Sabor da Maçã
"Não importa o quão insignificante um encontro ou um incidente seja, ele sempre terá uma influência. Não importa o quão curto tenha sido o tempo, a ligação não desaparecerá." (Yuuko Ichihara)
Nos conhecemos em 2018, foi numa Sexta-feira em meu dia de folga e depois da aula de música fui ao trabalho visitar os amigos como sempre faço e lá estava ela a bela morena dos cachos, lembrando a Moana, começando seu estágio por lá, a cumprimentei assim como fiz com todos e um breve instante começamos a conversar bem formal, ela viu que eu carregava case do meu violino e perguntou se tocava há muito tempo, e por aí a conversa foi. Um mês depois a mesma começou a estagiar nos meus turnos e passamos a conviver diariamente durante a semana, e uma afinidade tanto de trabalho como de amizade foi surgindo, as pessoas em nossa volta percebiam como nos demos bem, ambos alto astral e ela me fazia ser eu mesmo sem perder o profissionalismo. Trocamos WhatsApp, a medida que conversávamos, vimos que tínhamos bastante coisas em comum, pensamentos parecidos, o interessante que ambos se sentiam bem sem peso e com liberdade nas prosas, porém tinham um alguém em nossas vidas e de longa data.
Até que um dia quando eu estávamos na bancada da recepção, no fim de expediente conversando com todos, nos olhamos por um instante, parecia que tinha passado uma corrente elétrica e atravessado nossos peitos, ela ficou sem jeito e olhou pra baixo dando uma risada de leve e eu sem jeito também desviei o olhar.
Meses depois, meu relacionamento de 3 anos veio ao fim, perdi um ente muito amado o qual sinto falta até hoje, ela finalizou o estágio e não nos vimos mais, o trabalho ficou meio sem graça nas horas do almoço não tinha aquela presença alegre que proseava comigo, quase não nos falávamos pelo WhatsApp mais, seguiu sua vida, presumi.
Minha lembrança favorita foi a da noite em que ocorreu um Eclipse Lunar Total, onde ficamos esperando a Lua surgir na forma de "Lua Sangrenta", cada um em sua casa mandando mensagens.
- Cara, cadê essa lua?
- Já era para está aqui.
- Fica aí que ela virá.
Fui para o quintal e lá estava a lua toda vermelha e linda, nós fotografamos e mandamos um para o outro felizes, não era todo dia que tinha um evento astronômico assim. Depois disso o que restou foi me dedicar ao Violino onde mandei muito bem, nas apresentações de Recital junto da orquestra da escola de música, depois numa feira literária, isso me preencheu.
No final do ano, numa terça-feira tive uma baita surpresa ao chegar no trabalho, entrei na sala de atendimento e lá estava a bela morena vestida com seu jaleco branco e o cabelo preso, meio surpreso perguntei:
- Oi... Você por aqui, veio nos ajudar ?
- Vim cobrir férias, será por um período curto
- Que bom, fico feliz que tenha voltado.
- Nem me procurou nesse tempo todo, isso que é amigo, brincou ela.
- Nunca fui de procurar as pessoas por achar está incomodando
- Era só mandar mensagem.
Por um breve momento me perguntei se era obra do destino ela ter voltado, não demorou muito e ela de temporária foi efetivada. Nossa afinidade era como se nunca tivesse ido embora.
Agora, já em 2019, muitas surpresas viriam para este, entrei em um novo relacionamento, ajudei minha ex com os conflitos emocionais, novos amigos surgindo, um novo eclipse lunar em Janeiro, este pela madrugada, onde acompanhei sozinho com a câmera no meio do quintal.
Minha amizade com a moça dos cachos estava indo bem, ficamos mais próximos, a mesma era muito devota, e eu também embora andasse meio afastado, fui convidado para tocar em um evento de sua comunidade, haviam amigos, conhecidos e o companheiro dela, todos muito agradáveis, foi muito legal, algumas semanas depois ela soube que eu engatava um novo relacionamento, um pouco preocupada comigo me alertou sobre os males de entrar nessa nova etapa, uma vez que havia passado por um complicado e ficou com medo de seu amigo passar por aquilo novamente, só que havia algo a mais em suas palavras.
No trabalho estávamos cada vez mais entrosados, novos aprendizes chegaram para somar na equipe e todos se deram bem, só que entre nós começou a surgir uma admiração, muitas vezes dávamos abraços bem fortes antes de começar o turno dos atendimentos, e depois foi muito frequente o carinho de amigo. Trocamos músicas e poesias pelo whatsapp, além de conversas agradáveis e engraçadas até altas horas, até planejou uma festa para meu aniversário, e eu sempre perturbando essa pequena. Foi muito bom, pois todos os pacientes e amigos estavam presente e ela a organizadora. Depois a comemoração seguiu na minha residência, mostrei minha cerejeira que tinha plantado há poucos dias, ela me sugeriu chamá-la de "Hana" que significa Flor em Japonês, fazendo referência as pétalas de rosas da árvore. Na hora em que fui levá-la até o portão junto com outra convidada, nos despedimos e ao nos abraçarmos sentimos algo diferente como se houvesse passado uma corrente elétrica.
Meses depois brincando um com o outro durante o almoço, ficamos bem próximos um do outro, e algo de estranho aconteceu pois sentíamos a química existente entre nós, quase nos beijamos diversas vezes em que estávamos sozinhos, ou quando nos abraçávamos. Nossos corpos desejava estar entrelaçados e se beijando embora não dizíamos, nossos olhos e a linguagem corporal falavam mais alto, com o passar dos dias essa sensação foi aumentando e tava cada vez mais difícil resistir, não poderíamos morder a maçã, tínhamos nossas vidas com um outro alguém que não merecia isso, e foi o freio que nos impedia de cometer uma catástrofe.
Muitas pessoas em nossa volta disseram ou perguntavam se tínhamos algo pois éramos muito próximos, e que só nós não víamos que havia algo mágico acontecendo, que éramos perfeitos como a cereja do bolo, a azeitona da empada e por aí vai, mas desmentimos tudo.
Numa certa noite conversando online, vimos que estava indo para um caminho diferente e confuso. Eu disse:
- Mais um pouco nossos mundos iam se colidir esses dias.
- Pois, é.
- Embora eu queria...
- Sério?!, disse ela surpresa.
- Por um breve momento sim...
Depois disso combinamos, não ficar tão próximos pois não queríamos estragar a vida de ninguém e nem relacionamento, isso estava nos deixando mal, embora quiséssemos fazer aquilo mesmo não podendo, principalmente ela que era católica devota e praticante, estava numa luta interna, dizia que era como se existisse duas dela naquela situação, "A Louca e a Santa", fazendo referência a música da Sandra de Sá.
Porém na semana em que ela entraria de férias do fim do ano, numa terça feira, não tivemos como resistir mais, ficamos bem próximos um do outro na sala de atendimento sentados na maca sozinhos mas com medo de aparecer alguém, minha respiração ficou ofegante meu coração começou a acelerar e demos um selinho rápido, ficamos atônitos pois nunca fizemos isso antes, ela estava de batom rosa, tive que limpar antes de começar o segundo turno dos atendimentos e sem que percebessem.
A noite conversando ela me disse:
- Aquela cena de hoje não sai da minha cabeça.
- Da minha também não.
- Foi difícil resistir a você todo esse tempo, nunca fiz isso na vida.
- Se você tivesse sem batom seria pior.
- Tenho que viajar logo, você é uma tentação, Vamos ser expulsos do Paraíso.
- Não se preocupe, não vou chegar perto de você.
- Por que?
- Não quero te atrapalhar em nada, e nem sua vida.
- E você quer isso mesmo?
- Não sei...
- Certo.
Isso mexeu conosco de uma tal forma, que ficamos impressionados durante um dia inteiro. Na quinta feira, era o dia em que ela iria entrar de férias, trabalhamos normalmente e durante o almoço me escreveu uma poesia cheia de sentimento sobre a "Maçã", fiquei surpreso pois nela continha o desejo de querer terminar o que começamos. A medida que o as horas passavam batia um aperto em nosso peito pois iríamos ficar longe por um tempo, ela estava quase se emocionando, mas no fim de expediente fomos buscar nossas mochilas no armário, para irmos a confraternização no Burguer King, ficamos de frente um para outro, dei um abraço bem forte nela que tinha sempre um perfume agradável como aroma campestre, brisa leve e cheiro de natureza com chuva, nos encaramos eu estava com o coração acelerado e minha respiração totalmente ofegante novamente, foi quando ela me perguntou:
- Tem coragem?
- Tenho sim...
Foi então que nos beijamos intensamente, sem nos importar se seríamos descobertos ou não, apenas queríamos provar do néctar proibido que nos prendia, meu braço e minha mão direita atrás de sua nuca e a outra na cintura puxando para junto de mim, ficamos alguns minutos nos beijando como se fosse a última vez que nos víssemos, nossa interação era além desse mundo, como se ardesse em chamas cada beijo dado entre nós, o toque era tão avassalador, até que por fim mordi de forma caliente seus lábios e nos afastamos totalmente sem fôlego e eletrizados e nos sentindo como Adão e Eva no Éden mordendo a Maçã. Disse ela me abraçando:
- Vou sentir saudades...
- Eu também irei...
- Finalmente mordemos a Maçã, disse rindo.
- Já era tempo.
- Você desperta todo lado negro que há em mim, uma hora eu não vou controlar mais.
- Essa é a intenção, a louca está quase saindo da jaula.
Combinamos de não contar a ninguém e fomos para a confraternização, rimos com todos, nos despedimos e cada um foi pra suas casas. A noite ela me chamou no whats dizendo:
- Eu amei, foi do jeito que eu esperava, não poderia partir sem morder a maçã, disse ela com tom de alegria.
- Eu também gostei muito, foi maravilhoso - respondi ainda impressionado com o acontecido.
- Sei que foi dose única mas encerro meu ano muito bem.
- Foi o presente de Natal.
- Sabe, eu não sou chegada a maçã, mas essa foi a melhor que eu provei na vida.
- Pra mim foi uma delícia, ainda sinto o sabor dela na minha boca.
- Fiquei com gosto de quero mais.
- Somos dois.
- Não devia te contar, mas você mexe muito comigo.
- Sei que é errado mas penso da mesma forma.
Combinamos de que isso não poderia acontecer novamente quando voltasse de viagem por mais que tenha sido inesquecível poderia custar caro principalmente nossos relacionamentos, uma vez que desejávamos intensamente um ao outro como homem e mulher. Terminei desejando uma boa viagem.
Assim então partiu na manhã seguinte e não nos falamos nesse período devido a falta de sinal, apenas trocamos algumas mensagens esporadicamente. A única forma de mantermos em sintonia era vendo a Lua no céu de verão, onde cheguei a fotografar a última Lua Nova do ano para ela ou lembrar com carinho do que aconteceu entre nós. Seguimos nossas vidas normalmente, o ano terminou porém a saudade era imensa.
O que irá acontecer daqui pra frente quando ela voltar de viagem não sabemos, o destino irá dizer. Mas com certeza não seremos mais os mesmos depois daquele fim de tarde em 5 de Dezembro, pois nossa ligação nunca desaparecerá.