ENCONTROS CASUAIS
Tudo aconteceu muito rápido, pareceu ser premeditado, não por mim, é claro, mas pelo destino como a me querer pregar uma peça. A tarde estava uma maravilha, um sol bonito, uma brisa refrescante, um aroma inebriante que vinha de umas flores de um jardim em uma praça pública. Tudo contribuía para me testar, para ver como andava o meu sentimento, aquele que brota geralmente do coração. Até as pessoas desconhecidas sorriam para mim, me cumprimentavam gentilmente, me olhavam como se alguma coisa de especial estivesse em mim, uma roupa diferente, um corte de cabelo que chamasse a atenção, mas nada disso existia, eu estava normal como qualquer outro rapaz, não pensava em ninguém, não tinha ninguém para compartilhar uma alegria qualquer, um sonho até. Não! Eu era um rapaz solitário e feliz, tinha meu trabalho, meus amigos e um gosto pelos estudos no colégio onde fazia o curso Clássico à noite. Foi quando ela surgiu na minha frente.
Eu estava indo a um cinema ver uma película romântica, um filme que arrancava suspiros de muita gente que amava, mas eu não amava ninguém, apreciava só as boas fitas que enfocavam o amor, o romantismo, coisa que atualmente não existe mais. Ela passou por mim com um sorriso que me deixou perplexo, eu não a conhecia, nunca a tinha visto em lugar nenhum. Carregava uma prancheta com alguns livros que caíram involuntariamente, momento em que os peguei e entreguei para ela recolocando-os na sua prancheta. Ela sorriu agradecendo, foi o sorriso mais lindo que vi até hoje. Perguntei seu nome e ela respondeu com voz doce: Suely. Conversamos por pouquíssimo tempo, pois ela tinha pressa, mas conseguiu anotar o seu telefone num pedacinho de papel e me entregou, nem cheguei a tocar suas mãos, foi tudo muito rápido.
A tarde já findava, eu estava mais feliz do que nunca, tudo concorria para uma nova amizade ou quem sabe... um namoro. Sim, porque eu senti isso no seu olhar, no seu modo de me olhar, seus olhos não poderiam nunca mentir. Ela se foi e acenou de longe, eu nunca havia imaginado uma cena assim, o destino estava me oferecendo uma oportunidade de conhecer uma garota sensacional, pelo menos para mim Suely deixou transparecer isso. Pensei em não ir mais ao cinema, esse "filme" que acabou de passar nessa hora foi o suficiente para me satisfazer momentaneamente, mas resolvi ir, talvez um filme romântico me incentivasse mais a demonstrar o meu carinho quando a reencontrasse. Como por milagre caiu uma chuvinha, dessas chuvas passageiras e me molhou todo, mas não liguei, a minha felicidade era maior do que tudo.
Saí do cinema radiante, já era noite alta, pouco mais de oito. Instintivamente procurei o papelzinho no bolso da camisa onde tinha o telefone dela e me decepcionei, estava borrado, não se lia nada, a chuva foi a causadora desse "estrago", como faria então para ligar. Me desesperei, tentei decifrar aqueles números manchados, mas foi inútil. Tudo estava perdido, como faria para encontrá-la? Teria que fazer uma busca incessante, o que fosse possível para ter aquela garota na minha frente.
Passaram-se dias, meses. Passou-se um ano e nada de encontrar Suely, o que me fez imaginar o que ela estaria pensando a meu respeito. Andei por quase toda a cidade, procurei, andei sem rumo dias e dias sem ter sucesso. Confesso que cheguei a chorar de tristeza apenas imaginando aquele rosto lindo que ficou guardado em minha mente. Dois anos se passaram e eu conheci uma moça com quem namorei, mas não consegui amá-la, o meu pensamento ficou em Suely, um segredo que guardei por longos anos durante vários relacionamentos meus. Casei com uma jovem da minha idade e convivemos por sete anos, nossa relação não deu certo e nos separamos, o único filho que tivemos, o Pierre, ficou com a mãe, mas eu o via sempre.
Decorridos alguns meses depois da separação resolvi dar uma volta numa tarde de sol. Pensei em ir a um cinema assistir a um bom filme, mas estava em dúvida, talvez não fosse um bom negócio, mas enfim decidi ir, não tinha nada a perder. Passei exatamente pelo jardim florido e senti aquele mesmo perfume de anos atrás, incrivelmente era o mesmo aroma de quando conheci Suely. Me lmbrei logo dela pondo a mão no bolso da camisa como a procurar aquele palelzinho com o seu telefone. Parei ali por alguns instantes e duas lágrimas rolaram pela minha face, meditei um pouco e fui em direção ao cinema. Me pus na fila para comprar o ingresso e aguardei o momento de chegar na bilheteria quando uma senhora com uma criança, que chegara atrasada, me perguntou se poderia comprar dois ingressos, um para ela e outro meia entrada para sua filha. Peguei o dinheiro sem prestar muita atenção ao rosto da mulher, aparentemente bonita e de idade madura, assim em torno de uns cinqüenta e poucos anos. Cheguei até a bilheteria e comprei os ingressos, porém no momento em que fui entregar os dela, qual não foi meu espanto quando a fitei de mais perto e numa área mais clara! Aqueles olhos eram os de Suely, os conheci de imediato e ela também me reconheceu, não sei como. Antes de entrarmos para a sessão conversamos um pouco. Assim como eu ela não foi feliz no casamento e separou-se ficando com uma filha. Nesse segundo encontro a felicidade sorriu para nós dois.