AMAR ALGUÉM
Lúcia olhou de novo o dorso nu de Carlos, depois seus dedos acariciaram-lhe os ombros, muito devagar, com cuidado para não o acordar. Sim, amava-o, amava-o muito, cada vez mais.
Desde que se tinham conhecido, nunca houvera uma discussão, mostrara-se sempre amável com ela e fazendo-lhe sempre as vontades. As surpresas eram frequentes, com gestos de grande doçura. Não podia lamentar-se da vida, comparando este com os seus relacionamentos anteriores, homens que inicialmente a atraíram, mas depois se revelaram boçais e egoístas. Um inclusive quase a agrediu, mas ela sempre foi de fibra e mostrou-lhe que não tinha medo. Depois ficou vacinada, passou a ter redobrados cuidados com quem lhe era apresentado. Carlos era diferente, conhecia-o de vista há alguns anos, morava na mesma rua, alguns prédios ao lado, e ao fim de algum tempo estranhou que alguém assim tão atraente vivesse sozinho. Até pensou besteira, mas depois soube que a razão do seu recolhimento nada tinha de sexual, era devido a um relacionamento malsucedido e que o mergulhara em profunda tristeza.
Enternecia-se sempre que meditava sobre estas circunstâncias, ela que sempre pensara serem as mulheres os únicos seres a sofrer por amor…
Um acontecimento fortuito aproximara-os, a idosa vizinha do andar de cima adoecera gravemente e sem família e sem recursos para além de uma magra aposentadoria, restava-lhe a solidariedade das pessoas que a conheciam.
Carlos foi uma dessas pessoas, soube por vizinhos que ele se tinha oferecido para comprar os medicamentos, caros e essenciais para seu tratamento. Outros, tal como ela, também se solidarizaram, ajudando como podiam, mas apesar de tudo a doença acabou por a levar. Quotizaram-se para lhe pagar o funeral e foi no velório que ela falou com Carlos pela primeira vez. Após o funeral, esteve algum tempo sem o ver. Sabia que ele era empregado bancário e vivia sem família por perto. Gostava de independência.
Ela trabalhava no ramo dos seguros e também não tinha problemas económicos. Há algum tempo que vivia sem companhia, as frustrações afinaram-lhe a conduta, deixara de ser presa fácil para aventureiros.
Um dia, encontraram-se na bilheteira de um cinema, foram ver o mesmo filme e ele, timidamente, convidou-a para depois tomarem um café. Ela vacilou um pouco, mas o seu ar de cachorro abandonado tocou-a e aceitou. Conversaram, perdendo-se no tempo. Quando deram por isso, já tinha passado da meia-noite.
Cortesmente, acompanhou-a até casa, despedindo-se com um aperto de mão. Ela teria pedido um beijo na face, seu coração bateu forte quando subiu as escadas até ao seu patamar.
A partir daí, ansiou sempre pelo telefonema dele e era um dia feliz sempre que se encontravam.
Algumas semanas depois ela recebeu-o em casa, cozinhou peixe assado no forno para ele e embora correndo o risco de mais uma desilusão, entregou-se de forma apaixonada. Ele suplantou as expetativas. Ambos conhecendo-se progressivamente, concluiu que desta vez se sentia a amar apaixonadamente. Ele também a amava, dava-lhe provas disso.
Agora, nesse final de tarde de sábado, na sua cama e quando o olhava dormindo após terem feito amor, agradecia a Deus por o ter conhecido. Amava profundamente alguém, e esse alguém a merecia. E por isso se sentia feliz. Finalmente.
Recebi da gentil poetisa Raquel Ordones esta tocante poema, que reproduzo com agrado. Obrigado pela amizade, amiga de Uberlândia.
Desde que se tinham conhecido, nunca houvera uma discussão, mostrara-se sempre amável com ela e fazendo-lhe sempre as vontades. As surpresas eram frequentes, com gestos de grande doçura. Não podia lamentar-se da vida, comparando este com os seus relacionamentos anteriores, homens que inicialmente a atraíram, mas depois se revelaram boçais e egoístas. Um inclusive quase a agrediu, mas ela sempre foi de fibra e mostrou-lhe que não tinha medo. Depois ficou vacinada, passou a ter redobrados cuidados com quem lhe era apresentado. Carlos era diferente, conhecia-o de vista há alguns anos, morava na mesma rua, alguns prédios ao lado, e ao fim de algum tempo estranhou que alguém assim tão atraente vivesse sozinho. Até pensou besteira, mas depois soube que a razão do seu recolhimento nada tinha de sexual, era devido a um relacionamento malsucedido e que o mergulhara em profunda tristeza.
Enternecia-se sempre que meditava sobre estas circunstâncias, ela que sempre pensara serem as mulheres os únicos seres a sofrer por amor…
Um acontecimento fortuito aproximara-os, a idosa vizinha do andar de cima adoecera gravemente e sem família e sem recursos para além de uma magra aposentadoria, restava-lhe a solidariedade das pessoas que a conheciam.
Carlos foi uma dessas pessoas, soube por vizinhos que ele se tinha oferecido para comprar os medicamentos, caros e essenciais para seu tratamento. Outros, tal como ela, também se solidarizaram, ajudando como podiam, mas apesar de tudo a doença acabou por a levar. Quotizaram-se para lhe pagar o funeral e foi no velório que ela falou com Carlos pela primeira vez. Após o funeral, esteve algum tempo sem o ver. Sabia que ele era empregado bancário e vivia sem família por perto. Gostava de independência.
Ela trabalhava no ramo dos seguros e também não tinha problemas económicos. Há algum tempo que vivia sem companhia, as frustrações afinaram-lhe a conduta, deixara de ser presa fácil para aventureiros.
Um dia, encontraram-se na bilheteira de um cinema, foram ver o mesmo filme e ele, timidamente, convidou-a para depois tomarem um café. Ela vacilou um pouco, mas o seu ar de cachorro abandonado tocou-a e aceitou. Conversaram, perdendo-se no tempo. Quando deram por isso, já tinha passado da meia-noite.
Cortesmente, acompanhou-a até casa, despedindo-se com um aperto de mão. Ela teria pedido um beijo na face, seu coração bateu forte quando subiu as escadas até ao seu patamar.
A partir daí, ansiou sempre pelo telefonema dele e era um dia feliz sempre que se encontravam.
Algumas semanas depois ela recebeu-o em casa, cozinhou peixe assado no forno para ele e embora correndo o risco de mais uma desilusão, entregou-se de forma apaixonada. Ele suplantou as expetativas. Ambos conhecendo-se progressivamente, concluiu que desta vez se sentia a amar apaixonadamente. Ele também a amava, dava-lhe provas disso.
Agora, nesse final de tarde de sábado, na sua cama e quando o olhava dormindo após terem feito amor, agradecia a Deus por o ter conhecido. Amava profundamente alguém, e esse alguém a merecia. E por isso se sentia feliz. Finalmente.
Recebi da gentil poetisa Raquel Ordones esta tocante poema, que reproduzo com agrado. Obrigado pela amizade, amiga de Uberlândia.
A melhor coisa que há: amar.
Deixa a gente meio potente,
Com coração mais quente,
A singeleza do viajar,
Numa simples pena voar.
O ser sempre se acalma,
E o peito bate palma,
É algo que arde sem se ver,
É a delicia pra se viver,
É a máxima de uma alma...
Deixa a gente meio potente,
Com coração mais quente,
A singeleza do viajar,
Numa simples pena voar.
O ser sempre se acalma,
E o peito bate palma,
É algo que arde sem se ver,
É a delicia pra se viver,
É a máxima de uma alma...