FINAL EM NOVA YORK

Passava das três da manhã quando decidiu se levantar e tomar banho de hidromassagem, no fino banheiro do hotel na Quinta Avenida, em Nova York. Com o rosto ainda inchado pelo choro, prendeu o cabelo e entrou na água morna, esperando que ela a curasse de desamor. Viajara com mais dois casais de amigos para compras de fim de ano e para, enfim, assistir o musical O Fantasma da Ópera, em cartaz na Broadway há mais de 30 anos e parcelado em dez vezes no cartão de crédito.

No imaginário som do piano tocava “All I Ask Of You”, sua música desde os tempos que lecionava, moça, enamorada. A viagem foi promessa de casamento. Há vinte anos esperava para ser presenteada com os abraços quentes dele, durante o espetáculo, e com a renovação dos votos de uma vida sem medos e feridas. “Eu estou aqui, com você, ao seu lado pra te guardar e te guiar”, cantarolava entre soluços. “Deixe-me ser seu abrigo, deixe-me ser sua luz, você está segura”.

Ele dormia. A cidade e ela não. Depois do espetáculo, os amigos esticaram a noite juntos. Estavam felizes. Os dois se retiraram, sem justificar, a falta de jeito com a vida, com a própria solidão. Mergulhada no passado, lembrou-se que não precisava mais estar ali, no luxo de uma vida vazia e sem amor. A viagem foi o ponto final.