Centelha.

Sexta feira, 20:00, 15 de julho de 1928, e a pacata Raymond está repleta de vida. Kenad, um poeta famoso na cidade por redigir belíssimos textos e poesias, estava sentado no banco da praça lendo "O mercador de Veneza - Shakespeore - ele se deliciava numa boa leitura todos os dias ali naquele mesmo lugar. O que talvez ele não imaginava é que enquanto sempre se ocupava em sua leitura diária, era sempre observado por uma linda jovem chamada, Denise. Uma menina pouco popular na cidade, e que morava com seus pais. Sempre no mesmo horário ela o ficava admirando-o de sua janela, vislumbrava um dia tomar coragem para declarar todo seu sentimento ao amado poeta. Mas quando percebia o quão seria difícil desabrochar de sua timidez, ela acabava desistindo da ideia.

Mas certa noite, enquanto seu Kenad lia mais um de seus livros na praça, a garota resolveu sair do seu insólito estado, e progredir ao real. Saiu de sua casa e se aproximou com vagarosos passos em direção a ele, quando já estava por detrás do rapaz, imaginou o que dizer de repentino, "falo sobre as estrelas? Não, que assunto mais esquisito!" - Então surgiu uma opção em sua mente. A menina se sentou adjacente ao Kenad, e com o coração palpitando, ela sentia-se bastante nervosa. Ele muito educado cumprimentou-a mas não quis importunar a bela moça, e continuou calado lendo seu livro. Denise percebendo a quietação do momento, resolveu tomar a iniciativa:

- Cavalheiro ...

- Sim ?!

- Meu nome é Denise, qual o seu?

- Kenad! Você não me conhece?! - Perguntou o rapaz com um tom de brincadeira, como se quisesse dizer: "Eu sou famoso!" - ela meio desconcertada respondeu:

- Ahh me desculpe! É que não o reconheci de imediato.

- Tudo bem, não se preocupe Denise, também não é tão comum me reconhecerem.

- Mentira sua! - disse Denise.

- Digo à verdade, bela jovem! - respondeu Kenad.

- Mas você é famoso! Eu mesma já li todas as suas obras!

- Verdade? Que honra, me sinto lisonjeado por sua militância.

- Que isso! Você que escreve muito bem! Aliás, sempre tive vontade de te fazer uma pergunta.

- Pode falar.

- De onde vocês poetas, tiram tanta inspiração para escrever textos tão belos? - ele ficou impressionado com a pergunta da jovem, e respondeu:

- Olha Denise, na minha visão, poetas tiram as palavras do fundo do "Ser". Um lugar complexo, difícil de se alcançar, e muitas das vezes pouco compreendido por nós mesmos. Nem todos encontram o "tesouro", de onde vem a dádiva da inspiração. Os que encontram, mergulham e nadam por entre o oceano da vida e a poesia, onde as palavras se tornam uma continuação de nós mesmos. Através das experiências e tudo que nos rodeia, conseguimos explorar e se aventurar nesse mar sentimental tão magnifico. Agora mesmo, por exemplo, sinto meu interior estremecer, por uma razão que momento ainda não consigo explicar, mas que pretendo compreender, e quem sabe através de um poema, realizar.

Denise ficou encanta com a sensibilidade de Kenad.

- Que lindo! - respondeu - Acho que sobre o que estas sentindo, digo-te que talvez eu também esteja sentindo a mesma sensação, só que da minha parte, já faz um tempo que acontece, e ainda não consigo entender, mas gostaria muito de poder realizar.

- Verdade?