Samba em Prelúdio
CUMPRINDO as determinações das autoridades, o casal de idosos aproveitava o tempo do confinamento para rememorar o passado, principalmente o começo do seu namoro, romance e amor de toda a vida. Seu grande amor. Que nascera como quase todo grande amor: de forma inusitada, à primeira vista, sem necessidade de arranjos ou armações. Ele surge e priu.
De mãos dadas, sentados no divã, com a tevê ligada e o som bem baixinho, sem que tomassem conhecimento das tristezas no noticiário, riam e às vezes seus olhos marejavam recordando que se encontraram pela primeira vez na casa de uma amiga dos dois, e no momento que foram apresentados e, poke!, atraídos um pelo outro, tocava uma musica numa radiola de pilha. Cantaram baixinho e um pouco desafinado Samba em Prelúdio:
"Eu sem você não tenho por quê/Porque sem você nao sei nem chorar/ Sou chama sem luz/ Jardim sem luar/ Luar sem amor/ Amor sem se dar/ E euu sem você sou só desamor/ Um barco sem mar/ Um campo sem flor...".
Não terminaram, chorando de alegria e amor. Inté.