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A BONECA DE PORCELANA

 
 
O menino Toninho frequentava a 1ª série, numa escola muito perto de casa, juntamente com outros meninos e meninas, sem distinção de cor ou etnia.

A escola decorria com a lecionação de matérias, intervalos onde todos podiam correr e saltar, brincar uns com os outros.

Um dia, curiosos, verificaram a chegada de uma menina com pele muito branca, cabelo preto forte e comprido, de pequena estatura e modos delicados. Muito tímida, olhava os outros a medo.

Toninho reparou nela e logo ficou encantado com o modo de ser da pequenina figura. Sobretudo a pele, branca e muito fina, parecia mesmo de porcelana. A medo, tentou algumas palavras, para ver se ela lhe correspondia pelo menos com monossílabos. Inesperadamente recebeu um sorriso, que lhe iluminou o dia mais que o próprio sol. Sem saber porquê sentiu um bem-estar que mais tarde associou com a felicidade, embora fossem apenas laivos.

Aos poucos, nos intervalos, estabeleceu-se entre eles alguma cumplicidade, ficando então a saber que o pai era engenheiro e a mãe professora de línguas, tendo vindo para ali morar por razões profissionais.

Ela chamava-se India e esse nome ficou-lhe para sempre tatuado no coração…
Toninho sentia-se algo intimidado por ver nela modos e enquadramento num estrato social superior ao seu mas ela, com a sua simplicidade, cativava-o como o mar se sente cativado pela lua. Começou a adorá-la, a idolatrá-la. Achava que ela era uma deusa, decerto morava numa redoma, longe dos olhares dos vulgares humanos. Ah, e o seu sorriso, que o deixava sem chão… Como se fosse um adulto apaixonado, afinal era uma criança imberbe, ficou com o sono afetado, adormecia a pensar nela e acordava várias vezes imaginando que ela estava ali a velar pelo seu soninho.


O tempo foi passando e a proximidade cresceu ainda mais. Um dia em que caminhava para a saída da escola, pegou-lhe na mão, olhou-a apaixonado e deu-lhe um pequeno beijo na face. Ela corou muito, sorriu-lhe e deitou a correr para um carro que a aguardava.
Entretanto chegou o final do ano letivo, sua mãe adoecera e ficara de cama. Ele, por dever filial, ficou junto da progenitora durante alguns dias e distraidamente deixou passar a festa de final de atividades escolares.


Quando se lembrou e pôde sair de casa, correu para a escola, mas entretanto já tudo tinha acabado. Nunca mais a viu.

Tanto sonhou com essa menina de pele branca, essa India de nome e feições de boneca, que o tinha apaixonado para todo o sempre...

Adulto feito, vivido, ficou com essa gentil figura gravada eternamente no coração. Afinal, sempre sentira por ela um grande, um imenso amor, que nada nem ninguém conseguiu fazer esquecer.
 
 
 
 
Reedição








 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 12/01/2020
Código do texto: T6840131
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