210 - Mulher
Apontou-a e subiram juntos para um quarto que dava para uma parede de tijolos. Havia quase sempre outras e algumas mais atraentes mas preferia-a a ela. Sentia-se à vontade. Se quisesse, ela despia-se. Se só precisasse de desabafar ela escutava-o. Fora sempre assim. No final do tempo, deixava o dinheiro sob o cinzeiro e saia primeiro. Da porta para dentro ele era só um homem e ela a mulher capaz de o entender sem perguntar nada. Quando havia sexo era suficiente mas, não havendo, ela seguia-o por onde as palavras os levassem, tantas vezes a lugares sórdidos da vida. Muitas mulheres nunca deixam de ser amenas, confiáveis, acolhedoras e ela era dessas que são o cofre que precisamos, o sepulcro das penas que trazemos ou o corpo onde deixamos a semente inútil. Chega-se depressa ao máximo prazer que acaba e importa que reste alguma coisa mais para validar o pântano. Flores nos nenúfares? Bálsamo para as feridas? Que saberia ele movendo-se por pulsões que não percebia? E hoje, mal se fechara a porta sobre o mundo, ainda quando os olhos dela o liam para saber o que fazer, ele chorou como se fosse um menino.