Amor Incondicional

Quem será capaz de desvendar os mistérios da paixão? Quem poderá compreender os segredos da alma que faz do amor uma decisão, incompreensível, imensurável, inexorável, indescritível?

Mas uma vez ela decidiu sair pela mesma porta que a viu entrar. Já não era um caso de amor e traição. As más línguas já não murmuravam. As atitudes de Sandra não causavam mais nenhum impacto nas pessoas, afinal, ela sempre voltava. Uma hora ela voltaria, e na volta sabia que seria novamente aceita. Todos sabiam, só não compreendiam o que fazia com que Matheus a recebesse.

Ele a amava incondicionalmente. Um amor capaz de conviver com a infidelidade, e transcender a racionalidade que exige exclusividade. Ela talvez desejasse ser livre, não era do tipo de mulher que se limitava a apenas uma cama, uma boca, um corpo. Ele no entanto não se importava com as necessidades dela, desde que a tivesse ali, ao seu lado.

Não ia contra seus adversários, nem as escolhas dela. A ausência que sentia era de dar pena. Uma angústia aterrorizante invadia seu coração, a insônia dormia ao seu lado, os dias se tornavam cinza e as coisas perdiam a razão de ser. Não existia um depois sem ela. Ela era a razão, o motivo, o por quê, a vida, a luz, o ar, a água, ela era tudo.

Caminhava pelas ruas com os olhos no asfalto, pensamento no vazio, não ouvia os barulhos regulares das manhãs de domingo. As pessoas apressadas a caminho do mercado a fim de providenciar o almoço com a família. Os dias eram estranhos sem ela. Entrou num restaurante conhecido e pediu a moça do balcão uma "marmitex" que já sabia o valor.

_ É pra já!

Respondeu a mulher. Ele permaneceu em silêncio. Tirou a carteira e não se incomodou de trocar uma nota de 100.

_ E Sandra, como está?

Ouviu uma voz familiar do outro lado do balcão. A aflição veio como um tiro contra o peito, o impacto o fez perder o ar e a respiração parar.

Após uma breve pausa, sairiam as palavras que respondiam o questionamento inocente e o conduzia a relembrar o calvário que vivenciava:

_ Ah, eu não estou mais com a Sandra. Ela saiu de casa... Tá morando com... o Beto.

A mulher engoliu seco, enquanto ouvia as palavras dolorosas que saiam quase que arrastadas da boca do homem triste. Em seguida, chega a atendente com a marmita pronta e embalada, ele estende a mão e lhe oferece o valor.

_ Matheus, desculpe... Eu não sabia, não perguntei por mal. Sinto muito...

_ Não precisa se desculpar... tudo bem.

Respondeu interrompendo-a, enquanto recolhia o troco sem fazer conferência.

_ Até mais.

_ Até.

Passos largos o levaram até o veículo. Ajeitou a marmita no banco do carona e repousou a cabeça para trás por um breve instante, enchendo o os pulmões e expirando vagarosamente, procurando as forças que tinha perdido.

Lágrimas o acompanharam na volta para casa. Ao chegar, sentou-se na soleira da porta e olhou o horizonte, imaginando o dia em que a veria novamente, ali nos portões. Atravessaria mais uma vez aquela porta, e se diria arrependida, sentiria seu abraço e lhe daria mais uma vez o perdão. Perdão que devolveria sua alegria, e o faria feliz até o momento em que ela decidisse partir, mais uma vez.