AMANHÃ SERÁ VÃO O QUE HOJE SE FEZ FIM

Vivera conflitos com a mãe a vida inteira por ela te-lo deixado com intenção de definitivo. A iniciativa malogrou alguns meses depois, ao voltar nunca mais se entenderam. Já ali na pré-adolescência planejou ir-se embora e foi, após os vinte anos, mas também voltou. Após os trinta e cinco partiu novamente. Tempos depois a mãe adoeceu, uma falência renal total condenou-a à hemodiálise dia sim, dia não, com restrição à ingestão de água, somente 150 mL/ dia. Ele a amava, disse-lhe que doaria-lhe o rim, ela chorou. Sim , a amava, mas era também um modo de vingar-se, fazê-la engolir as críticas e palavras duras, mas doaria também, embora relutasse em admiti-lo, porque a amava.

Insistiu com a irmã para que tratasse do assunto com a médica responsável e esta simplesmente afirmou ser impossível o transplante, pois havia complicações muito sérias no coração. A portas fechadas, a irmã narrou-lhe a triste notícia, mas , tarde demais, perceberam que a mãe ouvira tudo atrás da porta. Ela se animara com a proposta do filho, mas depois disso, poucos dias depois, morreu de um infarto fulminante.O filho rebelde tudo fez para reanimá-la, mas foi inútil.

O luto durou ano e meio, a depressão o dominou, mas um dia resolveu que a partir dali faria o bem em homenagem à mãe e ao resolver doar sangue num banco de sangue descobriu-se portador de HIV já em estado de AIDS, isto é, que há ao menos 10 anos fora infectado, isso significava que jamais poderia ter doado o rim à mãe. Agradeceu a Deus por ao menos não ter dado mais este desgosto para ela...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 18/06/2020
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