ORGULHO E TEIMOSIA

Alícia era uma bela jovem de muitos sonhos. Tinha um talento incrível para cantar, e era muito comunicativa. No cursinho pré-vestibular causava êxtase na rapaziada e inveja nas colegas de classe. A jovem, no entanto, era infeliz no amor. Não acreditava mais no amor, apesar de ser ainda tão nova. E o motivo dessa descrença era o exemplo de desunião de seus pais. Seu Lindomar e Dona Abigail não se bicavam. Ele, mulherengo incorrigível, já ela mandona, brigona e de temperamento genioso. Alícia não queria isso pra sua vida, amor pra ela era algo descartável. Ela sabia que era muito popular, sabia também dos seus atributos físicos, e usava isso a seu favor. Conseguia tudo o que queria com o seu jogo de sedução. Chegou até seduzir o professor Severo, de Matemática, para que ele passasse a ela todas as respostas da questões da prova.

Difícil essa menina! Gostava muito de "causar".

Alícia morava só com a mãe e seu filhinho Bryon, fruto de um relacionamento na adolescência. Alícia era uma mãe amorosa. Se lhe perguntassem o que era o amor pra ela, imediatamente dizia que era seu filho Bryon. Só vivia tirando fotografias com o pequeno para postar nas redes sociais. Quando Alícia sai com o filho, quem vê pensa se tratar de dois irmãos. Alícia diz pra todos com muito orgulho que Bryon é seu filho. " Este é o meu príncipe!", " Aqui está o homem da minha vida" são as frases que ela coloca como legenda nas fotos do filho na internet. O menino, de apenas 7 anos, ama ver a mãe cantando e tocando violão. Alícia era fã de música pop rock, também de Charme. Antes de ser mãe, ela costuma frequentar toda semana o baile Charme do Viaduto de Madureira. Foi lá que conheceu o pai de seu filho. O rapaz, ao saber que iria ser pai não quis assumir pois era casado. Ele trabalhava no bairro de Olaria, numa fábrica de alumínio. Mentia para a esposa dizendo que iria fazer serão, e ao sair do trabalho ia direto para o baile em Madureira.

Alícia descobriu que o seu namorado, um cara de 27 anos de idade, era casado. Depois de tanto " apertá-lo" ele confessou. " Ah! Então é por isso que você não quer assumir o nosso filho? Você é casado seu safado? Mas não vai ser assim não! "

Alícia foi grávida até à casa do canalha e fez o maior barraco! Alícia era bonitinha, jeito de anjo... Mas quando se enfezava parecia o capeta!

Não deixou barato, falou umas poucas e boas para o cara e a esposa dele, que o obrigou a assumir a paternidade da criança. Hoje, passados sete anos, Alícia é quem é mãe e pai de Bryon. O pai só fez registrar a criança e depois sumiu. Alícia chegou a procurá-lo na fábrica, mas disseram que ele se envolveu numa confusão com uma mulher de um bandido no Morro do Alemão e "passaram o cerol" nele.

Alícia ficou horrorizada!

Bryon só conhece o pai pela foto.

A mãe de Alícia vive dizendo que a filha precisa encontrar alguém, um homem de verdade que a assuma. Pois é complicado criar filho sozinha. Alícia ignora os conselhos da mãe. " Filha, preste atenção! Nem todos os homens são como o seu pai e como o Devanir. Eu não quero mais nenhum homem pra mim, mas você é nova! Você precisa se casar! ".

" Mãe, respeito muito a senhora mas estou bem sozinha cuidando do Bryon! Vou trabalhar e investir nos meus sonhos. O sonho de ser cantora, sonho de ver meu filho crescer com saúde."

Mas sozinha na cama, Alícia molha o travesseiro, chora baixinho para seu filho não ouvir no quarto dele.

Tantos sonhos, e um vazio... Uma vida apagada. Alícia não era feliz, podia enganar a todos mas não a si própria. O sorriso do filho era só um pontinho iluminado em meio à escuridão de sua vida.

Todos os elogios que recebia, toda a fortaleza que aparentava caía por terra quando o assunto era sua vida sentimental.

Poderia ter todos os homens que quisesse, mas não seria amada. Seria sim usada! Ela começou a brincar com os homens a partir do momento que foi decepcionada. Alícia, hoje, chora sozinha, nua, abraçada a um ursinho de pelúcia. Dentro de si, todos os sonhos do mundo, mas nenhuma luz no fim do túnel no que diz respeito à sua vida sentimental. Alícia não tinha o pensamento de mudar, parecia estar habituada a sofrer por amor. Maldito orgulho e teimosia! Orgulho de abrir a boca para dizer a todos que cria sozinha o filho, e teimosia em não acreditar que exista na face da terra homem que a ame de verdade.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 30/12/2019
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