Cafe Bleu (Perfect Blue)

Combinaram que antes do filme iriam ir na cafeteria do shopping para experimentar dos cafés caros. "Cappuccino" era o que ele ficava repetindo.

Os dois faziam jogos mentais até no caminhar, mesmo que inconscientemente. Dessa vez Gustavo acelerava o passo ou retardava para ver se Alessandra o acompanharia ou se continuaria andando sozinha até a cafeteria. Embora isso mostrasse muito mais da personalidade dele do que da dela, talvez em sua mente ele pensasse que se ela acompanhasse o passo dele, então significaria que Alessandra prestava atenção e se preocupava com ele, já no caso contrário, significaria que ela não o considerava realmente uma boa companhia.

Quando ele começou a ficar um pouco para trás na caminhada se surpreendeu quando Alessandra o pegou pelo pulso segundos antes dele sequer poder reagir e o saiu puxando com os passos realmente apressados para a cafeteria. (Enfatizo que ela já havia feito isso antes e isso não queria dizer nada de especial, simplesmente era um reflexo feminino natural dela para situações onde a urgência é necessária)

- Gustavo a gente não pode ficar perdendo tempo aqui senão vamos atrasar para o filme... (Disse ela quando o puxava)

- Alessandra espera um pouco, não precisa ter tanta pressa... - Reclama ele enquanto ia recuperando o equilíbrio.

...

Se sentaram enfim na primeira cafeteria que encontraram, nem era a mais chique do shopping porém era a mais aconchegante. Os dois estavam em uma mesa de madeira que ficava um tanto longe do balcão, e depois de dois minutos esperando Alessandra reclama:

- Acho que a gente tem que ir até o atendente... - Ela diz isso e Gustavo imediatamente levanta dizendo:

- Então espera que eu vou lá rapidinho...

Um pouco depois volta até a mesa com uma expressão tímida, ele havia sido alertado (um tanto grosseiramente) de que deveria esperar na mesa até que o garçom chegasse

- Gus o que você pediu?

( Ele entrega uma folha pra ela )

- Eu ainda não escolhi, tem muitas opções mas eu estava pensando no Cappuccino... e você vai querer o quê?

- Para mim? Acho que um cafezinho já está bom. - Disse ela após verificar os preços que eram razoavelmente altos para as bebidas mesmo que simples.

- Alessandra, se você for tomar só um café simples então a gente vai embora e ir pro cinema agora. - Disse ele percebendo que ela estava sendo modesta por causa do preço. Ela até insistiria em pegar o mais barato por educação, mas já conhecia Gustavo e sabia que ele insistiria até ela pegar algo caro, então ela apenas responde com sinceridade:

- Eu quero um Latte.

- Um o quê? - Pergunta ele preparando um trocadilho de baixa qualidade. Ela percebeu o trocadilho por que nesse momento ele estava com aquele sorriso bobo no canto do rosto, mas mesmo assim Alessandra deixou a piada continuar...

- Latte...

- Au Au. - Diz Gustavo enquanto o sorriso bobo ia crescendo no seu rosto. Ela põe a mão sobre a face e de repente está com o mesmo sorriso imaturo dele.

- Nossa Gustavo eu sabia que você ia falar isso, você é péssimo rsrs.

- Se você está rindo é por que foi engraçado... - Acrescenta ele ainda sorrindo.

- É tão ruim que eu ri de vergonha...

Depois de servidos, Alessandra esquecera de sua pressa e começou a dizer sobre coisas da própria vida. Talvez ela não tenha percebido, mas os olhos dele brilhavam enquanto ela falava. No fundo, Gus admirava Sam com toda sinceridade possível, era como se fosse um fã dedicado dela. Os dois as vezes entravam em tal sintonia, que ele já sabia o que responder antes mesmo dela falar e sabia como entrar profundamente nos pontos importantes da conversa sempre sendo imparcial. Isso era um dos talentos dele: Ser um bom ouvinte. Acontece que Alessandra preferia muito mais falar sobre "Problemas" enquanto Gustavo preferia falar sobre como resolver esses "Problemas". Por isso a conversa, as vezes ganhava tons de debate e fluía relativamente bem.

Perdido em seus próprios pensamentos (enquanto ela ainda falava), uma voz ecoa pela distraída mente dele: "Ela é tão incrível, é como se ela fosse a perfeição em pessoa. Eu realmente me sinto privilegiado de poder ser amigo dela. Será que um dia ela vai saber o quanto eu admiro ela? Provável que não, porém enquanto eu estiver por perto, vou garantir com todas minhas forças que ela esteja sempre feliz..."

Os dois se levantaram e caminhavam para o cinema, isso com 15 minutos de antecedência (o que era mais que suficiente). No caminho aconteceu algo de intrigante: Em vez de andar com uma postura mais distante, Gustavo agora procurava alinhar seus passos com os dela enquanto delicadamente se aproximava, isso pois inconscientemente tinha esperança de que ela andaria abraçado com ele conforme fez anteriormente. Mas para sua decepção Alessandra não tomou a iniciativa de o abraça-lo. E se existia algum truque para atiçar Sam, então "ser carinhoso" não era o certo. Para Gus aquilo era um péssimo sinal. Se ela, antes de irem na cafeteria, estava carinhosa e parou de ser depois que sairam de lá. Então significava que ele fez algo de errado durante esse meio tempo, talvez fosse as piadas, ou o fato dele ter acabado de pagar algo pra ela (sim, isso fazia uma enorme diferença no psicológico dele). Ele acabou pegando esse péssimo hábito de pensar demais sobre as coisas por causa de sua introspecção.

O intrigante aconteceu quando ele teve a intenção de se afastar, e enquanto sua mente ainda dava o sinal para seus pés se moverem, Alessandra o pegou pelo pulso e depois cruzou os braços de ambos em um instante que não passou dos 2 segundos. Gustavo ficou pálido ao ter seu movimento interrompido tão subitamente, mas ao mesmo tempo uma sensação de alegria e recompensa o tomou pelo fato de estar perto da pessoa que mais gostava.