Superação
O bem supera o mal, está acima dele. Mesmo que o mal ainda permaneça no seio da humanidade, ainda não tenha sido superado – ele será aniquilado na vida espiritual, para sempre.
Felizmente há pessoas de boa índole, solidárias. São raras, mas existem.
Maria Helena faz parte desse grupo, de bom coração. Pessoa humilde, tinha uma amiga, a Adalgisa. Há bom tempo se conheciam, quase 40 anos.
Conhecemos, de fato, quem é (ou não) amigo naquelas ocasiões difíceis, complicadas – e em situações quase impossíveis.
Adalgisa também era humilde – humilde no sentido de não ser egoísta, autossuficiente, arrogante. Possuía uma coisa fundamental: o discernimento. Que virtude grandiosa esta.
Adalgisa adoeceu. E doença grave: leucemia. Teria de passar por uma cirurgia de risco, o transplante de medula, desde que encontrasse um doador.
Ao saber do problema, Maria Helena sentiu profundamente no coração a cruz a ser carregada pela amiga. Mas apenas sentir compaixão, pena, piedade, não é suficiente – e nunca será.
---- Adalgisa, tenho fé em Deus. Tudo é possível ao que crê. Estou contigo nessa dura empreitada – ela a animou.
---- Muitíssima obrigada, Helena. Só por teres me dado essa força, me encorajado, já é um passo importante para a cura. Veja, tenho de encontrar alguém com compatibilidade genética que me doe a medula – e ficar curada da leucemia.
Maria Helena lagrimou. Se conteve. Adalgisa também chorou. Chorou um pouco mais.
----- Precisamos ser forte, lutar, não desistir. Não, essa palavra (desistir) está excluída do meu dicionário – esse o encorajamento dado por Maria Helena.
Ela prosseguiu: –---- Adalgisa, vou te dizer uma coisa: Tenho certeza que eu tenho essa compatibilidade. Faremos os exames. E irei te doar a medula.
O teste foi feito. Eis que não havia problema algum de incompatibilidade. A cirurgia ocorreu normalmente.
Hoje, Adalgisa goza de ótima saúde, física, mental e espiritual. As duas, a partir daí, decidiram fazer alguma coisa para ajudar os necessitados, aqueles deserdados materialmente que foram atirados nas sarjetas da vida.
Criaram um espaço onde dão acolhida a moradores de rua, a maioria dependentes químicos. São verdadeiros párias esses cidadãos e cidadãs.
Uma tarefa complicada, pois precisam de muito apoio para alimentar esses desvalidos e desvalidas.
Sim, é um número reduzido de atendimento. As condições materiais não permitem ajudar mais. Adalgisa, conversando com uma moradora de rua, quis saber como ela veio parar na rua.
A mulher disse-lhe: ---- Aos 15 anos passei a consumir droga, maconha. Me descontrolei, emocionalmente. Tempos depois, já com 18 anos, me desentendi com uma colega, também dependente – e a assassinei. A matei com um golpe de faca, no coração.
Estávamos drogadas.
–-- Que terrível isso… E daí?
----- Sim, amiga, é horrível conviver com esse pesadelo, de assassinar alguém, tirar uma vida. Até hoje aquela cena me vem à cabeça. Fui presa e condenada. Fiquei no presídio quase nove anos. Saí, fui morar na rua. Ainda bem que agora fui resgatada. Estou arrependida do que fiz – disse a mulher.
---- Qual o teu nome e tua idade? Adalgisa perguntou.
----- Sheyla. Tenho 32 anos.
Adalgisa pegou uma bíblia e leu para Sheyla uma passagem. Este é o trecho: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”.
A mulher de rua gostou daquelas palavras. Disse: –--- Como é excelente a bondade de Deus.
As duas se despediram. Sheyla não esqueceu mais o Salmo.
Sentou-se e começou a conversar com Deus, pedindo a Ele ajuda, que a guiasse em seu dia a dia. Conseguiu uma bíblia, passou a lê-la, a lia todos os dias.
Foi uma maneira dela crescer, moral e espiritualmente. Quando havia oportunidade, lia trechos da Palavra a amigos e amigas.
Tanto Helena como Adalgisa se prontificaram a ajudar na pregação. Numa manhã, Sheyla teve uma visão: a colega que havia assassinado apareceu-lhe.
Tinha à mão uma rosa vermelha. Pediu então a Sheyla que permanecesse pregando Deus. Assim, seria perdoada daquele crime horrendo, tirar a vida do semelhante.
Ela está fazendo isso, até hoje. E tem a participação de Helena, Adalgisa e outros que aderiram à causa.
O bem precisa superar o mal, embora seja missão de todos fazer sua parte. Há muita maldade nos quatro cantos da Terra: exploração do homem pelo homem. Crianças e adultos morrendo de fome, de doenças, guerras acabando com a vida de milhares de inocentes.
Ricos se deleitando no luxo, nas luxúrias, nos prazeres. Prostituição, drogas e homicídios. Mas Helena, Adalgisa, Sheyla e outros estão fazendo alguma coisa para melhorar o mundo.
Veja que bela citação: “Se você não pode fazer tudo, faça tudo o que você puder”. Restam esperanças de um mundo menos injusto.