Ana e a Praia
Aquela era uma tarde perfeita para Ana. A cor do mar, os desenhos nas nuvens, a brisa que tocava como uma carícia... e o mistério... sempre ele a impulsionando. Sua tela e seus materiais estão todos em ordem em sua cesta. A praia, é a mais linda.
Nada do que tinha feito fora feito pensando nos títulos, nos prêmios que sempre a concederam. De maneira gentil ela havia aceitado todas as bênçãos concedidas, e tinha em seu coração a noção sólida de sua responsabilidade. Quando pintava, ela se libertava... era simples assim. Seu mundo interior florescia a cada pincelada, e uma parte de sua alma se desprendia e mergulhava em cada trabalho concluído, e desses pedaços de alma brotaram os frutos que hoje ela colhia e se alimentava. Uma artista bem sucedida, que havia tirado essa tarde em especial para pintar algo que se chamaria “TESOURO”, de maneira ousada ela se propunha a tentar expressar o que sabia ser inexprimível, seria um trabalho dedicada a si mesma, teria ela talento suficiente pra se propor tal feito?
Qual era seu objetivo?
O mar... era ele quem a pedia para que tentasse. Buscando em suas memórias mais profundas o que mais a lembrava tal ideia, ela sentiu que seria em frente a ele que a verdade se espelharia e ela então faria apenas o que sempre fez com seus pincéis. Ela iria filtrar... e depois oferecer. A beleza do mar. Sua arte era definida como uma oferta, um presente de seu coração para quem pudesse aceitar. Ela só iria pintar o mar e estaria pronto... “ O horizonte será sempre o limite que conseguirmos enxergar... assim como os tesouros...”.
Ana então iniciou seu trabalho. Da varanda do hotel de onde mirava a praia e suas cores ela via a extensa faixa de areia que reluzia ao sol do fim de tarde. Isolada em seus pensamentos, ela começou a dar vida ao branco... e isso a fez pensar nos filhos... e o trabalho foi fluindo em encanto até que ela percebesse que estava ficando pronto.
Na tela, o quadro mais lindo que havia reproduzido estampava aquele entardecer. Aquela praia. Mas havia algo que ela sentia falta. Algo que simbolizasse seu maior objetivo, seu horizonte... encontrar um tesouro? Ela olhou outra vez para a praia e então viu silhuetas conhecidas, suas sombras se projetando na areia. Elas não estavam lá até aquele momento. Ela se aproximou do parapeito da varanda e as silhuetas na praia acenaram para ela. Três mãos se agitaram. Três pares de olhos brilharam ao longe. Sua maior criação.
Ana pegou seu pincel. Seu coração transbordando de paz e realização... Em rápidos traços esboçou uma família que observava o crepúsculo e assinou em sua borda, batizando-a em seguida. A tela que seria seu presente, e que carinhosamente pedira pra se chamar de “TESOURO”, estava quase pronta. Ela sabia que aquilo era um sinal e um sopro divino para que ela percebesse sua dádiva... ela se sentia a mãe de mundos... ela era como Deus em seu poder de dar vida... e ela também era uma filha daquela praia...
Uma Criatura Criadora...
Ana correu até eles... e em instantes, sua obra-prima estava concluída...
Para Raiane... com carinho...