Fotografia de Amor
"Neste mundo não existem coincidências. Há apenas o inevitável." (Yuuko Ichihara)
Essa história começou em um domingo no fim de tarde, estava eu assistindo um programa de música na tv, quando meu celular me avisou que tinha uma notificação, visualizei meu Facebook e vejo uma mensagem dizendo " Seja bem vindo ao meu rol de amizades", era de uma menina que eu tinha mandado solicitação mas não esperava que aceitasse, ela morava em São Paulo e eu no Rio de Janeiro, começamos a conversar e estava muito agradável, depois nos despedimos, ficamos curtindo e comentando as publicações durante um tempo mas não nos falamos mais.
Nessa época eu ainda era um mero acadêmico de Fisioterapia, e ela era fotógrafa, que por sinal de mão cheia, dona de um trabalho ímpar. Quase um ano depois, voltando da faculdade recebo uma mensagem dela, começamos a conversar novamente e saber das novidades, isso foi ficando frequente, viramos amigos como fosse de longa data, falei das maravilhas de minha cidade, lugares que eu mais gostava de ir e ela o mesmo. Descobri seus tormentos com a vida e com ela mesma, conheci seus trabalhos artístico, até que eu perguntei num determinado momento:
- E o coração como está?
- Está bem, batendo e funcionando - disse ela rindo
- Sei, agora sei que anatomicamente e fisiologicamente estão bem, como está de emoção?
- Eu tive um alguém que passou em minha vida que me machucou muito embora gostasse muito dessa pessoa.
- Entendo, mas não vale a pena sofrer por um alguém que apenas te machuca, espero que você encontre alguém bom e digno de sua companhia, não te conheço pessoalmente mas sei que merece ser feliz.
- Nossa, me tocou mesmo estando distante.
Ali já começara a ter uma certa admiração mútua, tínhamos gostos e pensamentos parecidos, ela apaixonada pela natureza e pelos animais, gostava de música, astronomia, artes e tinha bastante sensibilidade principalmente com o próximo, isso me deixava encantado.
Um certo dia num sábado a noite, vi que nossa conversa estava ficando mais séria, ambos estavam sentindo algo, mesmo parecendo difícil de acontecer devido a distância. foi quando ela disse:
- Gostaria muito de viajar para Portugal e acompanhada.
- Claro, e será muito bom principalmente na companhia de seu pai.
- Não quero que ele venha, tava pensando em ir com você e quem sabe com alianças de coquinho.
- Olha que vou aceitar, hein - disse eu brincando.
- Acho que encontrei um lindo jardim mas tenho receio de encontrar um lobo mal.
- A borboleta é livre para ir e voltar ao jardim, mas aconselho que é um jardim seguro.
- Olha, é notável que estou me interessando por ti.
- Eu também estou, e me sinto como se tivesse algo me preenchendo com uma energia boa.
- E as borboletas estão dançando em minha barriga.
Depois disso, começamos a conversar pelo telefone, e via Skype também, até que arriscamos a assumir um namoro mesmo sem nos vermos e a distância. Conversei com seu pai online ambos gostamos um do outro e decidiram vir ao Rio futuramente. Contei aos meus amigos da faculdade e eles não acreditaram, outros riam de deboche e diziam que era difícil ela vir ao Rio e era algo incerto. Muitas pessoas deram em cima de mim porém rejeitava por esperar a minha fotógrafa. Até que voltando da faculdade pra casa um amigo, chamado Tony, me disse:
- Cara, temos que ter uma conversa.
- Pode dizer.
- Vi você dispensando umas garotas lá na facul, isso não se faz, sei que tá amarradão nessa mina mas não sabe se vai dar certo e se ela vai vir mesmo.
- Eu sei mas vou ver se vai rolar mesmo.
- Ficar brincando de "The Sims" é que não resolver nada, faz o seguinte, as garotas que não quiser manda pra mim - disse Tony, sempre brincando.
A mesma não poderia vir só por apenas tinha 17 anos e eu 24, teria que vir junto do pai. Teve um dia que não aguentávamos mais esperar para nos vermos e ela comprou as passagens, porém toda vez que estava perto de embarcar ela cancelava, isso ocorreu três vezes devido ao medo, até que decidi que se furasse mais uma vez era melhor deixar quieto e cada um seguir sua vida. Ela comprou a passagem de ônibus e veio escondida numa sexta-feira a noite, chegaria sábado pela manhã no Rio.
Na noite do embarque, ao terminar a última aula na faculdade disse ao meus dois amigos Júlio e Rafael:
- Amanhã não virei para fazer o trabalho, estarei ocupado.
- Ué? O que fará ? - disse Júlio.
- Tenho que ir ao centro do Rio resolver algo.
- Em pleno sábado, sei não hein, tem algo a mais nisso, mas vai sim já está quase no fim o trabalho, disse Rafael.
Resolvi não dizer justamente para dar tudo certo, seriam surpreendidos. Na madrugada de sábado eu levantei, tomei um banho me arrumei e parti para a Rodoviária Novo Rio, minha mãe preocupada me mandou mensagem pra ver se tava tudo bem. Peguei o ônibus e fui. Minha amada e eu ficamos trocando mensagem para combinar as coordenadas na hora do desembarque, chegando lá estava suando frio e ansioso esperando para sua chegada, a mesma estava bem próxima, peguei meu celular e mandei uma foto da rodoviária para meus dois amigos em um grupo que criamos.
- Eu sabia, tava em missão ficou quietinho o safado, disse Rafael.
- Não queria queimar a língua de novo.
- Vá na fé, guerreiro - disse Julio.
Foi então que o portão de desembarque se abriu e as pessoas foram saindo, meu coração parecia que sairia do peito. De repente, ela cruzou o portão com sua mochila, estava linda parecia uma francesa, com seus cabelos negros, sobretudo marrom por baixo um vestido florido preto, com seu cachecol no pescoço, seus olhos tinha um delineado realçando sua pele clara.
- Eu disse que vinha, disse ela com aquele lindo sotaque paulista.
Apenas abracei bem forte e beijando sua testa, peguei sua mochila e a fomos para minha casa. Conversando no ônibus durante o trajeto ela veio me contando como foi a viagem e disse ao pai que estava na casa da amiga. Ela toda acanhada e retraída, não conseguia me encarar. A mesma conheceu meus familiares, todos gostaram dela, a levei para dar uma volta conversamos bastante e nos conhecemos melhor, combinamos de irmos a Niterói no dia seguinte para fotografar. A noite na hora de dormir sentei na cama onde ela iria dormir e disse :
- O dia pode terminar melhor.
- Como?
- Te dando um beijo de boa noite - respondi.
- Apaga a luz e deita aqui.
Deitei ao seu lado e demos nosso primeiro beijo juntos, foi maravilhoso, bem lento e apaixonado, e aumentando a intensidade a cada beijo e interação entre nós, não tivemos nossa primeira vez pois ali tinham pessoas na sala que poderia aparecer, porém abusamos de toda ousadia permitida no momento. Fui para sala dormir bastante feliz e eufórico.
No domingo, passamos um dia maravilhoso em Niterói levei para conhecer a praia de Icaraí onde fotografou o Pão de Açúcar de longe, sentamos na areia, apreciando a bela paisagem a nossa frente, ela pegou seus dedos e escreveu na areia '' Amo-Te", depois deitou sua cabeça em meus ombros toda vermelha e acanhada, nos beijamos apaixonadamente. Pedimos que um rapaz próximo tirasse uma foto nossa observando o pôr do sol. Passeamos pela cidade comprei dois colares da pedra Ágata a minha verde e a dela rosa, a levei para tomar um bom vinho, em um restaurante pequeno e aconchegante, observamos de longe um casal de velhinhos apaixonados numa mesa e achamos muito engraçado e bonito ao mesmo tempo. Depois disso voltamos pra minha casa.
Ela foi embora no dia seguinte, a levei na rodoviária e comprei uma rosa vermelha de recordação da sua vinda, dei um atlas de anatomia e falei termos técnicos para a mesma que amava quando fazia isso, nos beijamos e embarcou de volta para São Paulo, avisei seu pai o ocorrido ele ficou possesso da vida, mas depois se acalmou. Meses depois me formei, consegui um emprego na minha área e fluiu tudo bem.
Depois disso ela voltou para meu aniversário em Agosto, meus amigos finalmente a conheceram e gostaram dela. No período em que esteve aqui visitamos Petrópolis de ponta a cabeça principalmente a Catedral Pedro de Alcântara, ficou maravilhada com a cidade, levei também ao Jardim Botânico duas vezes, e na praia de Ipanema onde tiramos foto juntos na Pedra do Arpoador, foi aquela que mais marcou, pois ficou em seu quarto na cabeceira e foi minha capa de Facebook. Sentados na Pedra observando o mar, ela me disse:
- Foi um presente maravilhoso que você me deu.
- Você merece tudo de maravilhoso nessa vida.
- A sua solicitação de amizade no Facebook foi a melhor de todas, e eu jamais imaginaria que pudéssemos está juntos mesmo com toda distância.
- É verdade, nosso mundo se cruzou tomou um rumo diferente.
- Amo você.
- Eu também te amo, meu benzinho.
Na mesma semana visitamos também o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), Praça Mauá onde fizemos fotos belíssima lá principalmente com um sanfoneiro e no museu da Marinha em cima de um submarino, foi uma semana pra nunca mais ser esquecida, finalmente tivemos nossa primeira vez quando voltamos pra casa com tudo que tinha direito. Voltei junto dela para São Paulo, Conheci seus pais, passeamos em Piracicaba principalmente na Rua Porto, um local bastante conhecido e nesse dia estava acontecendo um festival por ali, contendo vários quiosque e barracas. Fomos também rapidamente à Boituva, Campinas. Passamos as festas de fim de ano juntos, e na noite da virada, Começamos o primeiro dia do ano da melhor forma, fizemos amor porém dessa vez, com uma música de fundo em seu celular, estava tocando Frank Sinatra, foi muito especial por ser o primeiro do ano e nosso sentimento estava aflorado demais embalados numa linda melodia, gostamos muito quando terminou. Disse ela:
- Nós vibramos na mesma frequência.
- Pude ter certeza que sim.
Toda vez que voltava pra casa ela chorava de saudade e eu com um aperto no peito.
A medida que o tempo passou fomos nos conhecendo mais e mais e gostando um do outro. Nos víamos a cada 15 dias, já tinha minha playlist de música para pegar a estrada sempre começava com baladas romântica de rock e a minhas preferidas eram " As Sweet As Your Smile'' do Edu Falaschi, " A New Moonlight " do André Matos e " Innocence" do Shaman dentre outras. Nas vezes que eu a visitava ficávamos observando o céu estrelado pela madrugada no quintal onde dava pra ver a mancha da via láctea vimos uma estrela cadente e fizemos um pedido abraçados em silêncio. Fui em sua apresentação de Fotografia artística, em Tatuí, conheci seus amigos e todos gostaram de mim. Eu comecei a tocar violino quando voltei ao Rio, e mandava sempre para ela o que estava aprendendo. Ela me disse:
- Me promete uma coisa?
- Sim, o que?
- Quero que toque para mim uma música da Lana Del Rey " Young e Beautiful''.
- Será um prazer imenso, meu Amor.
Tempos depois de relacionamento descobri que ela sofria de bulimia e depressão, ajudei da melhor forma possível, foi aí onde começou nosso tormento, pois até detergente e entorpecentes recorreu para sanar os problemas quando tinha crises, porém sempre a trazia para a razão, as pessoas ao redor achavam que era frescura, embora sabia que não. Muitas vezes ela queria terminar pois me amava e não achava justo me levar para o buraco, tivemos várias conversas e brigas por coisas simples.
Na sua última vinda ao Rio, levei ela ao meu primeiro Recital, onde toquei um "Allegro" de Shinichi Suzuki. Ela foi minha fotógrafa e gostou muito desse momento, nos divertimos horrores. Meses depois já em São Paulo, em um domingo, dois dias depois de completarmos 3 anos juntos, ela foi cobrir um evento na Avenida Paulista e na volta estava estranha, acabamos nos desentendendo pelo WhatsApp, pois estava trabalhando no sacrifício, e perguntei:
- Poxa, fiquei preocupado com você.
- Porque está falando assim eu tava trabalhando.
- Eu sei, mas fiquei sem notícias sua desde ontem e como tava passando mal fiquei preocupado.
- Era só perguntar meu pai, olha tava pensando nesses dias e é melhor você seguir porque não vou te fazer feliz, meu problema está piorando e não consigo mais ter um relacionamento saudável.
- Como assim? A gente pode procurar ajuda profissional, vamos tentar.
- Não quero ser um estorvo na sua vida, diversas vezes tentei cometer suicídio e não quero te envolver nisso, você tem um caminho brilhante pela frente.
- Tem um jeito pra tudo, não dessa forma.
- É melhor seguir, por mais que eu ame você não acho justo.
Não estava acreditando naquelas palavras, sabia que uma hora iria chegar esse momento pelo andar da carruagem, fechei a janela da conversa e fiquei arrasado o dia inteiro fui trabalhar bem chateado, tentei uma nova conversa porém em vão, ficamos sem se falar por um bom tempo, a bloqueei de todas as redes sociais pois estava me fazendo mal manter contato.
Até que uma noite tive um sonho muito intrigante, em que estava andando no Shopping da cidade com minha mãe e minha irmã, onde via de longe que minha agora ex-namorada estava nos seguindo de cabeça baixa, nesse sonho comentei com elas sobre e continuamos andando sem ligar, depois o mesmo sonho mudou para um rua que eu conhecia e era próximo ao meu trabalho, a medida em que chegamos na esquina, avistávamos uma pessoa sentada num banco debaixo de uma árvore existente, sem dúvidas era ela novamente nos olhando do outro lado da calçada, eu disse para elas seguirem que logo alcançaria. Foi então que atravessei a rua indo de encontro a ela, quando cheguei mais perto vi algo que me dava tristeza, a mesma estava me olhando, mas era com um olhar vago e distante, me dizendo:
- Que bom que vi você meu querido.
- Por que está me seguindo e o que está acontecendo contigo? - respondi meio preocupado.
- Sinto a sua falta e resolvi te procurar estou muito mal, creio que não irei aguentar.
- Mas foi você quem quis assim, eu lutei, lutei mesmo só que você me mandou embora.
- Eu sei... - disse cabisbaixa.
- O que me resta é orar por ti e seguir como queria que eu fizesse, por favor não me procure mais e nem me siga.
Na mesma hora ela começou a gritar como se estivesse entrando em surto e batendo na árvore, só que a medida em que fazia isso começou a cair várias seringas, navalhas dela, eu me assustei e fui embora, no caminho me bateu um sentimento de culpa tão grande que voltei pra tentar ajudá-la, só que era tarde, já tinha sumido dali, acordei com o coração disparado, falta de ar e me deu uma dor de cabeça. Fiquei preocupado na mesma hora, pensando ser um aviso ou coisa parecida, na mesma noite custei a dormir.
Duas semanas depois em que tive o sonho, recebi uma mensagem no meu Facebook, era ela. Levei um susto e tentei ser bem direto mas a mesma foi insistente querendo falar comigo de toda forma, lembrei de como fui sem coração no sonho e resolvi escutá-la. Ela me falou que piorou drasticamente o quadro de depressão e bulimia depois que nos afastamos, e que ninguém teve paciência em ajudar. E disse:
- Tentei de todas as formas, mas sinto que estou me afundando.
- As pessoas estão cada vez sem coração, não tem mais empatia.
- Sim... Tentei procurar você novamente mas fiquei com medo de ficar bravo e não me escutar também, só que dessa vez eu tive coragem e era o único que foi humano comigo.
- Se me conhece bem sabe que jamais faria tal coisa.
- Eu sei, só me ajuda te peço humildemente...
- Claro, vamos procurar médicos e reverter esse quadro, sempre tem jeito para tudo, menos para a morte, e vou te ajudar a sair dessa.
Contei sobre o sonho que tive com ela, o mais curioso e espantoso ao mesmo tempo, era que a mesma disse que se encontrava assim como eu a via no sonho e os objetos cortantes que caia da árvore, me confessou também que estava pensando em tirar a própria vida por meio desses. Coincidência ou não aquilo era um aviso que minha missão na vida dela ainda não tinha acabado.
Ajudei-a com seu tratamento mesmo a distância, felizmente ela ficou melhor e recuperou aquela energia e vitalidade que tinha antes, conseguiu um emprego na agência de turismo como fotógrafa principal, nos tornamos amigos e todo aquele Amor que sentimos se transformou em Amor de Irmão sempre ajudando um ao outro, nossos belos momentos ficarão na mais bela lembrança de ambos como uma fotografia de Amor, a primeira rosa que eu dei, ela ainda tem até hoje colado em seu caderno de poesias com durex contendo data e hora pois foi muito especial, me fez um poema chamado " Ele não me deixou morrer", fiquei feliz pela homenagem. Ainda trabalhamos juntos em um projeto que era "Impacto dos distúrbios alimentares nas pessoas", onde ela fez a parte fotográfica e eu complementei escrevendo um artigo de Neurociência sobre o assunto e foi um sucesso.
Depois disso, seguimos nossos rumos porém com a missão cumprida, mas mantendo o contato quando era necessário e o nome dela, que passou em minha vida... É Jennifer.
FIM