Nosso futuro
- E o que você pretende fazer, depois que se aposentar? - Perguntou Emílio para a esposa.
- Vou fazer Letras - afirmou Raquel confiantemente. - Quero me especializar em Literatura Latinoamericana.
- Sempre pensei que iríamos usar nosso tempo livre para viajar - arguiu Emílio. - Não imaginei que depois de dar aulas por 25 anos, quisesse continuar no magistério.
- Eu não pretendo mais dar aulas. Quero ser pesquisadora - replicou Raquel. - Sempre quis ser pesquisadora, mas tínhamos contas para pagar e filhos para criar. Agora, posso me dedicar ao que realmente gosto.
- E as viagens que pretendíamos fazer? - Questionou Emílio, decepcionado.
- Nós as faremos, nas férias escolares - prometeu Raquel.
- Ah, e ainda quer fazer um curso presencial? - Surpreendeu-se Emílio.
- Claro que só poderia ser presencial - Raquel cruzou os braços. - No que pensou? Que eu iria ficar em casa, sentada na frente da tela de um computador?
- Na nossa idade... - suspirou ele.
- Eu sou seis meses mais velha do que você, - atalhou ela abrindo os braços - e não estou reclamando de idade. Somos jovens ainda, oras!
- É claro que não estamos velhos para voltar à universidade, mas confesso que tinha uma outra visão de como seria a aposentadoria...
- Falei por mim, Emílio. Se o seu projeto de vida agora é ficar em casa, quem sou eu para questionar?
Emílio fez um gesto negativo.
- Nem pensar. Não vai se livrar de mim assim tão fácil.
Segurou a mulher pelos ombros e disse, muito sério:
- Decidi também me matricular em Letras. Ouvi dizer que os estudantes fazem umas festas muito animadas, com bebida liberada e garotas bonitas...
- Ora, mais que saidinho! - Ralhou Raquel.
- Eu não vou querer que nenhum rapaz com idade para ser seu filho dê em cima de você - riu Emílio, abraçando-a.
- [15-04-2020]