Noite de Sábado
Enquanto me arrumava e jantava, ouvia o álbum Felicidade Instantânea, do CPM 22. Era uma quente noite de sábado, fim de novembro ou começo de dezembro, não lembro ao certo. Eu estava muito empolgado porque iria me encontrar com ela. Seria nosso primeiro encontro. Nos conhecemos pela internet, eu puxei conversa com ela numa rede social, e já estávamos nos falando há umas duas semanas. Aquele sábado seria ideal para um encontro porque suas provas da faculdade haviam terminado um dia antes, na sexta-feira.
Vesti-me, camisa azul, calça jeans clara e tênis preto. Terminei o jantar, escovei os dentes e desliguei o som. Despedi de minha mãe e sai de casa. Caminhei até o ponto de ônibus. Fiquei ali por uns minutos sentindo aquela brisa fresca, os carros passando pela rua, pessoas andando em busca de diversão.
Após uns dez minutos o ônibus chegou, fiz sinal, entrei, cumprimentei o motorista com um boa-noite, paguei o trocador, passei pela roleta e me sentei à janela. Fiquei observando o trajeto com um certo prazer, em alguns minutos as casas do meu bairro deram lugar aos prédios do centro da cidade, tudo iluminado, luzes que enfeitavam ainda mais aquela noite especial.
Desci do ônibus e caminhei até local combinado. Cheguei naquela praça e vi que ela já se encontrava lá, me esperando. Era 22:45. Cheguei perto dela e nos cumprimentamos com um abraço e beijos no rosto. Ela usava uma camisa preta apertada, calça jeans e tênis Vans. Fiquei encantado com sua beleza, ela era linda tanto nas fotos que eu vira na internet quanto pessoalmente, seus cabelos negros e olhos castanhos, seios redondos e corpo bem definido.
— Para onde iremos? — perguntei.
— Conheço um bar ótimo. Fica perto daqui. — ela respondeu, conduzindo-me pelas ruas.
Enquanto andávamos, íamos conversando, falando sobre assuntos triviais. Caminhamos por alguns quarteirões e chegamos ao bar. Sentamos a uma mesa do lado de fora, sob o toldo. Ela pediu uma cerveja, eu, um suco de uva em lata.
Ficamos ali bebendo e conversando por um tempo. Era incrível como a conversa fluía, o nosso assunto nunca acabava. Ela me falava detalhes sobre sua faculdade de direito, eu falava sobre meu cotidiano. Aquele olhar me encantava, me senti muito sortudo por ter ela como minha companhia. O jeito como ela bebericava sua garrafa, o modo como passava as mãos nos cabelos, alisando-os um momento ou outro, a forma como ela sorria empolgada com nossa conversa.
De repente o céu fechou e começou a chover forte. A chuva nos obrigou a levantar e ocupar uma mesa dentro do bar. Ela pedia mais cervejas, eu, mais sucos. Ficamos ali até que a chuva amenizou, então fomos até a calçada, ela queria fumar. Acendeu um cigarro para nós dois, dei uns dois tragos e ela fumou o resto. Ao jogar a bituca fora, notei que aquele era o momento.
Peguei em sua cintura, me aproximei e beijei seus lábios. Ela respondeu permitindo aquele beijo, que foi mágico. Não sei quanto tempo durou aquele curto momento, mas foi surreal, eu fui até o céu e voltei. Ao terminarmos ela sorriu e nos abraçamos, nossos rostos encostados um no outro, ficamos assim durante um tempo, ouvindo o barulho da chuva que já ia acabando.
Voltamos para dentro do bar e terminamos nossas bebidas, pedimos a conta e fomos embora. O tempo passara muito rápido, olhei no relógio e vi que já eram duas da manhã. Andamos um pouco e concordamos que ambos estávamos com fome. Dei a idéia de um local para comer, e então foi minha vez de conduzi-la pelas ruas da cidade.
Chegamos a um trailer e pedimos nossos lanches. Sentamos em um ponto de ônibus que ficava ali perto e ali permanecemos, conversando e trocando beijos. Nosso lanche ficou pronto, comemos e continuamos sentados, vendo aquele pequeno movimento de fim de noite. Alguns carros passando pela rua, dessa vez indo para casa ou buscando um último divertimento para a madrugada.
Infelizmente chegou o momento de irmos embora. Levantamos e fomos caminhando pelas ruas, conversando, trocando carícias. Chegamos ao ponto de táxi e notamos que os pássaros já estavam cantando, o dia já começava a amanhecer. Demos nosso último beijo e ela acenou para o taxista. Ao entrar no carro ela disse, despedindo-se:
— Obrigada pelo passeio.
Fechou a porta do táxi e pela janela deu um de seus lindos sorrisos. Despedi com a mão e saí andando pelo o centro da cidade. Olhei no relógio e constatei que já eram seis horas da manhã. É fantástico como o tempo voa quando estamos vivendo momentos maravilhosos. Em meus pensamentos imaginava quando seria nosso próximo encontro.
Ao chegar em casa liguei o som baixinho e ouvi repetidas vezes a música Teus Sinais, da banda Strike, cuja letra dizia: “ainda me lembro bem, nós dois rindo a noite inteira, sem rumo e direção, perde o juízo e vem, quero que você me queira, se nada for em vão”. Era incrível como essa música traduzia para mim tudo que eu vivera naquela noite.
Para que esta história tenha um final feliz, preciso parar de escrever agora. Mas se você tem curiosidade de saber como realmente foi o fim, posso escrever mais um pouco.
Como na vida real não existem finais felizes, na semana seguinte ela não respondeu minhas mensagens como respondia normalmente, ficou ausente. Quando chegou o próximo sábado, ao convidá-la para sair novamente ela disse que não podia. Nossas conversas pela internet foram ficando cada vez mais escassas até que eu notei que ela não queria mais nada comigo, então paramos de conversar de vez. Nunca mais a vi, a não ser em minha memória, que vez ou outra me lembra daquela fantástica noite de sábado.
FIM