Para não dizer que não pensei em você
- Pelo amor de Deus salve ela. - Disse o menino olhando dentro dos olhos do paramédico. O homem, que trabalhava atendendo diariamente inúmeras emergências ambulatoriais ficou estático ante a tal pedido. Sentiu como se sua alma tivesse caído em um oceano eterno de desespero, e por alguns poucos segundos que duraram uma eternidade, ele continuou olhando nos olhos de Gustavo, o menino que segurava uma adolescente nos braços, até que com uma reação sobre humana, se virou em direção a garota:
- Vou verificar a pulsação dela, o que houve aqui?
- Não sei, eu acabei de chegar. Eu já tentei reanimá-la e eu-eu liguei pra emergência assim que vi que ela estava inconsciente. Eu não sei a quanto tempo ela está assim...
- Certo, o coração dela está batendo... e também está respirando, vamos colocar ela na maca e levar para o central.
- Eu vou poder acompanhar ela na ambulância?
- Deve.
O homem negro e de aparência gentil também não entendera como seus movimentos fluíram sem mesmo que ele percebesse. Parece que seu cérebro trabalhava usando cada neurônio a fim de atender ao pedido do menino. Sem muita demora, eles já estavam no hospital.
Por algum motivo que só os céus sabem, sua preocupação apontava diretamente ao garoto, e não exatamente à menina, talvez por isso ele pedira para dirigir a ambulância no lugar de seu parceiro.
Como de costume, havia uma equipe de enfermeiros na porta da entrada que prestaram os primeiros atendimentos. O homem só pôde ver até quando entraram no hospital com a maca (apressadamente). E quando o garoto, antes de desaparecer pela entrada, o olhou com aqueles mesmos olhos de antes, mas agora a mensagem do olhar não pedia mais "Socorro", mas sim algo próximo a "Obrigado". O que provocou no paramédico o mesmo efeito paralisante de antes, aquele sentimento de ter sua alma afundada em oceano de desespero.
Por que ele estava mais preocupado com o menino do que com a garota? Algo dentro dele simplesmente não sabia a resposta.