Cara Preta...

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(Deus escolheu as coisas humildes e desprezadas

do mundo. Coríntios 1:28-29)

Eu a encontrei, um dia, contando estrelas. Caminhamos lado a lado, sem nada dizer. Conferi seu corpinho franzino, por tantos renegados. Grandes olhos de jade e uma fina calda comprida.

Linda!

Ela me olhou incisiva, o meu rosto inteiro. Conversou e compreendeu-me na linguagem mais dura que existe, que é a fome. Alimentei seus músculos, seus pelos macios e os nossos corações.

E foi então que me dei conta de que a nossa dor era comum. Nossa penúria era compartilhada.

Minha ambição era levá-la comigo. Apeguei-me a ela e o amor costurou-se entre nós.

Eu me abeirava de sua densa suavidade, de sua cara preta de batalha e ela se aninhava ao meu lado, como uma cria.

Ia e vinha de minha vida, descalça e liberta. Chegava mansamente, sempre pressentida e faminta e saia flutuante e muda.

Sua liberdade me doía.

Um dia, não mais regressou. Esperei, esperei, com as mãos apertadas, o soluço doído e o coração partido. É duro esquecer um grande amor.

MIRAH
Enviado por MIRAH em 18/11/2019
Reeditado em 01/12/2019
Código do texto: T6798139
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