Mais uma folha de um caderno velho foi arrancada, que também iria para o pequeno fogo que aquele homem usava para esfregar as mãos e esquentar uma lata. Um vento forte sobrou e a folha foi levada. Ela atravessou o banco de cimento que ficava ali próximo, passou por troncos de árvores, esfregou-se no chafariz com dois anjos cuspindo água, arrastou-se um pouco pela grama aparada, subiu um pequeno canteiro, saiu embolando-se nos paralelepípedos que formavam o chão, passou pelas pernas do vulto que vinha em sentido contrário e se perdeu no início daquela noite.
O vulto continuou seu caminho indo em direção ao banco. Pisava, e o salto alto que usava estremecia cada vez que tocava o solo. O vento passou pelo vulto e seu vestido ondulou. Os ombros estavam caídos e seu corpo pendido para frente. Apertava uma caneta forte com as mãos, bolsa bem presa ao lado do corpo e o rosto borrado de maquiagem.
De cabeça baixa, não olhava para as pessoas que passavam por ela. Um casal topou com seu ombro, ela não demonstrou reação, continuou andando até o banco e sentou-se.
O homem próximo, de cócoras, rosto e roupas sujas, continuava arrancando folhas do caderno e jogando no fogo. A mulher tirou da bolsa uma folha, com a descrição: “Cartório da 14ª região. Registro de separação sem comunhão de bens”. No rodapé duas assinaturas, a dela, Elisa Valente da Costa e a dele, Luiz Augusto Valente da Costa.
Elisa mexeu um pouco mais na bolsa e encontrou uma foto em preto e branco. Ela, bem mais jovem, entrelaçada nos braços dele, ao fundo uma praia. Virou a foto e passou os dedos pelas letras quase apagadas: “Nossa lua-de-mel, Janeiro de 82”.
Lágrimas escorriam. O preto que estava em seus olhos deixava manchas escuras em suas bochechas.
Passou as mãos trêmulas pelo cabelo desalinhado, pegou novamente na folha do cartório e riscou seu nome até cobri-lo completamente e o local se rasgar pela força. Elisa sussurrou, enquanto salivava: “maldito”.
Mexendo novamente na bolsa, encontrou um envelope, tirou de lá fotos em que Luiz Augusto aparecia em vários locais com uma mulher jovem. Em algumas eles se beijavam, em outras somente estavam abraçados. Elisa riscou o rosto da mulher em todas as fotos.
Cobriu o estômago com as mãos, inclinando-se para frente. Com o corpo trêmulo, tossia e cuspia saliva de sua boca. Ficou naquela posição por longos minutos, ate que levantou o rosto. Próximo dali o homem jogou no fogo a última folha de caderno, pegou uma colher e mexeu na lata. Finalmente olhou para Elisa.
Elisa suspirou alto, alisou o cabelo, passou as mãos pelo corpo, colocou a folha do cartório e as fotos dentro da bolsa. As costas de suas mãos ficaram sujas de preto quando as passou pelo rosto para enxugar as lagrimas.
Estendeu o braço esquerdo e viu o anel de ouro. Começou a esfregá-lo no dedo, depois rodá-lo freneticamente. O homem foi se aproximando e apontou para ela com a colher:
- A dona tem trocado?
Elisa retirou o anel e jogou para ele:
- Não vou precisar mais disso.
O vulto continuou seu caminho indo em direção ao banco. Pisava, e o salto alto que usava estremecia cada vez que tocava o solo. O vento passou pelo vulto e seu vestido ondulou. Os ombros estavam caídos e seu corpo pendido para frente. Apertava uma caneta forte com as mãos, bolsa bem presa ao lado do corpo e o rosto borrado de maquiagem.
De cabeça baixa, não olhava para as pessoas que passavam por ela. Um casal topou com seu ombro, ela não demonstrou reação, continuou andando até o banco e sentou-se.
O homem próximo, de cócoras, rosto e roupas sujas, continuava arrancando folhas do caderno e jogando no fogo. A mulher tirou da bolsa uma folha, com a descrição: “Cartório da 14ª região. Registro de separação sem comunhão de bens”. No rodapé duas assinaturas, a dela, Elisa Valente da Costa e a dele, Luiz Augusto Valente da Costa.
Elisa mexeu um pouco mais na bolsa e encontrou uma foto em preto e branco. Ela, bem mais jovem, entrelaçada nos braços dele, ao fundo uma praia. Virou a foto e passou os dedos pelas letras quase apagadas: “Nossa lua-de-mel, Janeiro de 82”.
Lágrimas escorriam. O preto que estava em seus olhos deixava manchas escuras em suas bochechas.
Passou as mãos trêmulas pelo cabelo desalinhado, pegou novamente na folha do cartório e riscou seu nome até cobri-lo completamente e o local se rasgar pela força. Elisa sussurrou, enquanto salivava: “maldito”.
Mexendo novamente na bolsa, encontrou um envelope, tirou de lá fotos em que Luiz Augusto aparecia em vários locais com uma mulher jovem. Em algumas eles se beijavam, em outras somente estavam abraçados. Elisa riscou o rosto da mulher em todas as fotos.
Cobriu o estômago com as mãos, inclinando-se para frente. Com o corpo trêmulo, tossia e cuspia saliva de sua boca. Ficou naquela posição por longos minutos, ate que levantou o rosto. Próximo dali o homem jogou no fogo a última folha de caderno, pegou uma colher e mexeu na lata. Finalmente olhou para Elisa.
Elisa suspirou alto, alisou o cabelo, passou as mãos pelo corpo, colocou a folha do cartório e as fotos dentro da bolsa. As costas de suas mãos ficaram sujas de preto quando as passou pelo rosto para enxugar as lagrimas.
Estendeu o braço esquerdo e viu o anel de ouro. Começou a esfregá-lo no dedo, depois rodá-lo freneticamente. O homem foi se aproximando e apontou para ela com a colher:
- A dona tem trocado?
Elisa retirou o anel e jogou para ele:
- Não vou precisar mais disso.