Azul Perfeito: Chuva a Tarde
Gustavo esperou até que quase todos fossem embora para enfim poder sair. Ficou descendo as escadas parando em cada andar para se atrasar ao máximo e não ter possibilidade de ver Alessandra. Percebeu que chovia, por isso quando chegou ao primeiro andar já abriu seu desnecessariamente grande guarda-chuva e ia para a porta. Quando chegou, ficou surpreso ao ver Alessandra na saída esperando uma carona para poder ir embora, não havia como ele voltar para as escadas pois ela já havia notado sua presença.
Ela ficou o olhando até que ele ia passando por ela ignorando sua presença para não ter que conversarem:
- Gustavo, posso pegar carona com você? Estou sem guarda-chuva... - Ela diz assim que ele dá dois passos na frente dela. Ele se vira e apenas acena que sim porém naquele momento pensava "Não é possível que eu seja tão azarado".
- Nossa muito obrigada, eu pensei que você já tinha ido embora ainda bem que você ainda estava aqui na escola. - Comenta ela e a primeira coisa que ela faz após se abrigar dentro do guarda-chuva é cruzar seu braço direito com o esquerdo dele, de forma que andavam de braços cruzados. Gustavo tenta agir com naturalidade perto da situação (Embora seu coração tenha começado a bater mais forte assim que sentiu as mãos dela), porém seu corpo não estava respondendo perfeitamente pela adrenalina do momento. Ele apenas responde ainda com o corpo um tanto rígido:
- Eu fiquei conversando com o professor, por isso eu demorei. (Ele se justificou desnecessariamente)
- Que sorte que moramos perto, assim você me deixa perto na porta da minha casa e não precisa mudar sua rota. - Ela novamente comenta enquanto se desviam das poças de água e dos pingos de chuva.
Gustavo não pode deixar de perceber que no fundo gostou de estar na companhia dela, então ele não havia se livrado inteiramente do sentimento por ela e andar na chuva abraçados não ajudava em nada a se desapegar. Isso o levou a pensar várias vezes de quem é a culpa da paixão, seria daquele que atrai ou daquele que se permite ser atraído? Ou é um crime sem culpados com apenas vítimas?
Na verdade, Alessandra não era culpada por isso, ela não era culpada por ser carinhosa e por se preocupar com ele. E ele não pediu para se prender sentimentalmente a ela, na verdade ele fez de tudo para se livrar desse sentimento, então fazer o que agora? Dividir essa dor com Alessandra se declarando para ela (Com certeza ela o ia rejeitar), ou engolir seco esse sentimento e tentar esquece-lo (e sofrer muito em troca, afinal, você vai estar matando um amor)? Ser sincero nunca foi uma alternativa...
- Você não está sentindo frio Alessandra? Por que você não trouxe seu moletom? - Pergunta ele após sentir o corpo dela realmente frio, e tudo piora pois além da chuva havia muito vento gelado.
- Eu esqueci, pensei que ia fazer sol.
- Se quiser eu tenho minha blusa de frio aqui na minha mochila, você quer? - Pergunta ele
- Mas e você? Vai ficar sentindo frio?
- Na verdade para mim o clima está normal, meu corpo esquenta muito fácil andando. - Gustavo diz isso, porém na verdade sentia sim um pouco de frio.
- Se puder eu agradeço... - Aceita ela sem hesitar demais. Depois que ela vestiu a blusa de frio agradeceu.
Eles subiram o morro enfrentando uma chuva que vagarosamente terminava, de modo que a um certo ponto do percurso, perto do final, só restava o chão das ruas molhadas e as nuvens nubladas pelo céu.
Por razões aleatórias, eles estavam conversando sobre bebidas quentes e animais fofinhos, quando Alessandra se despediu indo para o portão de sua casa, entregou a blusa de frio (E Gustavo a vestiu no momento da devolução), agradeceu e então partiu.
Quando chegou em casa, Gustavo jogou sua mochila no sofá e logo deitou na cama, e sua blusa de frio emanava todo o cheiro de que Alessandra deixou impregnado ao usar mesmo que por pouco tempo.
Naquela tarde ele teve um sonho com ela, foi um sonho bom para variar.