O tempo que temos

Janice, 35, começou seu relacionamento com Théo, 28, numa festa da empresa; eles trabalhavam em departamentos diferentes, e apesar de já terem se visto ocasionalmente pelos corredores, o pouco que haviam conversado tinha sido estritamente profissional. Agora era diferente, apesar de continuarem cercados por colegas de trabalho.

- Eu estou procurando um relacionamento - explicou ela, cautelosamente. - Mas não do tipo que requer exclusividade e juntar escovas de dentes.

- Um relacionamento aberto? - Indagou ele, interessado. - As duas partes podem procurar outros parceiros, sem ciúmes?

Janice riu.

- Bom, eu nem tinha pensado nessa possibilidade, até por absoluta falta de tempo. Aqui se trabalha muito, como você sabe, e meu foco é na carreira. Ter um relacionamento que me obrigue a ir para casa cedo e preparar o jantar, não está no meu projeto de vida. Nem agora, nem nunca.

- Mas a questão da exclusividade... - relembrou Théo.

- Eu tenho amigos, irmãos, sobrinhos, pais. Tento dar um pouco de atenção a todos, no meu tempo livre limitado. É aí que entra a minha proposta de relacionamento: você toparia ser meu ficante ou namorado, sei lá como se chama hoje, nos momentos que eu puder disponibilizar pra você?

- É uma proposta bastante... audaciosa, eu diria - avaliou o rapaz.

- Pensei que fosse dizer "indecente" - riu ela.

- Ainda não chegamos nesse nível - replicou Théo, lançando um olhar de apreciação sobre as formas torneadas de Janice. - Mas no que me diz respeito... estou dentro.

Tocaram os copos de bebida, num brinde.

- Ao nosso futuro - sugeriu ele.

- Ao presente, que afinal de contas, é tudo o que temos - redarguiu Janice sorridente.

- [06-03-2020]