Quando desperta o amor
Eu estava sentado na minha escrivaninha fazendo meu trabalho quando ela se aproxima e se senta próximo.
-Atrapalho?
-O que? - eu indaguei, absorto em meu trabalho
-É meu intervalo e achei interessante sentar perto de você.
-Ah, obrigado! É muita consideração sua - respondi - fique à vontade
-Sabe, eu estou pensando se termino ou não com meu namorado...
-Hã? e eu, onde entro nisso?? pode me explicar?
-Já, já explico...
Você é a Cláudia né? - olhei pra ela querendo confirmação
-Pra ser mais precisa Maria Cláudia, muito prazer João
-João Ricardo - completei
-Nossa, nossos pais gostam mesmo de nomes compostos
-Sim e eu também
-Eu também, João... João Ricardo. Sabe, eu tenho te observado há tempos. Você é muito competente no que faz, é simpático. Vejo que cumprimenta todos aqui, inclusive os faxineiros...
-Eles também são seres humanos - cortei
Percebi com o rabo dos olhos que ela me observava bastante e sorriu
-Tenho que voltar pro meu trabalho, terminou meu intervalo. Prazer em te conhecer João... João Ricardo - ela riu e completou meu nome. A gente se vê de novo?
-Com certeza - eu respondi mas sem querer mostrar muito interesse, apesar de já estar interessado nela há muito tempo. Ela era bonita, inteligente. Eu andei perguntando sobre ela pra algumas meninas do nosso departamento. Mas do meu jeito pois eu era muito tímido.
No outro dia, lá estava eu novamente nos meus afazeres quando Maria Cláudia se aproxima, me cumprimenta e pede se pode se sentar de novo ao meu lado.
-Claro, Maria Cláudia, fiquei à vontade, como ontem. Seu intervalo?
-Sim, e preferi vir aqui do que ficar com aquelas pessoas chatas.
-Então eu não sou chato? - eu olhei pra ela e ri
-Digamos que você é "menos" chato - ela riu olhando pra mim, quando eu olhei pra ela também - Sabe que você tem um sorriso lindo?
-E... eu? nossa, fiquei encabulada agora, mas obrigada.
-É sim, acredite em mim, você também é muito simpática, calorosa com as pessoas, sorridente...
-Por favor, para, senão vou ficar vermelha...
-Você já está - completei - mas não se preocupe eu também sou assim.
-Sabe, eu vejo como você trata as pessoas aqui e...
-Você já me falou isso, esqueceu? você também é assim, calorosa com as pessoas, bondosa, sorridente - tá vendo, to repetindo tudo que já falei também
Nós dois rimos e quando paramos nos olhamos por alguns segundos como se estudando um ao outro. Pareceu uma eternidade aquele momento.
-E... e como está com seu namorado? Se resolveram? (eu torcia para que ela não voltasse mais com ele)
-Sim, terminei tudo com ele. Sabe, ele é grosso, mandão, quer as coisas na hora dele, nossa... Eu não tava aguentando mais ele
Nossa, como fiquei feliz com aquelas palavras. Elas soaram como um bálsamo pr mim. Bom, não sei se pra ela. Vai que de repente ela resolve voltar... Não, não quero pensar nisso...
Arrisquei um pedido
-Você gostaria de jantar comigo um dia desses? - parece que as palavras saíram como um torpedo
-Nossa, eu me sentiria muito feliz em ser convidada por você, claro!
Arrisquei de novo
-Então... que tal hoje??...
-Hoje? - ela se fez de difícil - hoje... não sei... ah, tudo bem eu desmarco um compromisso com uma amiga e iremos. Onde você vai me levar?
-Escolha você!
-Não, me faça uma surpresa, João Ricardo.
-Está bem. Depois me passa o endereço pra eu te pegar.
-A gente se vê então, heim? - ela fez um positivo. Como era linda!
Ela saiu e eu a segui com um olhar sorridente. Os cabelos dela, negros, em forma de rabo de cavalo esvoaçavam, dançavam pra direita, pra esquerda...
Ela falando meu nome ficou lindo na voz dela! Como ficou! Eu por instantes fiquei anestesiado até me dar conta do meu trabalho e voltei à rotina.
A noite estava cheia de estrelas e uma lua brilhava no ceu, convidando os namorados a se abraçarem e quiçá se beijarem.
-Nossa, estou tão satisfeita que mal consigo me mover.
-Vem, eu te seguro - eu brinquei com ela.
-Olha, João... João Ricardo, lá em cima, que linda a lua...
-Nossa, que linda mesmo. Ela está olhando pra nós...
-Não - ela corta - ela olha pra todo mundo
-Não, nesse momento ela está olhando pra nós.
De repente nos olhamos interessados um pelo outro.
-E... eu... eu te levo pra casa - eu disse, encabulado e disfarçando nossos olhares.
-Obrigada, cavalheiro. Pois é, já não existem mais cavalheiros como antigamente... Exceto você!
-Obrigado, querida, e por falar nisso agradeço sua agradável companhia nessa noite maravilhosa.
-O mesmo digo eu, caro João Ricardo.
Nos olhamos novamente com interesse e com olhar sério.
-Vamos andando, é melhor - eu cortei
E lá fomos nós andando pela calçada com letreiros iluminados piscando e a lua sobre nossas cabeças nos seguindo. Em dado momento ela pega as duas mãos e envolve a minha, encostando a cabeça no meu ombro.
-Por falar nisso e seu compromisso, como ficou?
-Eu menti pra você só pra ver se você insistiria no convite.
Nós dois rimos.