Stalker
O encontro de negócios havia sido marcado para quarta-feira.
Na segunda-feira o telefone toca, era ele.
Surpresa atendi...queria me ver já, antecipando o encontro.
Não demorei a me arrumar e sair, não, não me vesti para um encontro, mas nem sempre o simples e causal deixa de ser sensual, sem pretensões ou pensando em nada apenas que resolver o que tinha que resolver, um vestido preto e tênis.
De longe o vi, impossível não o ver no meio da multidão como alguém que me deixa intrigada no mínimo.
Somos iguais.
É uma discrição e postura que fala por gestos e olhares, mesmo quando não queremos.
Ele me viu chegando e parecia ansioso, mas discreto.
Senti um clima tenso. O olhar no meu, eu desviava e voltava a olhar para uns olhos de um verde impossível, meio tímida, meio segura, tentando decifrar naquele milésimo de segundo, aquela tensão que estava ali e aquecia e inebriava cada pedaço de mim.
Como é possível imaginar mil coisas em tão pouco tempo.
Eu queria falar, eu queria ouvir, queria prolongar, mas acabou e cada um foi para sua vida.
Mas não foi simples assim.
Cheguei em casa e abri o envelope que ele me entregou.
O contrato e num papel amarelinho um endereço.
21 horas.
-Você quer?
Eu sorri, eu sorri tentando decifrar o que ele quis dizer com o olhar, o que não percebi nas entrelinhas, não, não vou.
Das 20 às 21 hora só conseguia pensar nele.
Fui para a banheira, passei meia hora no meio de espumas e espumante e isso atiçou ainda mais minha curiosidade.
Ele estaria também criando um cenário para me receber?
Estaria ansioso para me ver?
Estacionei o carro em frente a uma casa branca e envidraçada, com um jardim bem cuidado que contornavam uma sinuosa e azul piscina...
Batia à porta...nada.
Estava entreaberta.
A casa toda em branco e azul...Hauser no telão. Espumante e duas taças ainda vazias.
Ele não estava lá.
Algo chamou muito minha atenção, páginas do que parecia um livro por finalizar.
Sentei-me á mesa e comecei a ler e sim, ele estava escrevendo um drama sem fim.
Meticulosamente descrevia cada detalhe de uma vida cheia de mistérios.
Ouvi o som de um carro estacionando em frente casa.
-Olá, você veio!
Sorriu e seus olhos brilhavam e eu pensei:
-Meu Deus..
Ele se aproxima e enche às duas taças e brindamos o que ainda não sei.
Só sei que queria ficar ali e esquecer o tempo e tudo mais, não me perguntar pq, não me fazer de difícil, não pensar em regras, em tabus, se devia ou não.
Eu o quero!
Ele tocou o ponto mais sensível de todo meu corpo e beijou suavemente, encostando seu corpo ao meu, senti o perfume, senti o calor do corpo dele colado ao meu.
Como num sonho onde você não consegue dar um passo ou gritar ou fugir eu apenas deixei meu corpo ser tocado, minha pele ficar arrepiada, também me permiti tocar e sentir
E todo o corpo dele me pertencia, cada toque era um êxtase, a respiração ofegante.
Os sentidos todos em sintonia e nesse momento ouço outro carro estacionar.
Foi como se um sinal de alerta de perigo, como quando um animal em perigo se coloca para preservar a vida.
A porta se abre e meu ex-namorado entra pela porta.
Não conseguia processar o que estava acontecendo, não me sentia segura, estava um pouco lenta ainda pelo espumante e só queria sair dali.
-Vem comigo!
-Eu não vou com você, o que quer aqui?
Ele me segurou forte e me levou para o seu carro, saiu a 200 kms por hora, estava alucinado.
-Não faça nenhuma besteira, o que está acontecendo?
Você estava me seguindo? Ele é seu amigo?
Vocês combinaram isso?
Só ouvi os freios do carro no asfalto.
Apaguei.
Acordo e tudo é branco ao meu redor, tudo claro demais, tudo frio demais.
Sinto dores e não consigo me mover.
- O que aconteceu, onde estou?
Uma mulher elegante e calma entra em meu quarto, olha para mim e seu olhar está perdido e triste.
Eu só quero respostas.
Ela é Márcia, mãe do meu ex-namorado e do Pedro com quem fui me encontrar.
Já havíamos terminado há meses, sem eu saber e inconformado com o fim do relacionamento ele me seguia.
Stalker
Me vigiava nas redes sociais, criava perfis falsos, eu desconfiava e bloqueava e ele criava outros e outros e outros, virou um obsecado.
Ele descobriu que eu e o Pedro estávamos em contato tratando de negócios porque entrou no meu notebook e espiava tudo o que eu fazia.
-Você não tem culpa. Ele passou dos limites
-Como assim o que aconteceu? Porque estou aqui?
-Ele tentou acabar com sua vida e a dele.
Fiquei sem ar.
-E como ele está onde ele está? E o Pedro?
-Ele não resistiu aos ferimentos.
-Por favor me deixe sozinha.
Eu queria morrer também, eu o amava, eu queria passar a minha vida com ele, mas o seu temperamento e sua ausência me faziam infeliz.
Mas ainda o amava e só queria chorar.
Um mês de dores, de solidão, de vontade acabar com tudo, de não ver sentido para continuar, me sentia culpada por tê-lo deixado.
Um ramo de flores coloridas num vaso branco.
Um bilhete.
-A vida continua, não desista. P
Não queria sentir o que senti, mas senti um ar fresco de primavera entrar pelo quarto.
Temos momentos na vida, eu em vários momentos, temos que decidir se queremos viver
Ou morrer.
Se apenas estamos sobrevivendo não estamos vivendo.
Se nossa vida não é como desejamos, se não estamos com quem amamos, se não vamos a lugares que gostamos, se não sentimos o sol na pele e água do mar renovando nossas energias, se não lutamos por quem amamos, se não lutamos para ser feliz nessa doce e breve vida, o que somos?
Que sentido tem nossa vida??
Trabalhar, comer, dormir? Aceitarmos ser infelizes ou lutar para fazer cada dia valer á pena??
Eu disse sim!