LÁGRIMAS INSUBMISSAS
Em menos de um mês, reencontro duas amigas de narrativas parecidas, e que até pouco tempo estavam em busca de respostas para o desafiante fim de suas histórias não inventadas de amor. Entre os acontecimentos e as dores, ficamos por meses distantes, seja pela rotina ou por aquela preguiça de explicações desnecessárias, quando se está comprometido por longos anos de amizade.
Da última vez que as vi, tive a impressão, ainda que adiantada, que o destino das amigas-personagens não seria diferente do meu e de tantas outras mulheres, que perseguem a liberdade, e quando a encontra não sabe o que fazer com ela. Passamos um tempo em poderoso recolhimento, costurando os acontecimentos, escrevendo um diário de sobrevivência, até que olhares e ouvidos adormecidos se voltem para outros horizontes, outras vozes.
Depois de toda trama exposta, minhas amigas se auto-nomearam. Não carregam mais sobrenomes, nem alianças; não se intimidam com a solitude, e resgatam seus finais em voz alta. “Custou-me muitas lágrimas viver na aparência”, me diz uma delas, sem, porém, nenhuma gota de incômoda aflição, como da última vez.
A cada página vencida, reencontro-as, não mais com seus espelhos encobertos, na recusa de verem e de serem vistas por um mundo de efervescências femininas, que tanto nos inspira, umas às outras, ao reinventar-se – não sem antes esgotar, acabar.