ESTADO TERMINAL
Elisa estava hospitalizada há três semanas. Seu estado de saúde tinha piorado muito. Ficara alguns dias na UTI e agora repousava em um quarto individual neste hospital onde já estivera internada outras vezes nos últimos dois anos.
O câncer de útero que descobrira há cerca de quatro anos e que parecia ter recrudescido com o tratamento, voltara com mais força e metástase; e a consumia em um torpor, um desânimo e uma dor que a faziam padecer e perder as esperanças.
Era inverno e da janela do quarto ela via o céu cinzento, a chuva intermitente e toda a natureza que parecia agoniada como ela. Bem perto da janela existia uma árvore que tinha perdido muito da folhagem e apresentava somente umas poucas folhas já meio sem cor mas que teimavam em resistir.
Seu marido, Vinicius, estava no quarto e lhe fazia companhia antes de voltar ao trabalho, aproveitava o horário de almoço. Sofria com ela que era sua companheira desde o término da faculdade. Agora ambos estavam na casa dos 30 anos e faziam planos para o futuro. Um filho estava no rol das coisas importantes a realizar.
Mas a fatalidade os alcançou ainda na juventude e ele penava tanto quanto ela. Procurava não demostrar mas o médico lhe dissera para se preparar para o pior.
Neste dia Elisa estava particularmente sem forças e sonolenta, efeito colateral da medicação contra a dor que a deixava nessa letargia. Olhou pela janela para a árvore que conseguia ver do leito e disse a Vinicius:
“Restam poucas folhas naquela árvore. Quando a última cair eu também irei embora.”
Vinicius tentou acalmá-la com palavras de afeto mas estas lhe soaram falsas. Se esforçava para não chorar em sua frente e mostrar confiança, com atitudes positivas.
Foi trabalhar e à tardinha voltou para passar a noite. Elisa parecia ter piorado. Tomou, então, uma decisão. Fechou a janela com a persiana, muniu-se de um arame fino e dirigiu-se à secretaria do hospital. Lá emprestou uma escada, subiu na árvore e amarrou aos galhos as hastes das poucas folhas que restavam na árvore. Quem sabe, nos dias subsequentes, Elisa, ao ver as folhas ainda presas à árvore, teria um alento para reagir.
Voltou ao quarto e dormiu confiante de que seu plano daria certo. No outro dia, ao abrir a janela, viu que as folhas ainda estavam lá. Alegrou-se e comentou com Elisa.
Porém, a partir do segundo dia as folhas começaram a fenecer; ficaram mais secas e escuras e, ao perderem o vigor, foram caindo, uma a uma. Ao secarem, suas pequenas hastes se tornaram mais delgadas e o arame não conseguiu retê-las.
No dia em que a última folha caiu, Elisa também se foi.
Elisa estava hospitalizada há três semanas. Seu estado de saúde tinha piorado muito. Ficara alguns dias na UTI e agora repousava em um quarto individual neste hospital onde já estivera internada outras vezes nos últimos dois anos.
O câncer de útero que descobrira há cerca de quatro anos e que parecia ter recrudescido com o tratamento, voltara com mais força e metástase; e a consumia em um torpor, um desânimo e uma dor que a faziam padecer e perder as esperanças.
Era inverno e da janela do quarto ela via o céu cinzento, a chuva intermitente e toda a natureza que parecia agoniada como ela. Bem perto da janela existia uma árvore que tinha perdido muito da folhagem e apresentava somente umas poucas folhas já meio sem cor mas que teimavam em resistir.
Seu marido, Vinicius, estava no quarto e lhe fazia companhia antes de voltar ao trabalho, aproveitava o horário de almoço. Sofria com ela que era sua companheira desde o término da faculdade. Agora ambos estavam na casa dos 30 anos e faziam planos para o futuro. Um filho estava no rol das coisas importantes a realizar.
Mas a fatalidade os alcançou ainda na juventude e ele penava tanto quanto ela. Procurava não demostrar mas o médico lhe dissera para se preparar para o pior.
Neste dia Elisa estava particularmente sem forças e sonolenta, efeito colateral da medicação contra a dor que a deixava nessa letargia. Olhou pela janela para a árvore que conseguia ver do leito e disse a Vinicius:
“Restam poucas folhas naquela árvore. Quando a última cair eu também irei embora.”
Vinicius tentou acalmá-la com palavras de afeto mas estas lhe soaram falsas. Se esforçava para não chorar em sua frente e mostrar confiança, com atitudes positivas.
Foi trabalhar e à tardinha voltou para passar a noite. Elisa parecia ter piorado. Tomou, então, uma decisão. Fechou a janela com a persiana, muniu-se de um arame fino e dirigiu-se à secretaria do hospital. Lá emprestou uma escada, subiu na árvore e amarrou aos galhos as hastes das poucas folhas que restavam na árvore. Quem sabe, nos dias subsequentes, Elisa, ao ver as folhas ainda presas à árvore, teria um alento para reagir.
Voltou ao quarto e dormiu confiante de que seu plano daria certo. No outro dia, ao abrir a janela, viu que as folhas ainda estavam lá. Alegrou-se e comentou com Elisa.
Porém, a partir do segundo dia as folhas começaram a fenecer; ficaram mais secas e escuras e, ao perderem o vigor, foram caindo, uma a uma. Ao secarem, suas pequenas hastes se tornaram mais delgadas e o arame não conseguiu retê-las.
No dia em que a última folha caiu, Elisa também se foi.