O Menino e a Poetisa

Por: Antônio Souza
 
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente. 

Fernando Pessoa.
 
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Nunca vi alguém contestar esse dito do grande poeta Fernando Pessoa. Mas leia essa historinha e tire suas conclusões. - Nosso personagem gostava muito de ler. Lia muito, e também escrevia. Escrevia muito. Estava ligado em vários canais de leitura. N’um desses, dava uma atenção especial, postava poemas, contos, etc.…, em quase todo gênero ele estava ali, com seus escritos. Porém, não usava sua real identidade, arranjou um nome bonito, impactante e uma foto impressionante; também inventou um perfil que lhe dava certo destaque e, assim conquistou uma boa lista de fãs e leitores. De família rica, morador de Copacabana em plena avenida Atlântica. Toda manhã descia do prédio e ia à praia pegar sol, fazer um exercício, e outras distrações, ficava por ali até às onze horas, fazia isso por rigor da disciplina e saúde, sabia que esse horário o Sol é maravilhoso e rico em vitamina D, excelente para sua pele.
 
Na volta p’ra casa passava por um quiosque daqueles bacanas ali da praia, que todo mundo conhece, e sempre acenava para um alguém que estava ali todos os dias, descontraída, com um tablet na mão. Provavelmente lendo algo, ou coisa do tipo. Já se conheciam, por isso eram muito cordiais. Mesmo sem nunca terem se apresentado um ao outro pareciam amigos, tanto a rotina dos dias e horários. - “Cumprimentar alguém, é sempre sadio, faz parte d’uma boa educação. Muito mais quando esse alguém desperta certa curiosidade ou afeição”. - E, era exatamente o que ocorria com Joseph..., vivia se prometendo que a qualquer dia iria lá, sentar-se ao lado daquela simpatia e trocar algumas palavras, quem sabe formar, verdadeiramente, uma amizade ou algo além. Mas enquanto isso seguia sua rotina, ia p’ra casa e se apegava no computador, um trabalhinho aqui, outro ali e por fim se debruçava na leitura e escritos.
 
Joseph e Beatriz, pareciam ter um encontro todos os dias, sempre ao meio dia nesse canal de leitura e escritos, eles se falavam virtualmente; quando não estavam postando algo comentavam obras de outros poetas e escritores, mas se detinham quando trocavam comentários em suas próprias páginas, ele galanteador elogiava as obras dela, a recíproca era sempre verdadeira, em delicadezas encantadoras, pareciam estar namorando, o que fez de Joseph um apaixonado, louco por Beatriz, mesmo sem nunca ter lhe dito isso, sequer dava pistas diretas nesse sentido, embora um clima romântico pairasse no ar. Beatriz, por sua vez, também era movida por esse encanto, sempre trocava suas fotos do perfil. No seu íntimo fazia isso para impressionar seu fã especial, o Bonitão Joseph, que ao contrário de Beatriz mantinha sempre a mesma foto, vez ou outra trocava por uma paisagem ou um animal de estimação... muitas vezes dependia do que escrevia naquele dia. O tempo passou e a paixão já estava saindo do controle, ambos achavam que precisavam se conhecer pessoalmente, mas Beatriz morava noutra cidade, coisa que os inibia de outras loucuras. O namoro prosseguia assim, os pós página era continuado através de seus e-mails, podia-se dizer sim, já estavam namorando. Isso os deixavam de certa forma serenos. Ela de um lado Ele de outro com aquele olhar de peixe morto, imagino.
 
Joseph decidiu: - vou chegar próximo dessa lindeza que eu admiro todo dia aqui na praia, quem sabe eu esqueço um pouco da Beatriz, isso está me deixando meio maluco. Nesse dia, além do aceno rotineiro, ele fez outro de aproximação, ela sorriu dizendo que sim. Começaram a conversar como se fossem velhos conhecidos... Joseph ficou encantado com tanta simpatia e delicadeza da bela mulher e quanto mais trocavam palavras, algo de extraordinário lhes acontecia. Beatriz não se continha de alegria e não escondia nenhum pouco de si mesma. No seu coração havia contentamento e seus olhos brilhavam, sempre que ouvia Joseph falar. As horas avançaram, já beirava o meio dia e ambos sentiram fome. – Vamos almoçar juntos, se importa?! Joseph a convidou. Ela disse: - Sim, mas eu pago minha conta... Ele sorriu, e disse: - nem pensar, ainda guardo alguma nobreza... continuaram sorrindo, enquanto atravessavam a avenida rumo ao restaurante. - Adoro vir aqui é tão romântico, mesmo ao meio dia: disse Beatriz. Conversavam descontraídos enquanto degustavam um saboroso Sashimi de lagosta com trufas negras, masago e molho havaiano, regados com o delicioso vinho branco Chardonnay. Pedido por Joseph depois de assentido por Beatriz. Tudo girava em plena normalidade.
 
Nesse instante a doce mulher lembrou de algo e Joseph notou seu embaraço, ela sorriu e ele questionou: - lembrou de algo engraçado?! Ela disse: - sim, o que estamos bebendo e comendo é uma refeição que um amigo meu tem como predileta, mas nunca desfrutamos disso juntos, mas se não se importar quero fazer um brinde por isso. – Sim... claro, que legal é muito bom ter amigos, eu também tenho uma que chamo de especial e sei que adoraria estar aqui também; e acrescentou: - façamos assim você brinda ao seu amigo eu a minha e depois brindamos a nós dois... tá bom assim?! – Beatriz deu o sorriso mais lindo de todos os tempos e disse: - sim, adorei isso. Pouco depois riam de tudo e já se adoravam feito magia. Novamente Beatriz quis falar algo sobre o seu amigo e Joseph interviu dizendo: - Você parece encantada com esse seu amigo deve ser um cara bem especial... Ela disse: - Sim, verdadeiramente é uma pessoa bem especial, mas não o conheço pessoalmente... Joseph ergueu uma sobrancelha.
 
Beatriz começou a contar das coisas que tratava com esse amigo virtual..., Joseph a tudo ouvia e sempre sorria, o que a deixava mais à vontade..., em poucos minutos Ele já sabia quase tudo daquela relação entre Beatriz e o seu suposto amigo. Ficou pensando: - será que todos são assim, esse cara se parece muito comigo e as minhas invenções. Então lembrou que até aquele momento não sabia o nome da mulher que estava com ele, dispararam numa relação tão envolvente que sequer sabiam de seus nomes. Isso fez mudar o seu semblante e a linda mulher percebeu. Então perguntou: - Algum problema?! Notei que você saiu do ar por uns instantes, em seguida completou: - peço desculpas eu sei que falo pelos cotovelos, você deve ter se cansado, não é mesmo?! Joseph sorriu e fez um gesto de retorno.
 
Em segundos Joseph viu toda sua história com Beatriz a sua garota virtual, mas pensou: - Não pode ser, a Beatriz é bem mais jovem, e também se lembrou que para Ela, Ele era muito mais jovem, quase um menino. Novamente, Ela falou: - sabe de uma coisa, conversando com você eu tenho a sensação de estar falando com Ele o meu amigo; não leve a mal, mas realmente há uma semelhança muito grande, somente uma diferença, é que Ele é bem mais jovem que você, e sabe de outra coisa, Ele pensa que eu sou bem mais jovem do que realmente eu sou e que moro noutra cidade. Joseph sorriu e meneou a cabeça num gesto de surpresa.
 
Nesse instante, o garçom chegou e os interrompeu: - Perdão, estamos patrocinando uma premiação para os nossos hospedes e fregueses, gostariam de participar?! Preciso de seus nomes; ela assentiu e disse: Meu nome é Beatriz, e o seu? Caindo numa grande risada, pois lembrou que não sabia o nome de seu amigo que estava ali com ela. Ele empalideceu e balbuciou... o meu é Joseph....
 
Daí em diante..., você pode imaginar o que aconteceu não é mesmo?!
 
Nada disso..., Joseph e Beatriz estão juntos até hoje e muito felizes.
 
 
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Antônio Souza
(Contos)
 
https://youtu.be/4yDI-teumak
A sua – Marisa Monte
 
www.antoniosouzaescritor.com


 
Conto de ficção... qualquer semelhança com pessoas e fato é mera coincidência.

 
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