Métodos contraceptivos

Na mesa do café, enquanto eu passava manteiga em fatias de pão de forma, ela virou-se para mim e comentou, de forma casual:

- Acho que estou grávida.

- Como é que é? - Tartamudeei, a mão com a faca suja de manteiga erguida.

- Grávida - ela repetiu placidamente. - Nós vamos ter um bebê.

- O que é que você está dizendo? Quando nos conhecemos, fui bem claro que não queria ter filhos! E nunca lhe disse que havia mudado de ideia.

- Aconteceu - ela disse, tirando a faca da minha mão e continuando a tarefa de besuntar as fatias. Depois, as foi colocando na torradeira, duas a duas.

Apoiei a cabeça nas mãos, cotovelos sobre a mesa.

- Quando aconteceu? Como aconteceu?

- Quando... oh, não sei, talvez um mês atrás. Acho que esqueci de tomar a pílula, fiz alguma confusão com as datas.

O comentário havia sido feito de modo vago; ela certamente não estava sendo sincera.

- E o que você espera que eu faça? - Indaguei exasperado, erguendo a cabeça e a encarando.

- Que você assuma as suas responsabilidades. Vamos nos casar, e você vai ser um bom pai para essa criança.

- Escute, o nosso relacionamento funcionava justamente porque não havia nada disso de "responsabilidades" - retruquei. - Não quero me casar com você, muito menos por conta de uma gravidez involuntária! Isso é o fim da picada!

- O filho não foi feito sozinho - ela argumentou, dirigindo-me um olhar magoado.

- Claro que não, mas é fruto única e exclusivamente da sua negligência - repliquei.

- O que aconteceu, não pode ser mudado - ela afirmou, muito segura de si.

- Certamente que não - assenti. - Mas vou querer uma prova dessa sua gravidez inesperada.

Peguei meu celular que estava sobre a mesa e comecei a digitar um número.

- Para quem está ligando? - Ela indagou, desconfiada.

- Para a farmácia - retruquei, encostando o celular ao ouvido. - Vou pedir um teste de gravidez.

- Espere! - Ela gritou.

Afastei o celular da orelha e cancelei a ligação.

- O que foi? - Inquiri.

- Foi uma brincadeira - admitiu, cabeça baixa.

- Brincadeira sem a menor graça - redargui. - Mas vamos corrigir isso agora.

- O... o que você vai fazer? - Indagou, expressão preocupada.

- Se você ainda pretende manter o nosso relacionamento, sem surpresas e sem mentiras, vai ter que mudar o anticoncepcional. Nada mais de pílula, que você pode esquecer... ou parar de tomar.

- No que você está pensando? - Ela agora parecia bem mais preocupada.

- Implante contraceptivo. Se bem me lembro, o efeito dura alguns anos, e você não vai precisar mais se preocupar em tomar a pílula.

Ela passou o restante do café em silêncio.

À noite, quando voltei do trabalho, ela havia ido embora e levado todos os seus pertences.

- [04-05-2020]