Eu sei que vou te amar

CONVERSAVA com a mulher sobre tempos idos, até relembraram o início do amor deles. Fora algo inusitado, amor do tipo à primeira vista. E algo ligado à poesia. Vivia-se os tempos da ditadura cruel, aquela época que abominam ainda hoje. Havia censura a livros. O cara era doido por poesia e queria ler o livro "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada", de Neruda. Mas anao encontrava o livro. Então numa roda de amigos e amigas, todos jovens, ele disse isso, aí ela afirmou: - Pois eu vou conseguir esses poemas pra você ler. Não conseguiu o livro, uma religiosa apenas deixou-a copiar num caderno espiral com sua linda cligrafia todos sos poemas. À noite, na pracinha ela lhe entregou o caderno que ele gurda ainda hoje. Conversando sobre o fato ela disse:

-O caderno funcionou, não foi?

Ele riu e respondeu;

- Em parte, mas o que decidiu mesmo foi quando juntos, na pracinha cantamos desafinados e baixinho a música "Eu sei que vou te amar e declamei desajeitado os versos do Soneto da Fidelidade.

E com a voz rouquenha voltou a declamar:

"De tudo, ao meu amor serei atento antes/ E com tal zelo, e sempre, e tanto/ Que mesmo em face do maior encanto/ Dele se encante mais meu pensamento// Quero vivê-lo em cada vão momento/ E em seu louvor hei de de entoar meu canto/ E rir meu riso e derramar meu pranto/ Ao seu pesar ou seu contentamento// E assim quando mais tarde me procure/ Quem sabe a morte, angústia de quem vive/ Quem sabe a solidão, fim de quem ama// Eu possa dizer do amor que tive; / Que não seja imortal posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure".

Depois deu um pihgarro e perguntou a ela:

- Viniciusé ou não melhor que Neftali Ricardo Reyes?

Ela riu e perguntou:

- Bicho, quem é esse cara?

Ele disse rindo:

-ÉPablo Nerud, o nomepróprio dele é esse. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 13/04/2020
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