Quer jantar comigo?

Toc-toc. Quem é?

Uma batida leve na porta, me fez despertar de mais um devaneio, não obtive resposta quando perguntei de quem se tratava, então resolvi abrir. Fiquei surpresa com a beleza da figura à minha frente, tinha um perfume marcante e um sorriso capaz de capturar alguns desavisados, o que era o meu caso.

O que queres?

Não obtive resposta, talvez ela não soubesse o que queria, entrou na minha casa como quem tem domínio sobre tudo, andou pelos quartos, visitou a cozinha, sentou nas poltronas, como se estivesse em casa e eu nada fiz, deixei que ela continuasse, afinal ela parecia uma boa pessoa. A convidei para o jantar, ela balançou a cabeça, confirmou presença e eu tomei conta dos preparativos, uma comida simples, mas feita com muito carinho, mesa posta e cadê a convidada?

Ela partiu, sem me dizer o porquê.

Toc-toc. Quem é?

Dessa vez estava atenta, fui logo perguntando e ele respondeu, disse que era um amigo em potencial, aquilo me irritou, o achei astuto demais para o meu gosto. Abri a porta e mais uma vez, fui abatida com a aparência do tal Amigo, mas dessa vez me fiz de forte.

O que queres?

Ao contrário da outra vez, obtive muitas respostas, todas elas cobertas por uma certeza tão absoluta que era de se duvidar, ao menos ele sabia muito bem o que queria. Embora tivesse me falado claramente as suas vontades, ele agiu de forma duvidosa, perambulou pelos quartos, bagunçou alguns armários, andou apressado pela cozinha, revirou os potes e eu nada fiz, deixei que ele continuasse, afinal ele parecia uma boa pessoa. Quando lhe convidei para jantar, ele pareceu transtornado, mas disse que sim, outra vez tomei conta dos preparativos, montei a mesa mais enfeitada que pude, com tudo do bom e do melhor, mas cadê o convidado?

Ele se foi, deixou um bilhete dizendo que ele procurava por algo que eu não tinha, agradeceu pelo convite e finalizou dizendo que me visitaria. Nunca visitou.

Toc-toc. Toc-toc. Toc-toc. Toc-toc. Toc-toc. Toc-toc.

Não vou abrir, da última vez o estrago foi grande demais.

QUEM É? O QUE QUERES DE MIM?

Gritei para a porta, em um último fio de esperança, nada me foi dito, o silêncio se fez presente e eu me dei por satisfeita. A ironia maior é que a mesa já estava posta, a casa toda arrumada e enquanto jurava que não esperava uma visita, eu preparava o prato principal do jantar.

Não importava o quão caprichosa eu fosse, o convidado sempre ia embora antes do jantar, já havia tentando de tudo, mas nenhum deles escolhia ficar e a casa se sentia abandonada, eu me sentia também, por que todos escolhem abandonar?

Talvez eu seja afobada demais, ou calma demais, ou barulhenta demais, ou só demais, ou insuficiente demais.

Toc-toc. Quem é?

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 08/05/2020
Código do texto: T6941080
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