Regras da casa

- Pete, eu não sou sua mãe - declarei, enquanto recolhia os jeans e as meias que ele largara na porta do banheiro.

- Oi querida, eu sei! - Gritou ele, para ser ouvido acima do chuveiro aberto. - Mas poderia pôr na máquina de lavar pra mim? Só vai te tomar um minuto!

Pensei em responder que o tempo transcorria de forma igual para nós dois, portanto ele poderia igualmente ter feito a tarefa. Suspirei, e recolhi a roupa. Minha paciência estava se esgotando.

Esperei que ele terminasse o banho e saísse com uma toalha enrolada na cintura.

- Camisa e cueca? - Indaguei, sobrolhos erguidos.

- Xi... acho que deixei no banheiro - replicou Pete, levando a mão à testa.

- Por favor - redargui, fazendo um gesto para a área de serviço e a máquina de lavar.

- Claro, querida, claro - redarguiu ele, erguendo as mãos como que pedindo desculpas.

Entrou no banheiro, pegou as peças de roupa e as jogou dentro da máquina.

- No cesto de roupa suja! - Gritei.

- Calma, querida, calma! - Replicou ele, corrigindo o erro.

Entrou no quarto - o meu quarto, já que ele estava na minha casa. Uma premonição me fez erguer do sofá e ir olhar o que ele estava fazendo.

- Pete! - Gritei a plenos pulmões.

Ele parou, de costas para mim, nu.

- Tire essa maldita toalha molhada de cima da minha cama!

- Ei querida... - começou ele a dizer.

- Agora! - Explodi.

Em silêncio, ele pegou a toalha e a levou para a área de serviço. Quando voltou, eu continuava de pé no mesmo lugar, braços cruzados.

- Pete, não vai dar - alertei.

- Não vai dar? - Repetiu ele estupefato.

- Essa é a terceira vez que você dorme aqui em casa, e toda vez é a mesma coisa: roupa espalhada no chão, louça suja na pia, toalha molhada na cama. Já falei, mas vou repetir: se você está procurando uma substituta pra tua mãe, essa pessoa não sou eu.

Ele apenas ouviu, aparentemente resignado.

- Está bem. Eu vou me vestir.

- Faça isso. E leve a roupa suja para lavar em casa.

Para deixar bem claro, ressaltei, dedo erguido:

- A SUA casa.

- [29-02-2020]