeição, e toda forma de amor estará fadada aos limites falhos do que somos nós, humanos. Seja nossas loucuras ou inconstâncias..."

Ela sentou e chorou, e a cada lágrima sua alma se esvaziava e seu espirito se desanuviava, como se um enorme peso tivesse sido removido de si mesma. Ela estava se libertando daquele amor de uma vez por todas, por isso cada lágrima doía tanto. Mas uma vez cessado o choro, Alessandra voltou a ser o que era antes, porém agora seu coração tinha uma ferida, que nunca mais cicatrizaria.