O ASTRONAUTA SOLITÁRIO
Ou o céu havia descido para o chão ou asas imaginárias nos carregaram para ele.
Só tenho a certeza que toda aquela névoa branca eram as nuvens, e bailávamos entre elas. Nós dois entregues na magia de um beijo.
Mas com o passar de tempo, umas porções de abraços e doses carregadas de amor, você foi voando mais longe, mais alto.
Ergui meus braços entre as nuvens e os dedos estirados mal riscaram suas sandálias.
As tuas asas estavam cada vez mais firmes. Ganhou firmeza até que te perdi de vista.
Por dias voei pelos céus de Creta. Você não florava em canto algum, não emergia de vista.
Perguntei por ti ao pico das montanhas, as aves que cortavam os céus, até mesmo aos peixes que elas carregavam em seus bicos. Nada de ti.
Por fim, não me restara há quem consultar. A agonia de te perder de vista apertava os batimentos do meu coração.
Aperto.
Recostei-me no pico metálico. A noite estava mais sombria que de costume. A escuridão das nuvens apagou o brilho dos astros. Exceto a Lua.
Lua.
Só me restara a Lua para perguntar do seu sumiço.
Lembro que tuas asas batiam intensamente contra o vento. Você seria capaz de ultrapassar os limites da atmosfera e ganhar o espaço? E se sim, por que fugiu?
Precisava tentar. Asas sólidas de alumínio impulsionaram-me para o espaço sideral. Um astronauta delirante prestes a pisar na Lua.
Ao chegar, dancei pela superfície de queijo que me fazia flutuar igual seus beijos. Ou como a força de vontade da minha busca.
A bela Lua que pousei, respirou fundo ao me ouvir perguntar de seu paradeiro.
“As pessoas sempre me procuram para desabafar. Ouço lamúrias todas as noites. Olhares tão penosos que por muitas vezes me fazem chorar. A moça que tanto procuras, por muito sofreu.”
Não conseguia compreender o motivo de tanto sofrimento.
“Deve tomar cuidado ao amar. Tuas amarras calmas e suaves se tornam apertadas e sufocantes com tanto amor a ser dado.”
Aquilo me deixou destruído. O que faria se minha única razão era te procurar?
“Não há encontrará aqui, muito menos entre as estrelas. Algumas até já morreram. Deve seguir, e quando encontrar outro par de asas, tente acompanhá-lo na mesma harmonia. Somente assim não a verá partir”.