MEMÓRIAS DE UMA ATRAÇÃO

Recordo-me com saudosismo de quando ao acaso do destino bati os olhos em você pela primeira vez, em um flerte instantâneo que se tornou atração avassaladora. Lembro que lentamente me aproximei, eu tentava disfarçar as emoções que sentia naquele momento, pois não queria deixar transparecer meu entusiasmo por ti. Afinal, apesar da minha idade e das muitas desventuras já vividas, aquela situação ainda causava em mim uma sensação de insegurança por não saber ao certo como seria nosso primeiro contato.

Eu naquela hora me enxergava como um adolescente, o nervosismo me consumia ao me aproximar de tua presença. Minhas mãos angustiadas e inquietas transpiravam, denunciando a minha apreensão juvenil. Era um sinal claro de toda eclosão de sentimentos que me arrebatava, meu coração fazia tum! ... tum! .... Num ritmo descompassado que acelerava em frenesi de batidas a cada novo passo que me levava a ficar mais perto de ti. Tum! ... tum! ... tum... tum! ... tum! ... TUM! ... TUM! ... TUM! ... TUM! ...

Uma das lembranças mais sublimes que tenho do nosso primeiro encontro foi quando delicadamente posicionei minhas mãos em teu rosto. Ah! E como era belo. Creio que essa ação foi uma tentativa de tentar te decifrar em suas minúcias, confesso que não sei se chegou a notar o meu olhar indiscreto, totalmente, desprovido de pudor que te devorava de cabo a rabo, à medida que se exibia para mim expondo tuas belas curvas, ao se deixar guiar pelo compasso das minhas mãos que te conduzia.

Senti-me naquele instante tão rude e invasivo por tais modos indiscretos, consoantes aos meus pensamentos depravados. Fico às vezes me questionando se essa seria a atitude mais adequada a um cavalheiro, mas será que trago comigo os predicados necessários para ser agraciado com essa honraria? O fato é que não posso negar que com esse olhar penetrante fui capaz de navegar nas águas mais obscuras de tua intimidade. Especialmente, pelo fato do quanto tua figura, que era repleta de encantos, fora capaz de cativar aos meus olhos que insistiam em devorar teu ser.

Posso afirmar que depois de tanta fascinação não medi esforços para estar contigo, como um casal que deseja usufruir de privacidade. Eu te queria do fundo da minha alma e talvez o desejo de possuir você tenha se sobressaído ao bom senso, assim não pensei duas vezes antes de seguir meus instintos enquanto te carregava rumo a minha casa.

Eu me encontrava entusiasmado e eufórico, muito porque consegui te levar comigo, após uma conversa cordial e bem-sucedida que até nem durou muito tempo, não mais do que poucos minutos, porém, o suficiente para conseguir te raptar consensualmente daquele estabelecimento para ser minha companhia. Ah! E como se esquecer daquele nosso primeiro momento a sós no banco do carro, eu ainda embebido pelo néctar advindo da expectativa em relação a ti. E ao agir mais por impulso do que pela razão, a medida que te tomava em meus braços, fazendo do meu peito o teu aconchego, inclinando minha cabeça em tua direção, ao mesmo tempo que me aproximava de você com os olhos fechados, prosseguindo nesse movimento até sentir o doce e inconfundível aroma do teu corpo que aflorava as minhas dopaminas.

Não houve diálogo propriamente dito, pois eu não ousava dizer nada, embora estivesse totalmente atento ao que me revelava em versos contidos, românticos e às vezes apimentados. Eu permanecia deslumbrado diante de tantas histórias e experiências, e, quem me condenaria por não poder dizer nada? Qualquer pessoa sensata perderia a voz só para se deleitar com a sapiência que me ofertava nas palavras que transmitia, decerto seria heresia interromper.

Por um instante, consegui te silenciar, ainda que, por um breve momento, enquanto te dava outro cheiro no cangote. E assim segui me deliciando com teus gracejos por um longo período.

O tempo passou sem que eu percebesse e quando me dei conta já estávamos juntos na cama, não me interessava pensar no porquê de chegarmos a esse ponto, e sim, no sentimento que me levou a querer fugir da realidade que nos cercava, pois, o que me importava era tua presença junto a mim. Eu me perdia na contemplação de tua figura esplêndida em meu leito, em postura serena no aconchego dos meus braços em posição de submissão aos meus desejos mais ocultos. E, naquele momento, carinhosamente, eu passava minha mão saliente em teu corpo esguio e cálido.

E depois de tantos cheiros e carícias veio o beijo roubado, nosso primeiro beijo acompanhado da minha mão boba e despudorada que insistia em acariciar teu corpo, que retribuía de forma espontânea ao abrir suas partes mais íntimas para aconchegar de maneira acolhedora o meu dedo, enquanto revelava teus segredos mais indiscretos. Por vezes era necessário levá-lo a minha boca para lubrificá-lo antes de retornar as tuas partes, que correspondia na mesma proporção o cuidado tomado. A saliva facilitava a simbiose do meu dedo com teu corpo, contrapondo-se a minha outra mão que te amparava para que não caísse na tentação de fugir de mim.

Assim permanecemos por toda a noite na minha cama, que se fez nosso leito de segredos, ao passo que interagíamos em plenitude, no incansável rito do meu dedo com teu corpo. Por fim no ápice que precedia o gozo que me proporcionava, ao se abrir dividindo tuas partes em ângulo que beirava 180°, em que gradativamente era preenchido o espaço entre elas pelas minhas mãos que se aproveitavam da oportunidade para apalpá-las, ao mesmo tempo em que eu ia trazendo delicadamente o teu corpo arreganhado em direção ao meu tórax, no intuito de encaixá-lo ao meu corpo que transbordava de satisfação que não se media.

Teu corpo ainda aberto interligado ao meu foi o auge para consagrar a nossa história de amor, que começou por ação fortuita que não se explica dentro das razões humanas. Nossos corpos ainda estavam entrelaçados, quando carinhosamente te submeti a uma última posição, em que te afastava do meu peito à medida que fechava tuas partes desnudas e expostas com minhas duas mãos trabalhando para posicionar você de tal forma que conseguia ver tuas costas, que revelava a tua essência gravada em teu dorso espinhal, numa posição totalmente submissa que me permitia vislumbrar toda a beleza do teu corpo, enquanto te posicionava diante de mim em direção à cabeceira da minha cama, numa prateleira suspensa, após nossos derradeiros versos, ao lado dos meus outros livros que me proporcionaram o mesmo prazer.