uma boa época para terminar tarefas antigas
Precisava andar um pouco. A ausência da ansiedade também me cansava, e a depressão tinha seu perigo próximo ao tédio, sendo também uma prima da preguiça. Quase dormia sentado, prestes a terminar um conto, quando me levantei, peguei o molho de chaves e saí, a fim também de conhecer os arredores.
Se eu subisse essa ladeira todos os dias, jamais precisaria de academia, pensei comigo mesmo enquanto tirava um cigarro da caixa. Admito ter suado um pouco. Ao chegar no topo, virei à esquerda seguindo na direção de uma praça. Acendi o cigarro e me sentei em um banco tentando buscar alguma atenção de um amigo pelo celular, ao mesmo tempo que fumava sem me preocupar com a distância entre uma lembrança e outra de anos atrás e do dia anterior. O quão depressa as coisas podem mudar em três anos? Quantas vezes você se apaixonou nesse mesmo período de tempo? Em seis anos, confesso ter me apaixonado somente duas vezes. E a segunda foi nesta cidade, cujo calor não me afeta e a garoa me cobre com beijos enciumados dos raios solares. Voar perto dos prédios ou pousar em Congonhas não me dava tão medo quanto conhecer esse sentimento, cúmplice de tantos crimes fatais contra a vida, atentados injustificáveis e frases de efeito em filmes que nos fazem sonhar uma vida perfeita. Como disse, muito tempo parado minha cabeça passa a buscar diferentes formas de distração, sendo uma delas a tristeza de meu ser. Na base da humilhação, sem precisar de álcool e um karaoquê. Lembranças e atuais inseguranças, como um veterano masoquista, o prazer era o maior possível. Os desejos de voltar a uma época passada, com sua tranquilidade em saber que tudo irá acabar e passar bem. O cigarro acabou e tirei os olhos do celular. Finalmente tive a atenção tão sonhada, com alguém que antes desses dez segundos de minha última tragada a minha confiança se despreocuava em mostrar tudo o que eu achei que demoraria a surgir.
Quisera ver o sol desaparecer em suas silhuetas, sem os prédios, e com todas as músicas que associamos um ao outro. Acendi outro cigarro, no que voltava para casa. Como ficaríamos? De que jeito eu reagiria ou teria de me comportar? Seria eu capaz de esconder tanta malícia carregada nas costas por três anos ao lado da pessoa que me fazia senti-la mesmo a quatrocentos quilômetros de distância? Os animais não parecem se importar, mas nós, os criadores da monogamia, sim. E não vejo mal nisso. No entanto, fui pego de surpresa com aquela declaração. Parecia ser o perfeito período para as desilusões. Um começo de ano terrível para os apaixonados. Sentindo-se assim, substituível como uma roupa velha que já não nos serve mais.
Esquinas, ruas, praças e vielas foram as linhas de nossa história, e agora, do mesmo jeito que os próprios lugares, nós mudamos conforme o tempo que nos deixou separados um do outro.
Vê-la pessoalmente, depois de todos esses anos, só me serviu para confirmar o quanto somente seu rosto seria capaz de foder com minha vida. Seus lábios poderiam me dar as mais tristes notíciais, que mesmo assim eu ainda a beijaria, apesar de não fazer ideia de qual seria o sentimento que eu passaria para ela. Agarrei as esperanças como uma prostituta, só que infelizmente não me falaram que eu não deveria acariciar suas bolas. A decepção tinha meu nome, CPF e endereço. E eu assinei a encomenda, visto que o carteiro só aceitaria assim, conforme as leis.
Precisava andar um pouco. A ausência da ansiedade também me cansava, e a depressão tinha seu perigo próximo ao tédio, sendo também uma prima da preguiça. Quase dormia sentado, prestes a terminar um conto, quando me levantei, peguei o molho de chaves e saí, a fim também de conhecer os arredores.
Se eu subisse essa ladeira todos os dias, jamais precisaria de academia, pensei comigo mesmo enquanto tirava um cigarro da caixa. Admito ter suado um pouco. Ao chegar no topo, virei à esquerda seguindo na direção de uma praça. Acendi o cigarro e me sentei em um banco tentando buscar alguma atenção de um amigo pelo celular, ao mesmo tempo que fumava sem me preocupar com a distância entre uma lembrança e outra de anos atrás e do dia anterior. O quão depressa as coisas podem mudar em três anos? Quantas vezes você se apaixonou nesse mesmo período de tempo? Em seis anos, confesso ter me apaixonado somente duas vezes. E a segunda foi nesta cidade, cujo calor não me afeta e a garoa me cobre com beijos enciumados dos raios solares. Voar perto dos prédios ou pousar em Congonhas não me dava tão medo quanto conhecer esse sentimento, cúmplice de tantos crimes fatais contra a vida, atentados injustificáveis e frases de efeito em filmes que nos fazem sonhar uma vida perfeita. Como disse, muito tempo parado minha cabeça passa a buscar diferentes formas de distração, sendo uma delas a tristeza de meu ser. Na base da humilhação, sem precisar de álcool e um karaoquê. Lembranças e atuais inseguranças, como um veterano masoquista, o prazer era o maior possível. Os desejos de voltar a uma época passada, com sua tranquilidade em saber que tudo irá acabar e passar bem. O cigarro acabou e tirei os olhos do celular. Finalmente tive a atenção tão sonhada, com alguém que antes desses dez segundos de minha última tragada a minha confiança se despreocuava em mostrar tudo o que eu achei que demoraria a surgir.
Quisera ver o sol desaparecer em suas silhuetas, sem os prédios, e com todas as músicas que associamos um ao outro. Acendi outro cigarro, no que voltava para casa. Como ficaríamos? De que jeito eu reagiria ou teria de me comportar? Seria eu capaz de esconder tanta malícia carregada nas costas por três anos ao lado da pessoa que me fazia senti-la mesmo a quatrocentos quilômetros de distância? Os animais não parecem se importar, mas nós, os criadores da monogamia, sim. E não vejo mal nisso. No entanto, fui pego de surpresa com aquela declaração. Parecia ser o perfeito período para as desilusões. Um começo de ano terrível para os apaixonados. Sentindo-se assim, substituível como uma roupa velha que já não nos serve mais.
Esquinas, ruas, praças e vielas foram as linhas de nossa história, e agora, do mesmo jeito que os próprios lugares, nós mudamos conforme o tempo que nos deixou separados um do outro.
Vê-la pessoalmente, depois de todos esses anos, só me serviu para confirmar o quanto somente seu rosto seria capaz de foder com minha vida. Seus lábios poderiam me dar as mais tristes notíciais, que mesmo assim eu ainda a beijaria, apesar de não fazer ideia de qual seria o sentimento que eu passaria para ela. Agarrei as esperanças como uma prostituta, só que infelizmente não me falaram que eu não deveria acariciar suas bolas. A decepção tinha meu nome, CPF e endereço. E eu assinei a encomenda, visto que o carteiro só aceitaria assim, conforme as leis.
luzes de amor brilham
tão rápido quanto a flecha
do cupido
direto ao coração.
taquicardia feito uma
bomba
que explode músicas
abandonadas
por uma geração inteira
cansada de sofrer
pelos mesmos sentimentos
um dia
tão bons
como o nascimento.
mas se soubéssemos que
assim seria,
teríamos desistido
de vir
a esse mundo.
tão rápido quanto a flecha
do cupido
direto ao coração.
taquicardia feito uma
bomba
que explode músicas
abandonadas
por uma geração inteira
cansada de sofrer
pelos mesmos sentimentos
um dia
tão bons
como o nascimento.
mas se soubéssemos que
assim seria,
teríamos desistido
de vir
a esse mundo.
Seus grandes olhos castanhos esverdeados eram minha ruína.
"Oi," ela me disse assim que me viu. E pude ver claramente suas saudades nas janelas que refletiam sua alma.
Minha resposta veio assim que a abracei, "Oi," eu disse. "Senti sua falta." Saindo como se fosse um Eu Te Amo, mas preso em minha garganta. O melhor método, o certo a fazer, seria soltá-lo por um beijo. Ela apertou meu cabelo de trás de minha cabeça, e nisso eu percebi que ela também sabia o mesmo que eu, e também queria o mesmo que eu.
Os anjos me levaram ao paraíso naquele instante. E no que ela me soltava, foi como se o próprio Anjo Gabriel tivesse aparecido, gozado na minha cara, e eu fosse jogado ao inferno para ter minha virgindade anal estuprada pela piroca do próprio Lúcifer. Por incrível que possa parecer, ela também tinha o formato de tridente e ainda pegava fogo, sem piedade alguma, como a mão vermelha direita de Deus, fazendo seu trabalho que tanto ama. A punição.
Éramos cinco neste círculo do inferno. Agitados, exasperados, enquanto o sofrimento caía todo em mim. Eles andavam e pulavam, dançavam, sorriam e gritavam devido a tanto barulho por perto. Fazia muito tempo que eu não ia a um parque de diversão, até porque sou velho demais por dentro. Os brinquedos, só de olhar, me davam ansiedade, mas felizmente sobrevivi, para novamente me humilhar em nervosas situações cujas decisões me dariam novas coisas para reclamar, e para escrever. O lado bom, além disso, era continuar a ver seu rosto, e me agarrar à esperança de amá-la do mesmo jeito que ela, repentinamente, segurava minhas mãos quando ninguém via. Eu andava atrás dos quatro. Um ao lado do outro, menos ao meu. E ela virava para trás. Às vezes sorria para mim, de um momento ao outro. Às vezes acariciava os dedos de minhas mãos com as suas. Às vezes me abraçava, me mostrava sua língua. E seus olhos brilhavam sempre.
Queria dizer que senti eletricidade, talvez um choque, nas vezes que ela segurou minhas mãos. Ao invés disso, fiquei confuso, perdido, e com um vazio em meu peito. Parecia que eu perdi algo que nunca tive, e tão distante quanto a lua para um jovem brasileiro apaixonado por astronomia.
Desse jeito fui embora. Dentro do carro lendo sobre vontades reprimidas e desejos sufocados por sentimentos não aproveitados. Jogados ao vento para se desfazerem na garoa que cobria esta cidade antes dela adormecer.
"Oi," ela me disse assim que me viu. E pude ver claramente suas saudades nas janelas que refletiam sua alma.
Minha resposta veio assim que a abracei, "Oi," eu disse. "Senti sua falta." Saindo como se fosse um Eu Te Amo, mas preso em minha garganta. O melhor método, o certo a fazer, seria soltá-lo por um beijo. Ela apertou meu cabelo de trás de minha cabeça, e nisso eu percebi que ela também sabia o mesmo que eu, e também queria o mesmo que eu.
Os anjos me levaram ao paraíso naquele instante. E no que ela me soltava, foi como se o próprio Anjo Gabriel tivesse aparecido, gozado na minha cara, e eu fosse jogado ao inferno para ter minha virgindade anal estuprada pela piroca do próprio Lúcifer. Por incrível que possa parecer, ela também tinha o formato de tridente e ainda pegava fogo, sem piedade alguma, como a mão vermelha direita de Deus, fazendo seu trabalho que tanto ama. A punição.
Éramos cinco neste círculo do inferno. Agitados, exasperados, enquanto o sofrimento caía todo em mim. Eles andavam e pulavam, dançavam, sorriam e gritavam devido a tanto barulho por perto. Fazia muito tempo que eu não ia a um parque de diversão, até porque sou velho demais por dentro. Os brinquedos, só de olhar, me davam ansiedade, mas felizmente sobrevivi, para novamente me humilhar em nervosas situações cujas decisões me dariam novas coisas para reclamar, e para escrever. O lado bom, além disso, era continuar a ver seu rosto, e me agarrar à esperança de amá-la do mesmo jeito que ela, repentinamente, segurava minhas mãos quando ninguém via. Eu andava atrás dos quatro. Um ao lado do outro, menos ao meu. E ela virava para trás. Às vezes sorria para mim, de um momento ao outro. Às vezes acariciava os dedos de minhas mãos com as suas. Às vezes me abraçava, me mostrava sua língua. E seus olhos brilhavam sempre.
Queria dizer que senti eletricidade, talvez um choque, nas vezes que ela segurou minhas mãos. Ao invés disso, fiquei confuso, perdido, e com um vazio em meu peito. Parecia que eu perdi algo que nunca tive, e tão distante quanto a lua para um jovem brasileiro apaixonado por astronomia.
Desse jeito fui embora. Dentro do carro lendo sobre vontades reprimidas e desejos sufocados por sentimentos não aproveitados. Jogados ao vento para se desfazerem na garoa que cobria esta cidade antes dela adormecer.